Capítulo 3

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"Ela tem a habilidade de tomar tudo o que ela vê."
- Invisible Touch (Genesis)

- O que você vai fazer?

Harriet me olhava com certa preocupação, em parte desnecessária. E esse mesmo olhar entregava sua falta de sono na noite anterior. Havia se passado um mês desde que comecei a viver sozinha no apartamento e, ainda assim, ela garantia todos os dias que eu estivesse bem. Principalmente, com minha tentativa de equilibrar as despesas que tornavam-se desnecessárias por eu estar sozinha. Ainda assim, não conseguia sair do apartamento.

Não era como se eu estivesse falida, mas meu salário só era ótimo quando meu irmão ainda pagava uma boa parte das despesas, agora já não é suficiente. Dispensei qualquer ajuda que ele viesse a oferecer. Não era justo eu viver a base do seu dinheiro enquanto estivesse cheia de saúde e válida para trabalhar. Não era justo explorá-lo em memória de nossa mãe, na verdade era muito baixo, e meu orgulho não me permitia viver assim.

- Cortar alguns gastos, talvez... Ainda não sei. Eu não costumo gastar com coisas além do necessário.

- Será? Acho que sempre tem uma coisa ou outra, no caso você está tentando manter algo... Não essencial. Por onde vai começar?

Harriet até podia estar certa, mas eu não conseguiria sair do apartamento sem conversar com Bruce sobre o destino do lugar que pertencia a nós dois por direito. E a maior parte da minha vida fora toda lá, onde tinha lembranças de minha família. Por isso ainda não pensava em deixar o apartamento para trás. Seguir em frente não significa abandonar o passado, significa olhar para frente sem esquecer o que já aconteceu e sem permitir que as lembranças interferissem no futuro.

Antes que pudesse respondê-la, Neville Tamer entrou como um furacão pela porta, assustando-me, enquanto Harriet ajeitava-se apressadamente. Antes de esquecer totalmente as boas maneiras, Sr. Tamer parou para nos cumprimentar.

- Bom dia, meninas...- Ele desacelerou o ritmo enquanto seu olhar se amansava sobre mim. - Heather, como você está?

Todos faziam a mesma pergunta e o que mais me tocava era não ter uma resposta. Eu não estava maravilhosamente bem, pelo Universo! Mas também não estava me descabelando ou chorando pelos cantos, mesmo sabendo que poderia ser julgada como insensível ou qualquer outra besteira equivocada. Infelizmente eu não poderia fazer nada, todas as noites eu pedia forças para superar e isso me fortalecia cada vez mais, eu deveria agradecer por não desabar.

Antes de responder, inspirei com cuidado. Precisava escolher as palavras certas para não ficar de mal com meu patrão ou com minha consciência. Profissionalismo.

- Estou melhor, e o senhor? Deseja algo?

Pude perceber que o deixei um tanto constrangido. Pelo menos ele não iria mais tocar no assunto e, consequentemente, Harriet também não, pois estava mais abelhuda que o normal.

- Hã... Sim, providencie um café expresso para mim.

- Sem açúcar. - Confirmei, como se nada de mais se passasse.

- Isso.

Sr. Tamer dizia que não se fazia café como o meu, e que quando sua secretária pessoal tentava, não conseguia equilibrar os ingredientes. Portanto, a primeira coisa que pedia era o seu café, logo que entrava no prédio.

- Deseja mais alguma coisa?

- Se precisar, avisarei. - Sr. Tamer já estava de saída quando lembrou-se - Ah! Confirme a reunião com Adam Gilbert. Vou pedir para Dara lhe passar o número.

The 2 Of Us - Livro 1. Duologia The 2 Of Us.Where stories live. Discover now