Capítulo 2 - Ana Campbell

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Ana

Eu estava sentindo uma sensação estranha. Como se algo fosse acontecer hoje. Mas era um dia normal. Talvez fosse só dor de estômago.
Eu havia acordado há pouco tempo, e estava me arrumando para ir a escola. Finalmente, depois de anos e anos, eu havia chegado no último ano. Eu trabalhei duro pra chegar até aqui, com ótimas notas e estou preparadíssima para conseguir minha bolsa de estudos.
- Oi querida, bom dia! Como está se sentindo? - minha mãe me abordou de um jeito fofo e preocupado, o que não é muito comum, especialmente pelas manhãs rotineiras.
- Oi?! O que deu em você mãe? - perguntei enquanto me dirigia à mesa de café e acenava para papai.
- Em mim? Nada! Só estou um pouco preocupada com a senhorita desde o "ocorrido" de madrugada.
- Ahm?! Ocorrido na madrugada? Deve ter sido um sonho seu. Eu dormi plena. Chega de conversa fiada ou vou me atrasar se não comer logo.
- Não foi um sonho Ana. Está certo sua mãe estar preocupada, ou ao menos assustada. Afinal, não sabíamos que você era sonâmbula.
- Sonâmbula? Pai, do que o senhor está falando? - Respondi sem saber do assunto.
- Nada, nada minha filha! Vai pra escola, se não vai chegar atrasada. E não se esqueça disso. - Minha mãe disse e me entregou um pacote que provavelmente tinha meu almoço dentro.
- Que seja! - Sai pela porta. Intrigada, pesquisei sobre sonâmbulismo no celular no caminho, mas logo me distrai.
A escola não ficava muito longe de casa, podia ir andando. Já estava acostumada com o trajeto. Depois de ter andando alguns quarteirões, senti uma tontura muito forte. Me apoiei em um poste para me segurar. Não durou muito tempo, e logo me recompus. Depois que aquilo passou, continuei seguindo e tentei "ignorar" a situação estranha. Acho que eu não devia ter pesquisado sonâmbulismo no Google. Agora só porque eu li os sintomas vou começar a ter. Odeio a psique humana.
Fiquei parada na frente do colégio o encarando por um tempo. Eu estava meio avoada. De repente, Britney e Matt acenaram pra mim perto da entrada. Brit deu um gritinho pra eu sair da minha viagem mental.
- Ah! Eu não acredito que estou te vendo de novo, saudades! - disse Britney enquanto me abraçava, sempre escandalosa e falando mais alto do que o normal.
- Haha! Não exagera, eu não ia morrer durante o recesso. Oi Matt - ele respondeu e me deu um beijo.
- É melhor a gente ir entrando, não quero atrasar logo no primeiro dia né? - Afirmei.

Não me senti muito bem durante às aulas. Senti tontura e às vezes enxergava tudo embaçado. Aquilo só podia significar uma coisa, eu sabia o que era, infelizmente. Quem dera se fosse o sonâmbulismo. E eu ia tratar de resolvê-la assim que a aula acabasse.
Eu estava no refeitório sentada na mesa junto com meus amigos, mas nem havia tocado na comida. Fiquei olhando para um ponto fixo enquanto pensava em mil coisas diferentes ao mesmo tempo.
- Ei!? Terra chamando Ana! O que te deu hoje? - Britney perguntou enquanto abria o pacote que eu havida trazido de casa.
- Ahm?! Nada, só estou... pensando! - Me liguei novamente.
- Ei, você vai comer isso? - ela apontou pro sanduíche que minha mãe tinha feito - Parece muito bom.
- É todo seu! - só de olhar para aquilo me sentia mal, e meu estômago revirava.
Assim que as aulas acabaram, tratei de sair correndo daquele lugar. Sem nem me despedir de ninguém, fui correndo até entrada desviando da multidão de alunos tentando passar.
Até que senti alguém me puxando pelo braço assim que consegui sair. Era Matt.
- Ei, senti sua falta nessas férias, você não me deu muita atenção. Não quer passar lá em casa agora não? Sabe, a gente pode assistir um filminho, Netflix e tals...
- É... É que... Hoje eu não posso. Eu preciso resolver uns assuntos sabe?
- Que assuntos - pelo seu olhar percebi que ele estava desconfiando de algo.
- Uns probleminhas em cas.... - nessa hora aquela sensação de tontura voltou de novo e eu coloquei a mão na minha cabeça.
- Ana? O que foi? - Ele indagou firme.
- Nada! Eu só preciso ir, tá bom? Problemas femininos... Até amanhã! - falei ainda desnorteada e lhe dei um beijo apressado.
Tentei apressar o passo porque aquela sensação não ia passar tão cedo. E lá estava eu, em frente à aquele prédio horrível caindo aos pedaços, mas o que ninguém sabia, é que aquilo era só uma máscara para algo muito maior.
"Não acredito que depois de tudo que aconteceu estou aqui de novo, nesse lugar", pensei comigo mesma.
Quando entrei percebi que apesar de ter ido àquele lugar milhões de vezes, algumas coisas tinham mudado. A secretária, por exemplo.
- Oi, eu poderia falar com o Cameron, por favor? - falei impaciente.
- Qual o seu nome?
- Ana Campbell.
- Sr. Half não me avisou de você. A senhorita marcou horário?
- Que? Não! Eu só preciso falar com ele, por favor você poderia fazer a gentileza de o chamar?
- Sinto muito, você deveria ter marcado ou...
- Qual é o problema de chamá-lo? - falei coma voz um pouco alterada. O que fez com que começássemos uma discussão.
Como uma luz no fim do túnel, lá estava ele, saindo do elevador e vindo em minha direção.
- Tudo bem, Carla. Está tudo resolvido - Cameron colocou a mão no meu ombro e começou a me guiar até o elevador. Não me contive. Me virei e fiz cara feia para a tal Carla - Vejo que você percebeu que precisamos de você. - ele disse enquanto apertou o botão "39" do elevador.
- Poderia ter sido um simples chamado, sabe? Uma carta, um e-mail, uma mensagem. Vocês com esses métodos da idade da pedra! Eu me sinto como uma escrava.
- Não podemos correr o risco da agência ser descoberta e você sabe muito bem disso. Vamos indo, e sem chilique por favor! - Ele fez um sinal com a mão para que eu seguisse pelo corredor.
Entramos na mesma sala que eu costumava frequentar antes. Já haviam algumas pessoas sentadas em volta da enorme mesa de vidro no centro.
- Provavelmente você conhece boa parte das pessoas que estão aqui. Kira, Shane, Christopher - eu conhecia Kira e Shane. Já havia trabalhado com eles antes. No começo nos odiamos, mas depois de passarmos tanto tempo juntos, nos tornamos amigos. Acenei pra eles e eles retribuíram com sorrisos básicos. Já aquele Christopher, de fato eu nunca tinha visto.
- Enfim...
- Você não vai me explicar porquê eu estou aqui? Pensei que depois de ter ajudado a matar centenas de pragas, vocês não fossem mais precisar de mim!
- Não exagera, você ajudou a matar um grupo pequeno de lobisomens que chegou próximo a cidade. Não faça disso um grande feito, porque não é nada. O caso agora é bem mais complicado. Se tratam de seres mais poderosos, alguns com os quais nunca lidamos, que estão cada vez mais próximos de você. - Ele apontou o dedo pra mim e eu fiz uma cara de indignação e surpresa.
- Eu não sei do que você está falando, não sei.
- Claro que não. Tem usado seu colar identificador? Acho que não. - Quando eu acabei parando na Sociedade, fui submetida à uma séries de treinamentos, uns pesados outros não. Tudo para para poder enfrentá-los, os sobrenaturais, que chamamos de pragas. Me entregaram certos equipamentos para isso tudo. Um deles é esse colar. Se trata de uma pedra roxa, delicada, que brilha com a presença de seres sobrenaturais e me protege contra os mesmos, me deixando, segundo eles, imune à feitiços, hipnoses e outras coisas mais...
- Não. Porque eu pensei que não precisasse mais me preocupar com essas coisas. Pensei que já tinha cumprido meu papel!
- E cumpriu, mas só uma pequena parte inicial dele. Inclusive, isso tudo está só começando.
- Maravilha! - Ironizei com um sorriso imenso.
Não fiquei muito tempo lá. Cameron só explicou que eu em breve teríamos mais informações sobre o próximo problema.
Não percebi que a hora passou voando e provavelmente meus pais não aceitariam esse meu pequeno atraso muito bem, e o meu arsenal de desculpas já estava bem furado.

AscensãoWhere stories live. Discover now