345 Dias Antes de Hannah

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Primeiramente, perdoem0-me pela demora em postar! Segundo, gostaria de dedicar este capítulo à Isa2519ibl por estar sempre presente, comentando e curtindo. Esses pequenos gestos significam muito para mim :) Curtam o capítulo! Está curtinho...

Considerem este início uma parte bônus de meu relato. Não é necesário para o entendimento de como eu destruí milhares de vidas. Inclusive, se querem pular direto para o parágrafo sete, sintam-se a vontade.

345 dias antes de Hannah. Este deveria ser um dia especial. Era dia nove de Agosto, aniversário de Hannah. Estava completando dezoito anos, onde quer que estivesse. Ela era agora uma adulta, pronta para viver sua própria vida. Naquele ano, Octavio também já havia completao dezoito. Eu não podia acreditar que Hannah não estava ali para falar sobre isso comigo. Tantas noites perdidas falando sobre o "momento perfeito" dela, gastando meu cérebro imaginando, ficando acordada até depois do meu horário, e quando o dia finalmente chegara, ela não estava lá.

Não há regras no desconhecido. Ninguém é dono daquilo, nada é pecado, nada é proibido. Como poderia saber se Hannah havia seguido as regras da Sociedade? Esperado até ter exatamente dezoito anos para finalmente poder estar junta de Octavio? Se não tivesse seguido essa regra, estaria ela errada? Não há regras lá, há apenas aqui.

As perguntas que levantei naquele dia foram: você continua tendo que seguir regras quando entra num território onde não há nenhuma? E você pode ser punido se não as seguir?

Eu fiquei chateada comigo mesma. Como podia estar pensando isso dela, duvidando, indo contra tudo o que defendi nos últimos meses? Ela não fugira por amor a Octavio, mas por amor à curiosidade.

Naquele dia eu pedi que um dos funcionários da padaria de meu pai fizesse um muffin de chocolate e banana para mim. Era o sabor favorito de Hannah. Furtei uma vela cor de rosa da cozinha e acendi no meu quarto, à noite. Conversei com a vela como se conversasse com minha irmã. Será que, algum lugar desconhecido a dentro, Hannah tinha em mãos um bolinho de banana e chocolate e estava respondendo à mim? Escolhi acreditar que sim.

Isso me lembrou a primeira cerimônia de punição que presenciei.

Na Sociade do Sul, crimes ou pecados são tratados de acordo com sua gravidade. Os mais graves são exilados, alguns outros são punidos levemente. Os que estão no "meio termo" entre muito grave e crime leve são julgados pela sociedade. Um homem, cujo nome é irrelevante, roubou dinheiro de várias famílias para sustentar o luxo que prometera a sua mulher. Isso é pecado e crime, juntos. Por alguma razão que não entendi até hoje, a justiça determinou que seria julgado pelo conselho povo.

O Conselho do povo é representado por pessoas completamente normais, como padeiros, professores ou bibliotecários, todos voluntários. Não há lucro algum, a não ser a justiça. Eles escolheram condenar o ladrão ao tronco. Ele seria amarrado a um pedaço de madeira posicionado em frente à praça da prefeitura e quem quisesse passar por ali e atirar algo nele podia ficar a vontade. Eu fui lá com meus pais e tios. Papai era membro do Conselho do Povo naquela época. Atirei uma pedra em suas costas nuas e me senti muito bem. Uma cumpridora de meu dever como cidadã. Ai veio o discurso e a vela.

Já era noite. Voluntários passaram pela multidão distribuindo velas para nós podermos enxergar melhor. Eu ganhei uma. O governador começou a falar sobre pecados, crimes e punições. Explicou a situação, explicou a decisão co Conselho do Povo e adicionou uma punição extra:

-Como o crime do indivíduo é também pecado, -ele disse -concordamos que devemos deixá-lo viver e mandá-lo para o exílio após cumprir sua pena de trinta horas na Estaca.

O povo vibrou em comemoração. Eu fiquei surpresa. Não sabia que poderia chegar a tanto uma punição. A vela em minhas mãos começou a derreter e pingar no chão. Algumas pessoas atiraram a cera quente no condenado, gritando palavras horríveis para ele. O condenado gritava ainda mais, queimando, sofrendo, pagando por seus erros. O que me chamou atenção naquela noite foi descobrir que até mesmo os condenados tem sentimentos. Eu o vi olhar para cima, bem nos olhos da Lua e pedir perdão para sua amada. Suas costas queimavam em fogo e em dor, mas ele pensou no amor que sentia, nas promessas que fizera, nas loucaras que cometera.

-Se eles não podem me perdoar –ele chorou –que você me perdoe.

Será que sua amada estava olhando para a Lua, ouvindo-o, perdoando-o? Aposto que ele escolheu acreditar que sim. Era sua única escolha.

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