Capítulo 15 - Coisas em Comum

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Elisa

Acordei na sexta-feira, dia seguinte a festa, com um barulho ao lado de minha cama. Mesmo assustada, não virei imediatamente para a direção que veio o som. Só conseguia focar minha cabeça no meu travesseiro.
Ouvi o barulho de novo e descobri que alguém estava batendo na porta do meu quarto. Pensei que fosse minha mãe, que não conseguiu entrar em meu quarto, pois estava trancado. Levantei e abri a porta. Tomei um susto e olhei para minha roupa.
- Relaxa. Você dormiu de fantasia - disse rapidamente, Caio - Pelo visto a noite foi boa. Gritei cinco vezes antes de você acordar.
- São quatro horas da manhã! Você é louco? - olhei no relógio - E não, a noite foi péssima. Primeiro, o dono da casa era muito avançado para o meu gosto. Segundo, a festa acabou sem nem ter começado direito. Lembra a Marisa, a única pessoa que tinha um bom coração naquela escola e veio falar comigo? Ela morreu.
- Eu sei. Por isso te acordei. Eu estava sendo irônico. Eu vi a notícia na televisão, enquanto seu pai assistia.
- Ele não estava no quarto de madrugada? Estranho... - eu disse e franzi a testa. - Nossa, eles se superaram agora. Coitada da Marisa, tendo sua vida exposta desse jeito.
- Os pais dela já prepararam o enterro. Vai acontecer hoje, no horário das aulas.
- Acho que eu vou. Pela Marisa. Vou avisar meus pais... assim que acordar - Enfiei o rosto debaixo das cobertas. 

- Se eu fosse você, trocaria de roupa. - Caio saiu.

Algumas horas depois, com Caio, já estava no único cemitério da cidade. Havia muitas pessoas, realmente tristes. Não via tantas pessoas assim desde a morte de meus pais. Passando os olhos pela multidão, reconheci duas pessoas. A própria Marisa e Paul, irmão de Caio.
- Olha lá seu irmão! E a Marisa perto dele. Achei que ela tinha ido para o "plano superior", ou algo assim! Parece que eram amigos. Vou até lá.
Caio tentou me impedir, mas percebeu que as pessoas estranhariam uma menina sendo puxada por uma força invisível.
Aproximando mais, percebi uma coisa que me deixou bem surpresa, mas pra melhor. Paul estava falando com Marisa, o que significava que ele também podia ver fantasmas!
- Oi, Paul. Lembra de mim.
- Lembro. Você era - sou - amigo do meu irmão. Você também conhecia Marisa.
- Sim - abaixei a cabeça e deu um oi triste para ela, que estava sentada no chão perto de Paul e de um casal, que julguei serem seus pais.
Paul ficou confuso.
- Eu também vejo fantasmas - sussurrei.
Assim que disse isso, senti uma mão me puxando levemente para o meio da multidão, mas finge só estar andando. Olhei para Caio com a mesma expressão de espanto. Porém, o enterro começou oficialmente após isso, então não falamos nada.

Quando quase todos foram embora, menos nós os pais de Marisa, resolvi conversar com os dois. Caio aproveitou a situação e desapareceu.
- Oi, de novo... Então, né... Não sabia que você podia ver fantasmas! Que legal! - eu disse, meia sem jeito.
- Sim. E você também. Sabe, eu andei convesando com a Marisa e ela disse que viu... Quando você conheceu meu irmão? - ele foi direto ao ponto.
- Você acha que eu conheci seu irmão depois da morte dele. Ainda bem, porque eu não sabia como te contar. Ele estava aqui agora mesmo. Mas acho que ele deve ter tido um imprevisto. Ele não pode ter ido muito longe.
- Eu não esperava que ele fosse querer me ver. Nós poderiamos conversar mais na escola. Agora, eu preciso resolver outro assunto - ele apontou para os pais de Marisa.
Aproveitei que ninguém estava olhando e aproveitei para dar um abraço na menina, que logo deixaria sua vida na Terra, ou pelo menos essa vida.
Andando mais um pouco, encontrei Caio conversando com uma senhora, em cima de um túmulo. Supus que aquele era o seu próprio, pois seria um falta de respeito sentar no local de descanso de um defunto.
- Eu conheço uma pessoa que pode te ajudar - disse meu amigo à senhora, e me viu chegando. - Olha ela ai.
A senhora virou para trás e, por um segundo vi um outro rosto no lugar do dela. Ela era realmente parecida com Ana, a menina de colar roxo, com quem eu havia tido uma conversa rápida, mas de extrema importância.
- Olá! - a cumprimentei, recebendo um "bom dia" de volta.
Ela parecia ser simpática, mas estava muito preocupada. Qualquer que fosse o seu problema, a próxima coisa que eu faria, seria solucioná-lo.
- Eu preciso de sua ajuda!
- Eu estou a sua disposição. Me diga qual a sua inquietação, que eu vou fazer o possível para ajudá-la.
- Preciso que você diga algo para minha neta. Ela é muito teimosa e, pelo que eu estou vendo, ela poderá não te escutar. Mas você precisa tentar. Eu estou há cinco anos aqui em cima de meu caixão, sem pode ir muito longe - respondeu ela, com uma postura cansada
- Mas por que você não encontrou nenhuma pessoa que poderia te ajudar há cinco anos.
- Eu não sabia qual era o problema até hoje, quando a vi desmaiar.
- E quem seria sua neta, senhora?
- Ana Campbell.
Fiquei assustada. Só hoje tive três provas de que o mundo é realmente pequeno. Mônica, como a senhora havia se identificado, disse tudo o que eu precisava saber. E quanto mais eu escutava, mas nervosa eu ficava.

Antes de ir definitivamente embora, voltei com Caio para o túmulo de Marisa. Inventei a ele que não tinha me despedido dela, mas na verdade eu queria ver outra pessoa. Chegando lá, puxei bem forte o braço dele, como se quisesse que ele se andasse mais rápido, até porque eu realmente estava demorando muito para voltar para casa. Encontrei Paul no caminho da saída do cemitério, mas só eu o reconheci por ter falado muito com ele anteriormente, e, por isso, Caio não se afastou. Marisa não estava com ele.
- Olha ali a Marisa - menti, dando uma explicação do porquê estavamos indo para o outro lado.
Corri até a saída e, vendo Paul, perguntei alto:
- Marisa se foi?
Caio parou de repente, mas quando ia se virar para voltar, Paul já o tinha visto.

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