Capítulo XVI - Maligno

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Eu não sei onde estou e nem o que estão para fazer comigo. A gaiola é bem pequena então estou todo contorcido, mau consigo me mexer. Está tudo escuro. Mas vejo outras gaiolas com outras pessoas na mesma situação que eu. Algumas estão gritando, outras estão quietas, parecem drogadas e outras estão dormindo ainda. O lugar é úmido, o chão parece ter graxa de tão preto e úmido que é, e pelo menos sobre mim, parece ter goteiras.

Que lugar é esse? 

Ouvimos o som de uma porta se abrindo e fechando. Não sei o que acontece que nossas gaiolas começam a se mover pelo local, ainda presa pelas correntes e cada um foi para um lugar diferente. O meu entrou em uma sala branca, todos os móveis eram brancos, a iluminação da luz era extremamente forte e fez meus olhos que já acostumados com o escuro, arderem. Dentro da sala tinham duas pessoas de branco e elas estavam com máscaras, eu não sei quem elas eram, Um gás exalou pela sala, acabei desmaiando.

Não sei quanto tempo levou até que eu acordasse, só sei que estava acorrentado à uma maca, como se fossem aquelas cadeiras de dentista. Então, lá estava eu, assustando e ainda nu. Pela primeira vez vi os rostos dos que estavam na sala. Mas já era tarde para pedir ajuda, já estava acorrentado e com eletrodos preso em minhas têmporas.

- Teste 1 iniciando: Capacidade de resistência à dor. - Disse a mulher para um rádio que estava na mão.

- Por favor, por favor, me tire daqui, eu quero ir embora. - Tento fazer força para sair das amarras, mas é em vão. - Me tirem daqui! - Começo a gritar mais assutado, se é que é possível.

- Pode começar! - A mulher autoriza o homem que está nas máquinas a ligar o equipamento.

Sinto uma grande descarga elétrica aumentando aos poucos e ficando cada vez mais intensa passando pelos membros do meu corpo. As pessoas da sala continuam conversando, fazendo anotações, mas eu já estou fora da realidade e não consigo mais controlar o meu corpo, acabo por urinar, eu estava afágico, não conseguia deglutir minha própria saliva e estava tremendo mais do que o possível, acredito. Não sei quanto tempo durou, parecia que nunca iria terminar.

Mas as ondas de choque param, sentia como se meu corpo estivesse flutuando, como se eu tivesse pisando em nuvens, ao mesmo tempo que odiei essa sensação, eu também, assombrosamente, gostei. Eu ainda estava completamente zonzo, meu corpo parecia estar oco. Os médicos, ou seja lá quem fossem, continuavam falando sobre os efeitos e como eu estava.

- Teste 2 iniciando: Privação de sono. - Disse a mulher novamente com um tom de voz parecido de uma aeromoça.

- Por fa-fa-fa... vor, po-po... de me di... zer - Digo com dificuldade. - o que-que está acon... te-ce-do-o? - A mulher parece não notar que estou ali, bem na sua frente. - Ei... po-de me-e res-es... pon-der? 

- Jovem senhor, - ela olha em uma prancheta que está em suas mãos, acredito que seja minha ficha. - Prefeito, está passando por... testes!

- Testes? - Pergunto.

- Sim, testes. O senhor ficará acordado por 48 horas. Quando o nosso sensor observar que o senhor está adormecendo, ser acordado.

- Mas... mas, por que is-so? - Ela se retira do quarto juntamente com o homem e eu continuo lá, imóvel e continuarei, pelo que parece 48 horas. Meu Deus, o que é isso.


Escola Primária - Rio de Janeiro - 16:00h 

Fazem dois dias que Anton viajou. Eu fui ao médico, ele me recomendou que eu fizesse fisioterapia por um tempo devido a gravidade do meu "acidente". Hoje eu já fui e agora estou chegando na Escola Primária, estou com bastante tempo livre, já que algumas faculdades estão em greve, como a minha, então posso descansar um pouco mais, apesar que já estava com saudade de sair de casa, Anton tem me mantido como refém, e até mesmo pela minha aparência, eu não tenho tido condições de sair de casa, afinal o que diriam as pessoas que vissem a esposa do prefeito toda machucada? Isso não seria nada bom para ele e principalmente para mim, se desobedecesse sua ordem.

- Eva! - Grita Nena da recepção do colégio. - Amiga, como está? - Ela vem correndo e me puxa para um grande abraço.

- Oi Nena, que saudades! - Retribuo com um fortíssimo abraço.

- Como você está, garota? Estamos todos morrendo de saudades de você.

- Eu estou bem, Nena, estou bem melhor pra falar a verdade. Tirei o gesso ontem.

- Então está pronta pra voltar, certo?

- É mais ou menos isso. - Dou um pequeno sorriso. - Como estão as coisas por aqui.

- Está tudo certo. David tem perguntado bastante por você. Teve um dia que até fiquei assustada, ele queria se endereço à todo custo, mas eu lembro o que aconteceu aqui entre ele e Anton. Pensei que não seria tão viável ele ir até a sua casa. Depois ele se conformou e disse que estava orando por você todos os dias e torcendo para você logo retornar.

- Wow. - Fico assustada. - Quanta coisa.

- Pois é. - David aparece e vem quase que correndo em minha direção. Ele me dá um abraço, sim, um abraço. Olho para Nena por cima do ombro dele. Qual seria a palavra para descrever isso? Assustador? Talvez.

- Sabia que estava correndo perigo, senhora. Como está?

- Oi David. Isso foi bem... repentino. - Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e sorrio sem graça.

- Está bem? O que aquele homem fez com você?

- David, - sorrio e olho para Nena. - Do que está... falando? - Tento olhar através dos seus olhos.

- Não precisa esconder de mim, eu sei o que está acontecendo.

- Eu juro que não sei o que está falando. - Será que ele está falando do Anton? E se está, como ele sabe sobre nós? Estou começando a ficar realmente assustada. Olho para Nena. - Nos dê licença, já volto.

Vou com David pelo corredor, para que possamos conversar a sós. Em um certo ponto perto da escada do segundo andar paramos nossa caminhada.

- Senhora, deve se afastar de seu marido.

- O que está dizendo? Quem é você, primeiramente. Só porque conversamos um pouco há poucos dias, não quer dizer que tem o direito de falar assim comigo.

- Eu só pensei que... 

- Não importa. - Viro de costas para voltar à Nena.

- Eva! - Ele fala em tom firme, paro de andar e me viro para ele. - Ouça o que estou dizendo, eu realmente não te conheço e nem sei a vida que você e seu marido levam, mas eu sinto bem aqui, - Ele aponta para o peito. - que ele não é o homem certo para você.

- E quem é? Você? Olha David, eu sou muito boa, mas não teste minha paciência.

- Eu posso parecer estar falando loucuras...

- E está. - Completo antes que ele termine.

- Eu não posso te contar, mas Anton não presta, estou falando a verdade.

- Não posso ouvir você.

- Se não me ouve, pelo menos ouça o que Deus diz. - Percorre um leve choque por todo o meu corpo, estremeço. Continuo andando para me distanciar de David.


Espero que estejam gostando, parecem dois mundo paralelos, não? Mas estão ligados por um cordão :D

No seu coração.

P.

Confia em Mim: DestruídaWhere stories live. Discover now