I m p a l a 6 7

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"O que você fez?!"

"O que o seu irmão mandou, cara."

"Dean, você pagou para desmaiar ela?"

"Fica tranquilo, Sam. A gente vai dar um jeito."

***

     FOI DIFÍCIL IDENTIFICAR ONDE EU ESTAVA quando abri os olhos. Escuro, um cheiro indefinido, um espaço quente e apertado. Meus braços e pés amarrados me impediam de me mover, e minha boca tampada me impedia de gritar. Em determinados momentos era possível ouvir uma pequena discussão em vozes distantes sobre "ter apagado a garota". Bem, a única garota mantida presa num porta-malas era eu.

— Nós não podíamos ter feito isso, Dean. — o som da voz era interrompido pelos ruídos de uma estrada.

— Sammy, a garota escapou de dois ataques demoníacos. Precisamos saber o que ela é.

— Só estou dizendo que não era preciso tudo isso. Ela acabou de acordar de um coma de 12 horas.

— Enquanto não soubermos o que ela é, como escapou e como sobreviveu, ela vai ficar sim presa conosco. Se viemos investigar, vamos investigar direito.

     As vozes se silenciaram em seguida. Tudo que eu ouvia eram ruídos embaralhados; o som da estrada, do carro, e de supostas bugigangas chacoalhando em cima do capô. Meu raciocínio trabalhava à favor de gerar teorias para o que estava acontecendo. Dois ataques, supostos poderes, ferimentos que desapareceram, agentes falsos do FBI, e uma profecia falha. Tudo isso levava de volta para uma pessoa: Bridgit.

      Pude perceber quando o carro parou e senti meu coração acelerar na espera do porta-malas abrir. Ouvi as duas portas baterem simultaneamente, e os passos pesados encima de um chão áspero se aproximarem. Logo, a luz da manhã indo diretamente nos meus olhos foi ofuscante. O loiro sequer falou algo antes de me jogar acima de seu ombro com a força e agilidade de um soldado treinado. Não importava o quanto eu me debatesse, ou tentasse dizer algo, nada o impediu de seguir até a entrada de um hotel barato.

      A roupa do hospital tornava tudo mais incômodo. A única visão que eu tinha era do chão e do cara mais alto segurando uma arma de cano longo. Mesmo com a visão limitada, percebi que uma das duas camas estava cheia de livros antigos, e no centro, um pentagrama com símbolos em volta, com uma cadeira no centro, a qual ele me sentou e me amarrou com outra corda.

      Um senhor baixinho de cabelo grisalho e boné desgastado caminhou até mim e me analisou por inteiro.

— Então é ela? — debochou.— Achei que trariam algo mais assustador.

— Ainda não sabemos o que ela é. — disse o loiro, cujo nome ainda era confuso pra mim, mas como o grandão sempre se referia, parecia ser Dean.

— Escapou de dois ataques demoníacos. — o outro completou.

      O velho arrancou a fita da minha boca e senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. Meus olhos merejaram.

— Como é o seu nome? — seu olhar estava fixo nos meus.

— Mitchie. — havia um pequeno fio de nervosismo escondido no meu tom.

— O que você é, Mitchie? — sua expressão não era amigável.

— Do que você tá falando? — olhei para os dois rapazes.

       Eles se entreolharam, pegaram um copo com um líquido transparente e um crucifixo, e jogaram em meu rosto. Quê?

If I Had Wings (Hiato)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora