Capítulo 5

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O caminho foi relativamente tenso. Por dentro eu tinha um medo absurdo de ser bombardeada de notícias ruins sobre a saúde do bebê. Assim que chegamos no hospital, fomos afobadas para a recepção.

—Viemos ver a bebê que deu entrada na madrugada de hoje, por volta das quatro da manhã. Meu nome é Lana Fontenelle Romanov.

—Só um minuto. —A funcionária digita rapidamente em seu computador. —Ah, sim. Sexto andar, corredor da direita, quarto dezesseis. —Ela termina a frase com um sorriso meigo.

—Muito obrigada. —Saio de sua frente, e caminho em direção ao elevador com as meninas ao meu encalço.

Repito as informações mentalmente, distraída comigo mesma. Minha prima grita algo, e saio do meu transe encarando o ambiente ao meu redor. Uma mão impede as portas do elevador de se fecharem, e quando elas retrocedem, Zack aparece ainda mais bonito que ontem.

Esse homem sai da balada, vem trabalhar, faz plantão e continua impecável? Como?

—Boa tarde, senhoritas! — Sua voz rouca e grossa inunda o ambiente.

—Boa tarde. —Respondo encarando a porta do elevador.

—Já começou sendo ótima. —Kiki fala suspirando.

—Para mim, alguém abriu as portas do inferno. Só isso para explicar o calor que está fazendo. —Reclama Xubs.

Zack não tira seus olhos de mim e provavelmente sabe que estou o encarando pela porta espelhada do elevador.

—Chegamos. — Kiki fala desviando nossa atenção.

Saio rapidamente, deixando a tentação em forma de homem para trás. Antes de entrar na sala, somos instruídas a lavar as mãos e os braços; colocando depois, uma espécie de avental azul junto com uma máscara. Entramos no quarto com várias incubadoras e a enfermeira nos indica a que a nossa bebê está.

Aproximamo-nos devagar, e a vemos dormindo como um anjo.

—Oi, garota linda. —Kiki fala com uma voz estranha.

—Ai, ela é tão bonitinha Lana, até queria ela pra mim. —Xubs diz com a mão no vidro, parecendo uma criança olhando seu bolo preferido pelo vidro da confeitaria.

—Quando a carreguei no colo, senti algo bom crescer no meu coração. Creio que nada é por acaso e, se ela foi abandonada na frente da minha casa, foi por algum objetivo que só Deus ou alguma outra divindade sabe. Irei adota-la. Afinal, uma criança no nosso meio seria maravilhoso. —Digo sorrindo, orgulhosa da minha própria decisão.

As duas me encaram assustadas outrora felizes. Mas não é minha culpa se a criança é tão fofa a ponto de ter me conquistado apenas com um aperto no dedo. Ela já passou por muitas coisas sendo tão pequena, e deixá-la em um orfanato esperando uma família enquanto eu tenho condições e posso dar isso a ela, seria no mínimo maldade.

—Ela precisa de um nome, de um quarto, ai meu Deus precisa de bonecas, um cachorro, um irmão também.

Paro no mesmo instante.

—Está louca, Kiki? Já quer que eu dê um irmão para ela? Ainda nem comecei a papelada dela, e começar outra está definitivamente fora dos meus planos.

—E quem disse em adotar? —Responde com um sorriso travesso.

—E quem vai ser o doador do esperma? Não sabia que dava para fazer bebês com o vento. —Sorrio ironicamente.

Alguém limpa a garganta, deixando-me vermelha só com a possibilidade de ter ouvido algo.

—Desculpe atrapalhar senhoritas, mas vim avisar que a bebê poderá ir embora dentro de alguns meses. Essa mocinha está ganhando peso muito rápido. —Viro-me com a voz, e Zack sorri encarando-me.

Deus, por favor, que ele não tenha escutado a parte do doador de esperma. As meninas falam animadas entre elas.

—Ah, e senhorita Fontenelle? —Ele me chama em um canto com o dedo, e caminho em sua direção. —Conheço várias clínicas que possui doadores de espermas. Mas tem uma que você nem precisa ir muito longe para conseguir.

Ele pisca de maneira sexy e vai embora. Sinto meu rosto arder e minhas pernas formigarem.

—Senhoritas, só poderão ficar mais cinco minutos, podendo apenas uma pessoa carrega-la. —Uma enfermeira nos avisa.

—Pode ser você, Lana. —Minhas duas amigas falam juntas.

A enfermeira pede para eu levantar o avental e deixá-la em contato com a minha pele, para ela ficar quente e sentir o contato direto da "mãe". Quando ela coloca a pequena no meu peito, uma emoção me atinge e não consigo segurar as lágrimas.

—Olha, ela abriu os olhos. —Fala Xubs.

Olho para baixo e vejo seu rosto encostado bem ao lado do meu coração, com seus olhos grandes e claros encarando-me. Nesse momento eu soube que não poderia mais viver sem aquela coisinha. Ficamos todas ali, babando a pequena. Depois uma enfermeira nos avisou que tínhamos de ir embora.

—Ei, não fique triste. Você pode voltar e vê-la amanhã.

Abraço minha prima e respiro fundo, pronta pra deixar a bebê naquela sala "sozinha".

—Já vou indo, tenho que revisar algumas matérias daquela aula chata da faculdade. Beijos e não se esqueçam de me avisar quando tiver mais alguma festa. Quem sabe na volta não encontramos mais um bebê. Depois pego minhas coisas Lana. —Xubs fala se despedindo.

—Eu também já vou prima, quer uma carona para casa? —Minha prima pergunta balançando as chaves do seu carro. O mesmo que peguei emprestado, na noite em que trouxe a bebê para o hospital.

—Para a casa dos meus pais.

—Falando em carona, está na hora de comprar um carro não acha? Digo... Com o lance do bebê, você vai precisar.

—Vejo isso depois, agora vamos.

Apesar de VocêOnde as histórias ganham vida. Descobre agora