N o t Y o u r B i t c h

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[N ã o S o u S u a V a d i a]

THEN

"Sentia dentro de mim a fúria de Miguel, ele estava voltando com uma força relutante. A última coisa que vi foi Castiel ser golpeado diversas vezes. Meu corpo amoleceu, meus olhos não atendiam à minha necessidade de me manter acordado, e meu consciente foi engolido pela escuridão."  


 "— Katherine? Sam? — uma voz fraca atrás de nós chamou a atenção, apesar de estar tão baixa, que quase pareceu um sussurro. 

 — Natanael? 

— Os demônios de Crowley me trouxeram pra cá...  Eles fizeram parecer que eu estava atrás das Graças, só para atraí-los. — encarei Sam — É uma armadilha, Katherine."

NOW

Caza Grande, AZ — 21h23

— Acha que ele vai acordar? — perguntei tirando os olhos alguns instantes da pista para olhar Dean desacordado no banco de trás. Minhas mãos estavam rígidas no volante, e meu pé fundo no acelerador, mas era inevitável não me desconcentrar com aquela tensão dentro do carro.

— Saberemos quando isso acontecer. — Natanael dizia se ajeitando no banco, procurando uma posição em que nenhum dos cortes e queimaduras o incomodasse — Tecnicamente... há grandes chances, sabe? — grunhiu ao possivelmente sentir alguma dor — Ele ainda tem pulsação, e...

— Cala a boca, já respondeu a pergunta. — senti o modo como ele me encarou; estava sentado ao meu lado naquele momento, mas ainda era o principal suspeito de ter matado meu irmão.

      Meu olhar no retrovisor encontrou o de Sam, que me encarava de um jeito inexplicavelmente torturante. Eu amaldiçoava aquele silêncio perturbador mentalmente. Odiava o silêncio, principalmente daqueles que  todos sabíamos que algo precisava ser dito, mas esperávamos a hora adequada de dizer. Aquela era a hora de dizer.

      Minhas memórias retornavam ao momento em que vi o clarão me alcançar na tubulação enquanto tentava fugir. Demorei para compreender que o plano de Natanael era acionar o sigilo assim que notasse que Miguel estava voltando, desse modo, o anjo iria embora, e a casca ficaria. Genial, porém arriscado. Dean agora estava num estado indeterminado entre a vida e a morte no banco de trás do carro que ele costumava dirigir.

      Há quase 100 km/h, não demorou para que eu notasse a faixada do Banner Health Medical Center. Diminuí a velocidade, e freei bruscamente na entrada principal. Peguei no porta-luvas alguns documentos falsos que os Winchester guardavam. Sam saiu do carro caminhando depressa — era possível ouvir de longe o som dos seus passos —,   pedindo ajuda à alguns seguranças e enfermeiros na entrada. Fomos assaltados e agredidos, era a desculpa. A mais idiota que eu havia inventado desde que fui pega furtando uma loja de bebidas. Mas as contas que tínhamos à pagar no mundo sobrenatural era cara o suficiente para escolhermos recorrer à humanos.

       Os enfermeiros correram trazendo duas macas, e Natanael pareceu ainda mais debilitado. Saí do carro carregando tudo o que precisava para parecer que éramos pessoas normais — documentos, cartões de crédito, habilitação — e corri para a recepção na mesma velocidade com que carregavam as macas. O desespero dos enfermeiros, dizendo alguma linguagem médica indecifrável, despertou o olhar dos demais pacientes e recepcionistas, que me encaravam com um ar de curiosidade e julgamento — quatro jovens irresponsáveis que fizeram merda.

If I Had Wings (Hiato)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora