Capítulo 20 - Confiança

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POV: Ana Campbell
– Eu te mataria se soubesse do quê? — ouvi a voz de Cameron e me virei. Senti meu corpo gelar e olhei assustada para Christopher.
— Er... — comecei a falar enquanto tentava pensar em alguma desculpa, mesmo que esfarrapada.
— Ela perdeu o colar — Christopher fala rapidamente ao perceber que eu não tenho nenhuma ideia do que dizer.
— Esse que está bem no pescoço dela? — Cameron ergue uma das sobrancelhas e cruza os braços olhando seriamente para nós.
— É.  Acabei achando depois — falei.
— Sei. Essa história está muito mal contada. Mas eu tenho mais o que fazer do que ficar ouvindo desculpinhas de vocês dois — ele se virou e foi falar com Kira e os outros.
— Acha que ele acreditou? — perguntei me dirigindo a Chris, mas ainda olhando para Cameron.
— Claro que não. Mas pelo menos dá tempo da gente pensar em alguma desculpa melhor.
— Ou em contar a verdade...
***
Estava voltando para casa. Chris me oferecera carona, mas eu neguei, já que a agência fica relativamente perto da minha casa e eu tinha que ser o mais discreta possível ao chegar.
— Ana! — ouvi alguém gritando e acabando com a minha tentativa de ser discreta. Fui me aproximando, andando mais rápido e reconheci Elisa — Preciso falar com você. É urgente!
Pensei em recusar já que estava de castigo e, no fundo, não queria falar com ninguém. Mas ela insistiu falando que era sobre minha avó e eu acabei cedendo.
— Tá bom, mas aqui não! — fomos até o meu quarto e eu pedi que ela fosse rápida já que meus pais não podiam me ver entrando, muito menos vê-la.
Ela me contou que conversou com minha avó e que ela também havia sido uma caçadora e fazia parte da agência.
— ... E ela disse que descobriu que havia um "pulador" infiltrado na agência.
— Pulador? — perguntei, sem fazer ideia do que era aquilo.
— São seres que não podem ser identificados pelo seu colar. E por isso, se passam por pessoas comuns. Eles têm o dom de pular de corpo em corpo, literalmente. Eles possuem o corpo e o ser dono dele morre. Foi assim que sua avó morreu.
Fui invadida por um turbilhão de sentimentos e emoções. Lembrei de minha avó e infelizmente, junto com as memórias felizes, vieram pensamentos ruins em relação à ela, como o fato de ela também ter escondido fazer parte da agência, já que, provavelmente, nem meu pai sabia disso.
— Ela decidiu abandonar a agência, mas só não o fez porque descobriu que havia um pulador... — ela começou a falar que nem todos os sobrenaturais eram assassinos e que minha avó desistiu de matar "essas pobres criaturas", mas nem dei tanta bola. Meu pensamento estava em outro mundo — ... Ela queria acabar com a agência e destruir o pulador, porém acabou sendo morta sem ninguém saber da existência dele. Eles que são os verdadeiros vilões, não nós.
— Eu quero que você saia do meu quarto. Preciso ficar sozinha — já estava furiosa com aquelas palavras. Ela falou mais algumas coisas sobre os puladores e que eu preciso tratar de descobrir quem são eles.
— ...Eu sei que você estava querendo desistir disso tudo. Você é uma pessoa boa — ela terminou e foi embora.
O que será que ela quis dizer com "isso tudo". Se ela estava se referindo à agência, podia tirar seu cavalinho da chuva. Eu não ia desistir dela tão fácil, apesar de estar sendo bombardeada com essa conversinha fiada por parte de diversas pessoas.
Lembrei de Chris, que é um dos que está querendo me fazer ver que os sobrenaturais não são quem eu penso que são. Pensei em como queria contar aquilo tudo pra ele, que, com certeza, saberia o que fazer. Mas eu precisava colher mais informações primeiro, antes de qualquer coisa.
Assim que levei Elisa até a porta, não demorou muito para outra visita tocar na campainha.
— O que ela estava fazendo aqui? - Treveli aparece e pergunta ansiosamente.
– Quem? - perguntei sem entender nada.
— Elisa! Eu acabei de ver ela saindo. Por acaso ela disse algo estranho? Sobre "puladores ou algo assim? — rebateu ele.
Fiquei uns segundos pensando se realmente deveria contar aquilo à ele. Não sabia em quem confiar. Ambos eram suspeitos pra mim, mas mentir nunca é uma boa opção.
— Ela realmente falou umas coisas estranhas, sobre minha avó e... - respondi.
— Eu sabia, você não pode confiar nela! Você é você mesma?! – logicamente fiquei perplexa com essa pergunta. Será que ele estava achando que eu era um pulador?
— O que você quer? — perguntei nervosa com aquilo tudo.
— Lúcia e eu achamos que Elisa é um deles...
— Quem é Lúcia? - o cortei.
– Minha meia irmã. Nós estamos em perigo, você tem que vir comigo.
— Você está louco? Eu não acredito em nenhum de vocês anormais. Não vou pra lugar nenhum.
— Ah não? Você tem visto Matt? Qual foi a última vez que o viu pessoalmente? - aquela pergunta realmente me chocou. Parei uns segundos pra pensar e até que aquilo fazia sentindo. Cresceu uma preocupação com Matt dentro de mim e eu comecei a ceder.
— Hm... Porque quer saber?
— Hugh é um deles. Riley também. Eu os vi. Eles me pegaram e quase...
— Riley? — perguntei querendo saber de quem se tratava.
— Não perca o foco — percebi que ele começou a perder a paciência, o que me deu uma pequena vontade de rir.
Uma garota desce do carro e vem até nós falando:
— Filipe, você não sabe como conversar com uma garota. Você é Ana certo?
— E você é... Lúcia?
— Sim. Sabe, Ana — ela começou a falar enquanto "me fazia" entrar na minha própria casa — eu sei que isso tudo deve ser bem difícil pra você. Ter que confiar nos seus maiores inimigos no meio de tanta confusão.
— Er... — concordei.
— Mas no momento nós não somos o inimigo. Eles são. Eles estão matando e possuindo pessoas nessa cidade e tudo que nós queremos é acabar com todas essas mortes e expulsar de vez esses puladores daqui.
Mantive o silêncio por um segundo enquanto colocava a mão na cabeça e pensava em milhões de coisas, incluindo aquilo que ela falava.
— O seu trabalho deveria ser proteger a cidade contra as ameaças, mas você está escolhendo alvos errados e eu não te culpo por isso. Eu sei que existe certa influência das pessoas daquela agência que fazem você pensar que...
— Ah! Chega disso! Você não é e primeira pessoa a me falar toda essa... Babozeira- apelei e me sentei no sofá.
— Tudo bem, vamos com calma. O que importa agora é que — ela falou apontando pra mim e depois pra ela, se sentando no sofá. Meu colar começou a brilhar muito, incomodando a nós duas. Eu o tirei e coloquei no bolso. – nós queremos a mesma coisa. E porque não nos unimos pra resolver tudo isso?
— Acontece que eu não sei o que é "tudo isso". Eu fiquei sabendo da existência dessas... Coisas, há pouco tempo e nem sei se posso confiar na pessoa que me deu essas informações.
– E você acha que eu sei? – rebateu ela.
Levantei os ombros como quem diz "sei lá".
– Tudo bem, eu posso te dar um tempo para pensar nisso tudo, mas enquanto nós estamos aqui, os puladores estão lá, atacando cada vez mais pessoas. E se o seu dever é fazer justiça nesse lugar, ficar parado não vai impedi-los de continuar – ela levantou e foi se dirigindo devagar até a porta.
— Espera! — eu poderia discordar de muita coisa que ela disse, mas em um dos pontos ela tinha razão. Não temos tempo a perder — Eu vou com vocês!
– Então vamos logo!
– Mas eu não posso! Meus pais me colocaram de castigo e... – enquanto eu falava,- ela simplesmente fechou os olhos e fez um gesto com as mãos.
– Problema resolvido!
– O quê? – perguntei sem entender nada.
– Vamos logo! – ela me puxou pelo braço – Nós estamos indo pra casa dela! — Lúcia falou com seu irmão assim que saímos.
– Dela?
– A garota! Elisa - falei e fui me dirigindo ao carro.
– Eu fiz um feitiço para que os pais dela pensem que ela ainda está no quarto – Lúcia falou. Agora estava explicado.
– Vocês deveriam ir na frente. Preciso ver uma pessoa antes.
A casa de Elisa não era tão longe. Chegamos lá com pouco tempo e mantivemos silêncio durante o trajeto.
Assim que chegamos, Lúcia foi logo batendo forte na porta e não demorou muito para Elisa aparecer, perplexa.
– Nós sabemos o que você é – falei, cruzando os braços, enquanto nós duas olhávamos furiosas para ela.
– Do que vocês estão falando?
– Não adianta esconder! – Lúcia falou e quando estava prestes a fazer algum movimento com as mãos, Elisa deu um grito. E depois de um segundo, Lúcia havia desaparecido.
– O quê? Para onde ela foi? – perguntei e comecei a olhar ao redor – você viu alguma coisa? - perguntei para Elisa, mas ela parecia estar paralisada, enquanto lágrimas escorriam de seu rosto – Me diz! – segurei seus ombros – você viu alguma coisa?
Ela continuou sem dizer nada e quando estava prestes a falar, Filipe apareceu, acompanhado de uma garota.
– É tudo culpa sua, estúpido - Elisa gritou e começou a apontar para Treveli furiosa, que olhou para ela fazendo cara de desentendido.
– Eles levaram sua irmã! – falei.
– O quê?
– Filipe – a garota que o acompanhava falou - eles ainda estão por aqui. Venham pra perto de mim rápido.
Nem pude pensar duas vezes. Passado um segundo eu simplesmente apaguei.
***
Acordei numa sala extremamente escura e não conseguia enxergar muita coisa, vi vagamente Elisa de longe e lembrei que havia colocado o colar no bolso e logo o tirei, pude ver então as outras pessoas que estavam na sala. Eu reconheci todos, exceto uma.
– Você! – a garota estranha que não reconheci e que estava acorrentada começou a falar olhando para Treveli – Você tem que me ajudar! Eu sei que tivemos nossas diferenças, mas...
– Quem é você? – Treveli perguntou justo o que eu queria saber.
– Você não se lembra? Eu conheço ela também! – a tal garota começou a apontar pra mim com a cabeça, o que alimentou minha curiosidade.
– Eu? - perguntei.
– Sou eu, Sofia! Eu sou um...
– Lobisomem – Filipe completou – consigo cheirar de longe.
– Você consegue achar uma saída? – Elisa falou baixinho para "o nada" o que deu a entender que ela estava comunicando com algum fantasma.
– Você pode me soltar? Eu poderia me transformar para sair, mas mágica não funciona aqui – Sofia falou – Mas como você é um vampiro, tem força o tempo todo – Treveli fez o que ela pediu – Vocês realmente não se lembram de mim?
– Eu deveria? - perguntei.
– Vocês dois... É difícil explicar!
– Por quanto tempo está aqui? - a amiga de Treveli perguntou.
– Não sei. Talvez... anos!
– E porque acha que a gente pode te ajudar? E... Que lugar é esse? – perguntei olhando em volta.
– É uma longa história...

AscensãoWhere stories live. Discover now