--39-- Dia de merda!

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A sexta feira já começou bem, acordei tarde e não consegui ir para a academia pela manhã, a hora do almoço foi constrangedora com aquela cena com o Felipe - como será que está as partes baixas dele? - fui para academia depois do almoço, discuti com o instrutor da tarde e agora meu irmão resolveu testar minha paciência.

Cinco minutos antes.

- vai trabalhar hoje? - pergunta meu irmão se sentando ao meu lado no sofá.

- yeeesss! - respondo sem tirar os olhos da TV.

- quanto você ganha naquela espelunca?

Reviro os olhos. - lanchonete.. Bar e lanchonete! - Corrijo impaciente.

- quanto? - ele insiste.

- novecentos dólares mais gorjeta! - respondo em fim.

- ta de sacanagem? Fica lá até as 23h, as vezes até as 2h da manhã, usa aquele uniforme ridículo e indecente pra ganhar essa miséria? - fala com tom alterado. Tudo que eu precisava era de uma conversa dessa à essa hora. Tá de sacanagem.

- é Luíz, é só isso! - não estou com um pingo de paciência.

- não admito isso! Você correr risco trabalhando num lugar desses tarde da noite por uma esmola dessa! - agora seu tom já estava completamente alterado.

- é o eu trabalho! - falo firme.

- era! Pode pedir demissão, não aceito você lá mais de forma alguma! - como assim ele não aceita? Quem decide isso sou eu!.
- quem decide isso sou eu!- falo nervosa olhando pra ele desssa vez.

- vai começar uma faculdade, pode ir procurando uma, começo do ano que vem você começa, já que esse ano ja está quase acabando! - começo uma ova, se eu quiser eu começo.

- não! Não fiz antes e não farei agora! - falei teimosa. - Eu estava doida para começar a estudar, isso não é nenhuma novidade, mas ele não pode chegar assim mandando em mim, eu vou fazer faculdade porque eu quero, porque nunca pude, não porque ele está mandando! Euem!

- você não tem que querer, pode ir pesquisando, ano que vem você começa.

- posso até começar, publicidade sempre me interessou muito, mas só quando eu quiser e principalmente no ano que eu quiser, e tem mais, acostume com meu emprego, pois não vou sair. - falei terminando em quase grito. Assim que terminei saí da sala. Eu ia sair e estava decidida mas só pela petulancia, vou ficar mais um tempo, ele me pegou em um péssimo dia!

- VOLTE AQUI IZABELA, NÃO TERMINEI DE FALAR COM VOCÊ...- o deixei falando sozinho. Era só o que me faltava.

***
Agora

Tirei um cochilo após a cena de tpm do meu irmão e acordei já na hora de me arrumar para trabalhar.

Me arrumo e saio sem me despedir, meu irmão não tem mais ido todas as noites na boate, agora ele colocou na cabeça de construir um escritório, onde ele teve a brilhante idéia de expandir seus negócios. Como? Simples. Ele oferece o nome e o modelo da boate, a pessoa compra e passa ter uma Verdant de alto nível para ela. É como uma hipoteca, só que de boate. Funciona como essas lojas de rede, como McDonald's, Bob's, C&A e etc. Ele vende a franquia, as pessoas compram. Meu irmão fornece a marca, os clientes os preços e etc. Um ótimo negócio. Tenho que admitir.

Voltando ao meu humilde trabalho, eu já havia chegado, hoje meu turno vai até as duas, já estou desanimada só de pensar que ainda são seis da tarde. Hoje definitivamente vai ser trabalho escravo. Em plena sexta.

As horas passam em câmera lenta, o fluxo de clientes hoje é grande mas mesmo assim parece que o tempo parou de meia em meia hora ficando exatas meia hora parado e voltando a parar meia hora depois. Durou uma eternidade para dar onze horas, graças a Deus, só faltam três horas para eu ir embora. Normalmente eu não fico assim, mas a discussão com meu irmão hoje me deixou abalada, e confesso que um tanto pensativa. Eu realmente trabalho muito aqui e ganho pouco, meu salário antes de morar com meu irmão não dava para quase nada, suei a camisa para pagar minha moto que não foi nada barata, aliás terminei de pagar um pouco antes de morar com meu irmão. O fato é, agora não gasto com nada então deixei de pensar no quanto eu ganho, ou não ganho como no caso. Realmente é pouco se comparado a despesas... Mas como não tenho nenhuma, meu irmão paga tudo, para mim está tranquilo ficar aqui.

- Ei boneca. Me trás uma cerveja e umas batatinhas fritas. Não demora delícia. - me chama um coroa e pisca quando termina seu pedido.

Certo, não tão tranquilo assim ficar aqui, mas não é nenhuma novidade que isso acontece, ainda mais usando esse uniforme que parece um convite de sobremesa. Sobremesa essa como sendo meu corpo. Eca. Me arrepio só de imaginar aquele velho nojento em cima de mim. Seus dentes eram a maioria de ouro, seu cabelo era cacheado e grisalho até o ombro, na cabeça usava um bandana preta. Vestia uma blusa preta que agora é cinza desbotado com uma banda na estampa, uma jaqueta de couro preta batida com uma caveira em uma moto pegando fogo estampada atrás com a frase embaixo; Motoqueiros da Morte. Reviro os olhos. Que clichê. Nunca ví mais ridículo. Os seus amigos na mesa não tinham muitas diferenças, a não ser por suas caras, cada um tinha sua feitura própria e exótica. Não vou nem falar do odor que eles exalavam. Uma perturbação as minhas narinas. Poluição pura.

Enfim deu duas horas da manhã. Hora de me mandar daqui. O coroa da Morte piscou para mim a tempo todo, estava quase achando que ele estava com algum problema nas pálpebras porque não era possível, provavelmente algum tipo de síndrome no olho. Com certeza.

Enfim tiro meus patins já no estacionamento, guardo na mochila e a jogo nas costas. Subo na moto descalça, giro a chave e aperto no botão de ligar. Nada. Aperto de novo. Nada. Olho no painel e percebo o ponteiro da gasolina a baixo da reserva. Que ótimo, o tanque estava cheio quando cheguei.

Desci da moto, dei uma olhada no tanque; vazio. Procurei pelo chão por sinal de vazamento; tudo seco. - ótimo, roubaram minha gasolina. Fila das putas. - peguei meu celular e ligo para meu irmão.

No quinto toque ele atendeu com voz de sono.

- alô!

- Luíz, é a Bela, roubaram a gasolina da minha moto, to aqui no estacionamento do bar.

- maravilha! - diz ainda sonolento. - porra to aqui na casa da Bih e já dormindo! Vou te matar cara...

- deixa, pego um taxi! - falo com raiva. A casa da Bih era um pouco longe, confesso que seria um saco sair de lá só pra me buscar.

- táxi ô caramba uma horas dessa. Aguenta aí, vou ligar pra um dos caras te buscar, devem estar na boate, vou ver o que ainda não está bêbado.

- tudo bem, tchau!

- tchau! - tu, tu, tu ,tu... Desliga.

Guardo o celular, puxo minha moto e a guardo em um ponto mais escondido, já que ela vai passar a noite aí melhor que ninguém a veja.

Sento na calçada e aguardo abraçando minha mochila no meu colo entre meu peito e joelhos e baixo a cabeça sobre ela.
Já estou até vendo a falação do Luíz no meu ouvido amanhã. Péssimo dia para roubarem minha gasolina, PÉSSIMO!

BIII, BIII . Ouço uma buzina do meu lado e dou um pulo de susto. A boate era aqui do lado praticamente então não demorou quase nada. Levantei e olhei para o carro com a intenção de reconhecer qual era e de quem. Qual é? Só pode estar de sacanagem. De todos os amigos porque logo ele? Porque você Felipe? Porque ele não podia estar bêbado e vim sei la... O matheus?
Ele abaixa o vidro do carona e olha para mim de pé em frente a porta.
- vai ficar aí a noite toda?

Bufo e entro no carro, a última vez que vi o Felipe ele estava arqueado, vermelho, com as mãos nas bolas e se contorcendo de dor. Por culpa única e inteiramente minha que o acertei com o joelho bem no meio de você sabe onde hoje no almoço. A sensação que tenho não é boa, e algo me diz que ele não ta feliz comigo. Definitivamente.

O caminho até em casa sera longo... Muuuito longo.

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Insta: thaiskiisterb: qualquer dúvida respondo lá.

Eu e o melhor amigo do meu irmão - ATUALIZANDO 2019Onde as histórias ganham vida. Descobre agora