Capítulo 10 - Assassino

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Filipe

Hugh me mandou um torpedo perguntando se eu podia chegar mais ou menos meia hora mais cedo para ajuda-lo a organizar a festa. Respondi que sim, até porque eu não ia ter nada pra fazer até dez horas.

Como posso descrever a minha fantasia: Estereótipo total. O arco no pescoço, o cabelo com gel, a capa preta, a dentadura e o principal, o sangue falso. Eu até usaria sangue de verdade, que é mil vezes mais gostoso, mas caso, e pretendo, que haja algum contato direto com a minha boca durante a festa, alguém pode não estar habituado a esse gosto agridoce. Então é melhor não arriscar.

- O Drácula. Um amigo da sua mãe jura ter conhecido um deles.
- É, eu sei.
- Meio engraçada a situação não? - Meu pai deu uma risada leve e franziu as sobrancelhas.
- É, e é perfeito.
- Pois é. - Ele riu.
- Essa cidade não é tão ruim quanto eu pensava.
- Eu te falei. Só em uma semana você está indo em duas festas.
- Eu ainda não fui na do colar roxo que brilha.
- Que colar roxo? - Meu pai perguntou.
- Um colar, acho que eles entregam em alguma festa, e ele brilha "pra caramba".
De repente meu pai se virou e começou a procurar em seus livros alguma coisa. Ele passava as páginas e rápido e ia descartando aqueles que talvez não tinham o que ele procurava. Alguns momentos depois, até um pouquinho ofegante, ele me mostra um desenho, mais especificamente uma pintura impressa na página de um livro.
- É esse o colar? - Ele pergunta com um tom modificado, como se estivesse bravo com a vida.
- É bem parecido... Por que?
- Putz, mas que sorte eu tenho. Eu falei, eu falei que estava tudo perfeito demais, eu falei. - Meu pai parecia falar sozinho.
- Pai, tá tudo bem?
- Onde você viu alguém usando esse colar filho!?
- Uma vez na saída da balada e uma garota na escola. Por que?
- Você falou com essas pessoas?
- Não... Por que? Relaxa. Não aconteceu nada.
- Essa raça desgraçada justo na cidade em que eu escolho.
- Do que você está falando?! Anda, fala logo. - Perguntei já impaciente.
- Essas pessoas, elas são assasinas. Elas matam gente, gente como nós!
- Gente como nós?
- Sim! É uma sociedade antiga, muito antiga, que desde a revelação de alguns seres superiores como nós, eles vem tentando nos eliminar. Aquele colar que você viu é uma espécie de identificador! Quando há alguém "diferente" por perto, aquilo brilha.
- Caçadores? Eu achei que era só uma história antiga.
- A sociedade não é mais tão poderosa quanto antigamente, mas ela ainda existe, em vários pontos do mundo. Você tem que ter cuidado, eu avisarei a família.
- Eles não podem contra mim.
- Eu espero que não filho, mas pelo que dizem, são muito violentos.
- Eu sei me defender pai. Não vai ser um qualquer com armas mortais que vai acabar comigo.
- Vá. Eu vou pesquisar mais sobre isso...

Peguei o carro e fui em direção a casa de Hugh, que estava mais para sítio. Eu fiquei pensando sobre aquilo que meu pai falou. Caçadores eram uma história que minha mãe contava pra mim, mas no final nós levavamos a melhor. Mas de fato, se isso realmente procede, eles sabem sobre mim, porém agora eu também sei sobre eles.

No caminho eu vi uma garota andando na calçada e logo a reconheci. Encostei o carro devagar e dei uma buzinada.

- Riley! Você ta indo pra festa? - Ela fez uma cara estranha ao me encarar e ver que eu estava todo fantasiado.
- Não, eu não fui convidada.
- Você devia vir.
- Minha tia nunca deixaria. - Ela franziu a testa.
- Ela não precisa saber. Eu falo com o Hugh.
- Mas eu nem estou fantasiada.
- Mas nós podemos improvisar. - Saí do carro. - Isso é sangue falso, posso?
- Tá. - Ela hesitou.
Joguei o meu pote inteiro sobre sua roupa e rasguei a barra do vestido.
- Minha roupa era nova!
- Mas agora você tem uma fantasia, de acidentada. - Falei rindo.- Vem, eu te trago cedo. E relaxa, depois te dou um desses novo.
- Por que você está fazendo isso para mim?
- Eu meio que achei você legal. E afinal, os novatos tem que se unir. - Disse rindo novamente.

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