Capítulo 31

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Caminho até o banheiro abrindo a torneira jogando um pouco de água em meu rosto. Tiro a roupa azul e a jogo no lixo. Encaro minha imagem no espelho e ajeito alguns fios rebeldes que insistem em grudar no meu rosto molhado.

Volto para o quarto e me aproximo de Zack que continua dormindo profundamente, dando um beijo rápido em sua testa. Do lado de fora do quarto, vejo pessoas apressadas correndo de um lado a outro com vários feridos. Chego à recepção onde sou atendida e guiada até o quarto que Dasha está.

Entro no quarto branco com desenhos diversos e nuvens nas paredes. Dasha está um berço com uma agulha em seu braço. Acaricio seus cabelos claros e sento-me ao seu lado.

—Você vai ficar boazinha pra ir passear com a mamãe. —Ela resmunga algo e gruda seu dedo no meu.

Fico ao seu lado como uma leoa que protege seus filhotes. Velo o seu sono garantindo que nada vai incomoda-la. Tão pequena e tão forte, com o poder de encher meu coração com os melhores sentimentos.

A porta se abre e o médico responsável por Dasha entra, fazendo um cumprimento rápido com a cabeça. Levanto-me e vejo-o pegar o prontuário e analisar rapidamente levantando o olhar. Grudo minhas mãos uma na outra com um misto de nervoso e ansiedade.

—Desculpe a demora, mas como a senhorita viu, o hospital está uma verdadeira correria.

—Tudo bem.—Dou um sorriso fraco.—Então, o que minha filha tem?

—Fizemos alguns exames e no geral ela está saudável. Ela está apenas com uma forte infecção urinária, o que pode ser comum em crianças nessa idade, mas a mesma já está sendo tratada com antibióticos. —Respiro um pouco aliviada.

—E quanto tempo ela vai ficar internada?

—Até o medicamento intravenoso acabar. Vou receitar alguns antibióticos que a senhorita vai ter que ministrar minuciosamente.

—Muito obrigada doutor. —Lhe dou um abraço e o mesmo retribui desajeitado.

—Recomendo ficar aqui essa noite. Pela manhã virei entregar a alta da criança.

Concordo com a cabeça, vendo-o sair do quarto. Sento na cadeira sentindo cada músculo do meu corpo doer. Apoio minha cabeça na cadeira soltando um suspiro cansado.

Pego minha bebê a colocando com cuidado em meu colo. Ela se meche e abre os olhos, me encarando por um tempo até que os fecha novamente. Ajeito sua cabeça em meu braço, fazendo movimentos leves e dando tapinhas em suas costas.

—Só tenha cuidado. —Encaro a médica que deu encima de Zack apoiada no batente da porta.

—Do que está falando?—Falo confusa.

—De você com o doutor bonitão. Nem todo mundo é o que parece.—Diz com um sorriso debochado no rosto.

—Não sei o que quer dizer.—Digo baixo para não acordar Dasha.

—Todas do hospital sabem que ele nunca se envolve sentimentalmente com nenhuma mulher, e se ele se envolveu com você... —Me olha de cima a baixo.— Foi por pura pena.

—Não acho que seja por pena, senão ele estaria com você agora. —Ela infla as narinas e se aproxima do meu rosto.

—Grave bem minhas palavras, vadia. Ele não gosta de você, ele só quer alguém para foder. Brincar de casinha não é muito a praia dele. É melhor você ficar esperta para o tombo não ser tão grande.

Ela dá meia volta e sai pisando duro. Fecho os olhos e respiro fundo evitando refletir em suas palavras maldosas.

***

—Senhorita?—Abro os olhos encontrando uma enfermeira.

—Oi, tem algo errado?—Me sento ereta na cadeira.

—Está tudo bem, é que já faz um bom tempo que a senhorita está dormindo nessa cadeira dura com o bebê. Que tal fazer um lanchinho?

—Eu preciso ficar de olho nela. —Falo encarando Dasha que dorme pacificamente.

—Pode ficar tranquila, eu mesma cuido dela. —Toma minha filha de meus braços.

—Tudo bem, serei rápida. —Ela me lança um sorriso reconfortante.

Meu estômago reclama, mas não consigo comer nada. Caminho pelo corredor extenso e vejo as pessoas mais calmas. Paro em frente à porta e escuto vozes um pouco abafadas.

—Você precisa comer.

—Não estou com fome.

Mas são ordens médicas!

Abro a porta chamando a atenção para mim. Encontro Zack de braços cruzados e ao seu lado uma enfermeira com uma bandeja na mão e um olhar desesperado. Aproximo-me da mulher e pego a bandeja de sua mão agradecendo silenciosamente.

—Pensei que tinha ido embora. —Diz com um bico.

—Eu estava com minha filha.

Ele me segue com o olhar, Ignoro-o e pego a gelatina enchendo a colher dando em sua boca. Ele olha nos meus olhos com um grande ponto de interrogação colado em sua face.

—Você está brava. —Diz suspirando.

—Não estou. —Digo tomando um gole do suco de laranja.

—Me desculpa. —murmura baixo.

Olho em seus olhos escuros e abaixo o olhar sentindo meus olhos marejar. Ele me abraça apertado e passa as mãos em minha costa tentando me reconfortar.

—Fiquei assustada e com muito medo de te perder.—Falo enxugando as lágrimas.—Eu não suportaria Zack.

—Me perdoe meu amor.—Beija meus cabelos.— Só me perdoe, eu precisava fazer isso. Eu precisava fazer isso por aquela garotinha. Ela estava tão assustada quanto eu, mesmo que meus sentidos gritassem perigo, eu não poderia abandona-la.

—Tudo bem.—Acaricio seu rosto.—Você a salvou e tudo ficou bem.

Ele segura meu rosto e me beija fazendo meu corpo se arrepiar. Uma batida na porta nos interrompe e nos afastamos rapidamente.

—Pode entrar.

A mãe da garota do ônibus aparece na porta. Ela chega perto de Zack e o abraça fortemente.

—Muito obrigada moço. Você não salvou só a minha filha, salvou a mim também.—Ela chora—Não tenho mais ninguém além dela.

Ela estende um embrulho mal feito.

—Ela me pediu para te entregar isso. Ela mesma queria vir, mas o médico não deixou. Mais uma vez, obrigada.

Ela vai embora e Zack abre o pequeno embrulho encontrando uma carta. Ele desdobra o papel e um sorriso enorme toma conta de seu rosto. Fico quieta apenas observando sua reação. Ele enlaça sua mão na minha e entrega o papel para mim.

Pego com cuidado observando o desenho de uma garotinha sozinha no fogo e um homem com uma capa de super-herói. Embaixo há algo escrito com uma letra infantil:

"Meu Médico Herói".

Apesar de VocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora