— Não precisava se incomodar com isso.

— É só uma forma de passar mais tempo com você. – ela disse e arrastou o dedo indicador pelo meu braço até parar em minha mão e pega-la. — Já está podemos ir?

— Eu ainda preciso arrumar umas coisinhas. – ela juntou as sobrancelhas.

— Parece bom assim pra mim. – ela disse, mas assentiu depois. — Vou esperar.

— Entra, espera na sala. Meu pai não está em casa hoje. – ela riu e pediu licença ao passar pela porta.

— Dona Milika, certo? – ela disse quando minha mãe apareceu na sala, beijou o rosto dela e falou algo sobre o cheiro bom que vinha da cozinha.

— Nada de perguntas. – eu sussurrei para minha mãe depois de acomodar Normani no sofá ao lado de Seth que ficou animado. Era incrível como ela conseguia alegra-lo.

Subi correndo as escadas querendo me arrumar o mais rápido possível e pedindo a Deus que nem meu irmão, nem minha mãe importunem Normani com perguntas.

Quando voltei a sala ela estava sentada no chão de pernas cruzadas e montando algo no LEGO enquanto Seth observava aparentemente maravilhado.

— Ela é uma boa pessoa, Dinah. – minha mãe falou baixo para que só eu ouvisse. Mas pelo risinho de Normani eu percebi que ela havia escutado também. — Seu irmão gosta muito dela.

— Agora não, mãe. – eu beijei sua bochecha e fui chamar Normani antes que começasse a história de dar uma chance para o amor, que eu já estava ficando velha e blá blá blá. — Podemos ir?

— Claro. Eu estava explicando algumas coisas do corpo humano pro seu irmão. – ela sorriu e se levantou.

— Você devia mostrar pra DJ também. – ele disse animado. — Isso é muito legal!

— Se a DJ quiser, eu posso mostrar a qualquer momento. – seu tom malicioso passou completamente despercebido para Seth que apenas bateu palmas animado, mas o arrepio que percorreu minha espinha foi o suficiente pra eu saber que meu corpo havia identificado e reagido a ele muito bem. — Qualquer hora nós continuamos essa conversa, pequeno gafanhoto.

— Eu já sou grande. – ele disse e ficou de pé, colocou a mão na cabeça para mostrar a altura. Mani riu e estendeu a mão para que ele a apertasse.

— Claro que é, esse é só um nome. – ela riu e se virou para mim. — Você está muito bonita, DJ.

— Você também... Mani?

— Mani está ótimo. – ela sorriu e deixou que eu fosse na frente e abrisse a porta de casa, gritou um tchau para minha mãe e abriu a porta do carro para mim. — Como foi seu dia?

— Normal, o mesmo de sempre. E o seu? Deve sempre ter algo novo num hospital.

— As vezes tem mesmo, hoje um garotinho disse que se casaria comigo. Ele é filho de uma enfermeira então sempre vai lá. – ela sorriu magnificamente, acho que se lembrando. — Enquanto crianças, homens são muito interessantes. O que será que se passa na mente de um garoto de 5 anos que quer se casar comigo?

— Talvez ele te ache muito bonita. – eu falei e ela olhou para mim profundamente por alguns segundos antes de voltar a olhar para a rua. — Ou crianças gostem de alguns médicos. Quando eu era criança minha dentista era tão linda e legal que eu jurava que ia namorar com ela, e agora a filha dela que é só alguns anos mais velha que eu é minha dentista. Talvez eu tenha dito que iria casar com ela também, mas sob influência de álcool não conta.

— Então você tem crush na sua dentista? Deve ser bem estranho. – ela falou séria. — Ela olha seus dentes.

— É porque ela é realmente muito interessante, mas isso não vem ao caso.

— Qual filme você quer assistir? – ela mudou de assunto e parou no sinal vermelho e se virou para mim.

— Pode escolher, você que vai pagar. – eu falei e ri, Normani sorriu e se inclinou um pouco para o meu lado. — Um filme de aventura seria ótimo.

— Eu preciso fazer isso... – ela mal terminou a frase e me puxou para um beijo. Um beijo tão bom. Só nossos lábios se tocando. Uma buzina fez ela se afastar, ainda sem pressa. — Não acabamos, DJ.

— Não mesmo, doutora. – eu falei me arrumando no banco novamente. Peguei meu celular e comecei a falar dos filmes que estavam em cartaz. Mani riu antes de fingir que nada havia acontecido junto comigo.

— Marvel é a melhor. – ela falou depois que decidimos assistir a continuação dos Vingadores. — Você tem certeza que é esse que quer?

— Absoluta. – eu sorri e fomos para fila comprar os ingressos. — Vou pegar a pipoca.

— Hey, deixa que eu pego depois. – ela disse segurando no meu braço já que eu havia dado um passo em direção ao outro lado.

— Direitos iguais, Normani. – sorri e ela rolou os olhos.

Normani estava me esperando encostada na parede, entreguei para ela o refrigerante e a pipoca.

— Muito obrigada. – ela disse formal. Eu ri.

— Qual é? Não vai morrer por comer uma pipoca que eu paguei.

— Saiba, Dinah Jane, que o número de pacientes que chegam ao hospital por conta de pipoca na garganta é... – dei um selinho rápido nela.

— Vamos sentar ali no canto? – ela só assentiu e me seguiu. — Eu acho que te dei o meu refrigerante. – eu estiquei o braço pedindo que trocassemos e ela ficou encarando meu pulso por um tempo.

— Você se cortava, Dinah? – ela perguntou da maneira mais suave que essa pergunta permitia.

— Eu era uma adolescente cheia de problemas. – sorri sem graça e dei ombros pegando a lata que ela colocou na minha mão e entregando a dela.

— Podemos conversar sobre isso depois, se você quiser. – ela disse passando o dedo nas pequenas e quase invisíveis cicatrizes.

— Acho que sim.

— Está tudo bem? – eu assenti e ela continuou a me encarar interrogativamente.

— É sério, Mani. Está tudo bem, só não queria que você soubesse e ficasse pensando coisas...

— Eu não estou pensando nada, Dinah. Você que me conta depois e aí eu penso. Não vou te julgar, ta? – eu sorri e assenti. Mani se afundou na cadeira de maneira confortável e pegou sua pipoca e começou a comer enquanto ainda passavam os trailers. Eu fiquei observando-a, ela era tão linda, tão delicada e ao mesmo tempo tão forte, seus traços, seu jeito... Quem a olhasse iria jurar que ela era uma filha de Afrodite - se não a própria deusa - perdida no mundo.

Normani pigarreou e sem olhar pra mim falou que eu iria perder o filme. Eu ri baixo e me ajeitei confortavelmente na cadeira assim como Mani e passei a olhar o filme. Ela estava tão dentro do filme que era possível ouvir suas reações sonoras as cenas, eram suspiros, algumas vezes ela falava "ai" como se estivesse sentindo a dor. Quando sua pipoca acabou - na metade do filme - ela abriu seu refrigerante sem tirar os olhos da tela e pegou meu canudinho com um risinho e usou na lata dela.

— Isso é injusto, Normani. – eu sussurrei e ela bebeu sem se importar com o que eu dizia. — Como eu vou beber?

— Pode ficar com esse, é só que eu estava com preguiça de abrir. – ela me entregou seu canudinho ainda dentro do papel e sorriu. Eu fiz cara feia enquanto abria a embalagem.

Mani passou sua mão pelo "braço" da minha cadeira e entrelaçou seus dedos nos meus, ela sorriu olhando para mim e deitou a cabeça no meu ombro. Eu não sei porque, mas sua proximidade não me fazia achar estranho nos conhecermos a pouco mais de uma semana. Na verdade, só me era estranhanho a falta dessa sensação. Eu me sentia bem, me sentia livre perto dela. E isso era totalmente novo.

State of Grace - NorminahWhere stories live. Discover now