Capítulo 9 - A Verdade

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Elisa

Quarta-feira chegou muito rápido. Eu até gostei dessa nova escola, principalmente com uma "pessoa" para me ajudar nas aulas. Caio estava meio triste porque ficou sabendo que teria uma festa a fantasia e ele não poderia ir, ou ao menos com uma fantasia. Por isso, ele ficou me pressionando para ir também.
- Vamos, Elisa! Vai ser legal! - ele insistiu.
- Não! Odeio festas e nem tenho dinheiro para comprar uma fantasia.
- Se dinheiro é o único problema, eu posso resolvê-lo.
- Mas... Você quis dizer conseguir dinheiro? - perguntei incrédula, repensando se seria bom eu ter como única companhia um fantasma que aparentava ser um ladrão.
- Sim. Mas você teria que ir na minha casa. Eu escondi um dinheiro em um livro da minha mãe que ela nunca leria. Eu estava juntando pra comprar um novo tênis, ja que só tinha um velho.
- Você me daria um dinheiro seu? Como você o conseguiu? Você só tinha UM tênis?
- Eu estou morto. O que eu faria com ele? Vai logo que o sinal já tocou. Eu vou pra fora ver as pessoas e depois volto - esse era um costume que ele tem.

Quando entrei na sala percebi que nunca tinha estado naquela sala. Era aula de Biologia. Passei perto de uma menina que usava um colar estranho que brilhava. Quem usa um colar como aquele?

- Bom dia classe. Meu nome é Marcel, mas todos de chamam de Sr. M. Essa sala está um pouco vazia. Tem algum novato aqui? - perguntou o professor.
Me levantei.

- Meu nome é Elisa.
- Elisa... Que nome bonito! Seja bem vinda. E belo cabelo cor de fogo. Aposto que seus pais têm cabelos preto e loiro, acertei?
- Bem, mais ou menos. Os meus biológicos tinham. - respondi sorrindo, parte pela brincadeira, parte tentando amenizar a situação de que meus pais morreram, o que não adiantou muito.
- Hum, eu sinto muito... - o professor disse, meio sem graça. - Para começar, iremos fazer um debate, mas em dupla, que eu separarei. Vou escrever o que vocês irão fazer no quadro.
- Eu também sou novato. Paul.
- Então, ótimo. Os novatos ficam juntos. O resto vai pela lista de nomes. Aproveito e faço a chamada.
Fiquei surpresa pelas vaias, mas percebi que era só uma brincadeira. Eu fiquei com um menino, que me parecia muito familiar.
- Oi. Qual é o seu nome mesmo?
- Paul - o menino era bonito, mas sua expressão carrancuda não deixava perceber. - Parece que temos que fazer um debate sobre a origem da vida. Nas minhas outras escolas, tive esse debate.
- Então vamos discutir outra coisa. Já sei tudo sobre a vida.
- Nossa, ok. Sobre o que você quer falar, então?
- Você não acha irônico quando alguém morre cedo?
- É claro. Mas por que você fala isso? Conheceu alguém que passou por isso?
- Sim. Meu irmão morreu nesse fim de semana. Ele tinha quase a minha idade, mas já dava para perceber que ele teria um futuro brilhante. Você sabe do que eu estou falando.
- Sei. Meus pais eram arquitetos. Construiram a casa que eu moro hoje. Que estranho você falar tão abertamente sobre isso. Eu demorei anos para isso.
- Eu estou irritado e preciso falar sobre isso. O pior é que ele morreu por causa de assuntos que ele não precisava se meter. Ele sabia que isso ia acontecer. Não acredito que ele deixou minha mãe e eu sozinhos.
Espere ai, pensei. Jovem assassinado no fim de semana? Família de uma mãe e dois filhos?
- Eu sei que é irrelevante eu saber disto, mas qual era o nome do seu irmão?
- Caio... Por que essa cara?
- Acho que conheço o seu irmão. Digo, conheci.
Naquela hora eu virei para o lado, só para desviar o olhar. Mas encontrei algo pior. O triste olhar de um fantasma. Depois, ele saiu e eu não o vi pelo resto do dia.

Na aula de educação física, estava me sentindo muito insegura, pois, além de ser péssima em qualquer atividade física, estava sem meu amigo para me aconselhar. Porém até que a aula foi boa. Pela primeira vez, percebi que era boa em vôlei. Eu lembro de ter errado quase todos os toques antes da partida daquele dia. Em outro campo, os meninos estavam jogando futebol americano. Todos jogavam com muita facilidade, mas tinha um que me chamou atenção, não sei o porquê. Ele era meio pálido e tinha um cabelo preto. Me lembrava até um fantasma, algo morto. Mas de morto era só isso, porque ele aparentava ser muito vivo. Certamente era um dos melhores do time. Enquanto eu reparava isso, deixei de reparar no jogo. O terceiro set ja tinha começado.
- Ai - aquela menina de colar brilhante estava ali de novo.
- Me desculpe. Ana, né? Eu senti uma tontura - menti, para não ter que explicar meu desvio.
- Sim. Tudo bem. Você está bem? Pode continuar? - ela perguntou preocupada.
- Já estou melhor. Obrigada.

O resto do jogo foi muito bom, mas eu realmente não entendi como eu estava indo tão bem. Como eu já disse, eu sou péssima em atividades físicas. Eu estava mais concentrada e meu reflexo estava rápido. Dava saltos altos e manchetes perfeitas. Ao fim do horário, minha professora me elogiou, o que alegrou muito meu dia, levando em consideração o que havia acontecido no outro horário. Eu não deixei de pensar naquilo, nem por um segundo. Eu na tive a mesma atenção no restanto do dia.

Quando cheguei em casa, procurei por Caio. Ele não estava na sala, como o habitual, e sim em meu quarto. Sem tirar o olhar da parede, onde estavam algumas da fotos minhas com minha família e algumas que tinha tirado aleatoriamente, ele disse:

- Eu não sabia que meu irmão estava estudando naquela escola. Como você viu, eu sofri o acidente antes das aulas começarem.
- Eu acredito. Você quer falar sobre isso?
- Hum, eu não tinha uma boa relação com minha família, então não tenho muita coisa a dizer. Vamos falar de outra coisa. Sua família é muito bonita e as fotos também. Você que tirou?
Fiquei um pouco chocada pela mudança repentina de assunto e pela falta de consideração pela família, mas ela não era minha.
- Tudo. É verdade. E sim, fui eu, mas só fotografo por hobbie.
- Você é boa. Deveria se especializar nessa área. Mas vamos falar da sua fantasia. Amanhã, vamos ir até à minha casa, como te falei. Infelizmente, você terá que entrar sozinha, já que não posso pegar na maçaneta - ele riu. - E qual fantasia você irá usar?

AscensãoWhere stories live. Discover now