Capítulo 1

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Point of View - Normani Hamilton

Tinha sido mais um longo dia. Mais um plantão. Meus olhos pesavam e eu estava com uma dor nas costas que talvez só fosse resolvida depois de um mês numa cama de massagem.

- Há quanto tempo está aqui, Mani? - Lauren me perguntou enquanto eu enchia o quinto copo de café que eu tomava na última hora.

- 18 horas - eu suspirei - Não sei por que aceitei esse plantão. Deveria ter ido para casa.

- Nada é em vão, doutora Hamilton - Lauren me disse com a mesma voz que falava com seus pacientes, ela era psicóloga no piso superior do hospital.

- Obrigada, Laur - ela sorriu e me deu um beijo na bochecha e saiu da sala cantarolando uma música infantil - A única coisa que estou recebendo são olheiras na minha cara - eu bufei e fui a caminho da minha sala.

Uma enfermeira me parou no meio do caminho e entregou-me uma chapa de raio-X, eu fui até a sala de espera e uma mulher grande estava sentada de cabeça abaixada com um garoto ao seu lado, Seth, era o que estava escrito no papel.

- Seth?Eu sou a doutora Normani - ambos me olharam, a moça estava com os olhos marejados e o nariz um pouco vermelho, assentiram para mim - Podem vir comigo. Não aconteceu nada muito grave, mas eu vou enfaixar o braço dele para imobilizar.

- Vai doer? - eu fiquei confusa pelo fato de Dinah, que eu descobri ser a irmã mais velha dele, ter feito essa pergunta.

- Não... Acredito que não. - Eu disse e coloquei Seth sentado na maca de minha sala.

Foi bem rápido, ele não chorou ou reclamou já Dinah parecia prestes a entrar em colapso.

- Eu vou ganhar um pirulito? - Seth perguntou se sentando na cadeira em frente a minha mesa. Eu ri enquanto prescrevia remédios contra dor.

- Eu não tenho nenhum doce - eu disse olhando em minhas gavetas, muitas crianças tinham passado por aqui hoje. A carinha de triste dele me derreteu por completo, eu era mesmo uma boba com crianças. - Eu já estou indo embora, a gente pode passar na lanchonete perto da saída que eu te dou algo. O que aconteceu que acabou nesse machucado? - eu perguntei para Dinah que estava olhando um ponto fixo atrás de mim.

- Foi culpa minha.

- Eu cai - Seth explicou.

- Porque eu estava ocupada com um trabalho e deixei-o tomando banho sozinho. Foi tudo culpa minha.

- Acidentes acontecem - eu falei entregando a receita para ela.

- Esse acidente poderia ser evitado - Ela falou e fungou - Muito obrigada, doutora.

- Hey, eu vou mesmo dar o tal doce - eu falei quando eles saíram da sala - eu só preciso pegar minhas coisas.

- Não precisa se incomodar - Dinah sorriu de canto.

- Eu insisto - ela olhou para Seth que sussurrou um "por favor". Sorri largamente quando ela assentiu para mim.

- Normani - era Lauren, ela cumprimentou-os com um sorriso e entrou na minha sala comigo - O que foi isso?

- O garotinho me pediu um pirulito, mas acabou...

- Vou fingir que foi disso que eu estava falando - ela me interrompeu e eu rolei os olhos - Preciso da sua ajuda.

- Não.

- Você ainda não me ouviu.

- Eu sei - dessa vez ela que rolou os olhos.

- Olha, quero que você me faça um favor, fica com a Alexandra amanhã pra mim e pra Camz? - ela me lançou um olhar fofo. Como eu odiava quando ela fazia isso.

- Amanhã não é sua folga? - perguntei desviando meu olhar do dela e pegando minha mochila.

- E a da Camz também. Sabe como é... - Lauren corou e não terminou a frase. Eu parei e fiquei a encarando, segurei a risada.

- Não entendi - fiz minha melhor cara de sonsa.

- Mani, por favor... Nós não vamos ter privacidade com uma criança de cinco anos em casa.

- Essa "criança" saiu de você, Lauren - eu ri. Ela fez um bico e me olhou com aqueles olhos verdes brilhantes. - Droga! Okay, eu fico com ela. Que horas vai leva-la em casa?

- Ela sai da escola as 17 - ela me disse alegremente. - Pode esperar na saída que ela te encontra.

- Como assim? Eu tenho que busca-la também? - ela ia novamente fazer a cara de pidona, eu bufei - Okay!

- Ela te ama. E você sabe que ela é um amor.

- Eu também amo ela. E carrego um respeito enorme pela minha folga. - Lauren riu e me deu um beijo na testa assim que eu fechei a porta - Some da minha frente, Jauregui.

- Eu te amo, Mani. Muito obrigada.

- Pelo menos faça sua foda valer a pena - eu falei baixo e ela corou olhando para os lados para ver se ninguém tinha ouvido - Vou conversar com a bunduda depois.

- Respeita minha mulher. Tenho que ir - ela me abraçou rapidamente - Até depois de amanhã.

Eu dei um tapa bunda dela antes que Lauren saísse saltitando para a saída. Ela era sempre tão alegre.

Eu comprei um donut para Seth e um cappuccino para mim, Dinah negou e insistiu que não queria nada.

- O que aconteceu? - eu perguntei enquanto observávamos Seth comer alegremente - Quero dizer, com Seth, o que aconteceu?

- Eu o deixei tomando banho, eu estava tão ocupada com meu trabalho da faculdade que deixei ele sozinho, eu só ouvi o barulho quando ele caiu e seu choro... Poderia ter acontecido algo grave, sabe? Me sinto culpada.

- Acidentes acontecem, com crianças no banho então, é a coisa mais comum do mundo.

- Minha mãe vai ficar furiosa, ela me diz sempre pra não deixar ele sozinho. - ela respirou fundo e prendeu os cabelos num coque - Pensei que não ia acontecer nada demais.

- Não foi nada demais - eu disse - Daqui a quinze dias tudo vai estar tão normal quanto antes.

- Obrigada - ela sorriu de lado. Não pude deixar de notar o quão bonita ela era.

- Dinah! Vamos? - Seth correu até nós e deitou a cabeça na perna da irmã.

- Vou ligar para o taxi - ela o avisou e se levantou - Mais uma vez, obrigada.

- Não por isso - eu sorri e apertei a mão dela - Mesmo com essa situação, foi um prazer conhecê-la. E Seth, tome cuidado.

- Pode deixar - ele assentiu e nós saímos indo por caminhos contrários no estacionamento. A chuva começou bem repentinamente. Assim que fechei a porta do meu carro. Agradeci mentalmente por aquilo.

Eu sai devagar do estacionamento, estava tudo escuro. Fiquei pensando em Dinah. No modo como ela puxou toda a culpa para si quando na verdade não havia feito nada. Pensei em como seria lindo um sorriso verdadeiro dela. Observei duas silhuetas na chuva, uma alta e outra pequena e encolhida. Só podia ser brincadeira do destino. Diminui a velocidade e abaixei o vidro do lado do passageiro.

- Alguém está precisando de uma carona?

State of Grace - NorminahOnde as histórias ganham vida. Descobre agora