Uma nova vida

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Meu novo quarto era bem pequeno, tinha uma cama, um armário ao lado dela, e um espelho bem grande na parede, o banheiro era bem ao lado, tomei banho e coloquei as roupas que Archer me deu.
Fui para a sala, aonde tinha um banco de madeira, Snake e Archer já estavam lá sentados me esperando como disseram que fariam.
- Como está se sentindo?- Snake perguntou nervoso.
- Eu estou...normal, eu acho.
- Muito bem, sente-se, por favor.
Eu me sentei no banco e ele se levantou, ficando de pé na minha frente.
- Como você sabe vive em uma sociedade agora, e toda sociedade tem regras, certo?
- Certo.
- Na Cidadela existe um novo tipo de sociedade, que foi criada para que os humanos convivam bem.
- E nós não tínhamos um bom convívio, antes da epidemia?
Ele me olhou com horror nos olhos Archer também me olhou assim.
- Claro que não! Humanos se matando, fazendo crueldades, achava aquilo normal?
- Só, vivíamos em um mundo mais caótico e tal mas e daí? Eu nem ligava para aquilo na época.
- Olha, entendo você, todos nós queremos nossas antigas vidas de volta...mas temos uma nova vida aqui e precisamos que aceite isso.
- Eu...não sei.
- Blade, você aceita sua nova vida?
Eu pensei por um tempo, tanta coisa precisava ser deixada para trás, Aaron, minha família, meus sonhos, mas realmente tinha que ser deixado para trás.
- Aceito.
- Muito bem, vou te explicar as regras mas preciso que esteja atenta, ok?
- Ok.
- A primeira regra é: Sem agressão física a outros humanos.
- Então eu infringi uma regra quando cortei seu braço?
Archer olhou para ele confusa.
- É... quase isso.
- Ah.
- A segunda regra é: Não usar palavras agressivas ou ofensivas com outros humanos.
- Ofensivas do tipo?
- Palavrões ou xingamentos.
- Ok.
- Terceira regra: Não fazer nada para alguém sem o consentimento dessa pessoa.
- Então, por exemplo, se eu quiser cozinhar para alguém, não posso fazer isso a não ser que tenha a permissão dela?
- Exatamente.
- Tá, pode continuar.
- Quarta regra: Não diga seu verdadeiro nome a outras pessoas a menos que se sinta confortável para dizê-lo.
- Prossiga.
- Quinta regra: Não roube nada de outro humano.
- Ok, próximo.
- Acabou, é simples, se segui-las vai conviver bem.
- E se eu infringir qualquer regra?
- Bom... se infringir a primeira regra...
Archer olhou para ele e depois para mim.
- Você é eliminada.
- Como assim "eliminada"?
- Morta.
- Não parece tão ruim.
- Blade, se você morrer significa uma perda na humanidade, o que é muito ruim, na nossa situação.
- Sei que estamos em menor número e pode até ser ruim para a humanidade mas...
- Mas...?
- Às vezes, você pensa que não tem mais sentido...sabe? A sua vida.
- Sei bem como se sente Blade.
- Sabe?
- Sei sim, mas não precisa se sentir assim.
- Por que acha que não?
- A vida é boa Blade, se conseguir fazer com que seja.
- Admiro seu otimismo.
- Obrigado, mas, por que?
- Porque não é verdade! Snake, dá só uma olhada, estamos condenados, não existem mais cientistas, não vamos achar a cura pra morbo, a raça humana vai desaparecer!
- Blade, fica calma.
- Eu... estou tentando tá? Mas não é fácil!
Archer se levantou e disse:- Blade, se você ficar nervosa vai ficar difícil argumentar, então precisamos que você tenha paciência conosco e fique o mais calma possível, só queremos que fique bem, ok?
Eu respirei fundo.
- Ok.
- Desculpe se meu irmão te incomodou ou coisa assim.
Ela olhou para ele franzindo as sobrancelhas.
- Não foi nada.
- Temos que ficar amigos se quisermos ter uma boa convivência, então vamos começar dizendo nossas idades, tenho quinze anos.
- Eu tenho dezessete.
- Tenho dezenove anos- Snake disse.
- Legal.
- Lembra da data do seu aniversário?
- Não...
- Ah.
- Por que a pergunta?
- Costumamos nos lembrar.
- Bom saber, agora, posso me retirar?
Ele assentiu.
- Obrigada.
Fui para o meu quarto e me deitei na cama, eu pensei em tanta coisa da minha vida antiga, a que eu havia aceitado esquecer, mas no fundo, tenho quase certeza de que não vou conseguir.
A Cidadela é legal e as pessoas são maravilhosas, ter Snake e Archer como amigos é realmente gratificante, mas tenho saudades de alguém, e esse alguém não sai da minha cabeça de jeito nenhum!
Quando lembrei do que tinha acontecido, tive uma vontade terrível de chorar, mas eu não iria chorar, se me vissem me achariam fraca e não quero que ninguém me subestime, odeio quando fazem isso.
Eu percebi que estava com sono, por mais que ainda fosse cedo eu tentei dormir, de todos os jeitos, era uma das únicas maneiras de eu não desabar em lágrimas.
Então eu apenas dormi...

Diário de uma sobrevivente_Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora