Capítulo 5

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"O paraíso pode esperar, estamos apenas observando os céus
Desejando o melhor, mas esperando o pior."
- Forever Young (Alphaville)

Acordei cedo e me arrastei até o banheiro. Mal tive forças para tirar a roupa, então deixei a água fria do chuveiro cair e relaxar meus músculos. Tentei me apressar, mas a ressaca de sono era muito maior. Acabei me atrasando alguns minutos e quando cheguei à ConstruVille, Neville Tamer já estava em sua sala, alguns andares acima e deixara um recado para mim: "Sem açúcar." Pelo menos era sábado. Finalmente era sábado! Dia de meio expediente.

O dia foi muito menos agitado do que eu esperava, nada de reuniões urgentes ou de engravatados apressados. Nem mesmo Adam Gilbert apareceu naquele dia.

Enquanto a manhã passava, me perguntava se devia voltar esta noite à boate, pois o jeito como Adam agiu depois que ignorei sua investida me deixou um pouco surpresa e até desconfiada. Não era algo que eu iria esquecer, nem o ar sugestivo nem seu modo de agir. Sentia como se fosse irritá-lo se me visse ou ouvisse mais uma vez. Não queria que alguém que trabalhava nos mesmos meios que eu tivesse antipatia por mim. Podia ser uma impressão equivocada, mas era melhor prevenir do que remediar.

Sempre fui elogiada pela minha simpatia e pelo sorriso fácil, nunca dei motivos para ser mal falada, como tratar alguém de forma rude ou fechar a cara para pessoas que não conhecia. Adam Gilbert não seria o primeiro a ter! Concluí que era melhor dar seu tempo e esperar para ver como as coisas iriam se desenrolar.

Meio-dia, o Sol castigava as pobres almas que circulavam pela calçada. O verão poderia ser bastante intenso, principalmente quando na metade, mas não chegava a atrapalhar os planos de quem já estava acostumado. Harriet e eu iríamos almoçar em um restaurante perto do prédio da empresa. Não era um lugar luxuoso ou caro, apenas uma simples cantina italiana, mas muito confortável e acolhedora e, ainda tinha o principal, com pratos deliciosos.

Andamos as duas quadras em silêncio, concentradas em chegar ao destino e poder aliviar um pouco nossas tensões e calor, com uma bela massa e um vinho qualquer. Sábado era o dia perfeito para comer besteira, tanto que era o único dia em que não fazíamos lanches durante o expediente, pois estávamos ansiosas pelas milhares calorias do almoço. Quase toda semana era um lugar diferente, só não sempre, porque não era necessário gastar com táxi para o outro lado da cidade quando os restaurantes tinham um cardápio imenso. Já frequentamos de fast foods a rodízios de churrasco, mas nada parecia superar as massas.

Macarrão ao alho e óleo era o prato do dia, disse a garçonete. Enquanto esperávamos nossa refeição, Harriet e eu jogávamos conversa fora, falando sobre o último cara com quem ela havia saído.

- E quando chegamos ao bar, ele disse que tinha esquecido a carteira em casa! Vê se pode isso, Heather! - Ela suspirou, irritada, enquanto meneava a cabeça negativamente. - Com certeza, todos os meus dedos são podres.

Ri e quase me engasguei com a água que bebia. Harriet, mesmo irritada, era uma figura. Geralmente ela intimidava as pessoas ao seu redor, até Neville Tamer, mas para mim ela era uma ótima pessoa, um pouco esquentada, mas se soubesse medir suas palavras, qualquer um poderia se tornar uma companhia agradável para ela. Inclusive o tatuado com cara de suspeito, porém charmoso com quem ela saiu.

- Valeu a pena?


Ela abriu a boca demonstrando incredulidade.


- Heather! Faça-me o favor, assim você me ofende!

- E então, o que você fez?


Perguntei, tentando, fracassadamente, conter meu riso.

- Eu desci daquela moto imunda e barulhenta e voltei para casa a pé.

Depois do instante silencioso, rompi em gargalhadas, deixando-a mais frustrada do que antes. Muitas vezes, eu não conseguia acreditar nas histórias no momento em que ela me contava, porque Harriet me dizia coisas que nem conseguia me imaginar fazendo se estivesse em seu lugar. Mas, ela era ela e o que viesse nunca deveria ser uma surpresa, de Harriet poderia se esperar as maiores loucuras.

- Des-desculpa, Harriet! Sabe como fico quando me conta essas coisas, é até difícil imaginar uma cena séria. - Respirei fundo, recuperando o controle. - Você é louca...

- E depois ainda quer reclamar de mim. - Ela bufou, cruzando os braços à frente do corpo. - Para você é engraçado, amiga da onça, mas para mim, é uma frustração atrás da outra!

Observei seu semblante com mais ternura, me deixando ser tocada pelo seu drama. A questão é que ela cansava muito rápido dos homens, mas não desistia deles e acabava dando atenção a muitos que não mereciam.

The 2 Of Us - Livro 1. Duologia The 2 Of Us.Where stories live. Discover now