A cidade do perigo

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Estávamos chegando perto da cidade, eu não tinha a mínima ideia do que iríamos fazer.
- Dá pra me dizer aonde estamos indo?
- Vou dar uma dica, precisamos achar um posto de gasolina.
- Vai pegar um carro?
Ele assentiu.
- Por que?
- Andar cansa muito, sabia?
Eu comecei a rir.
- Mas, você sabe dirigir?
- Sim.
Quando chegamos na cidade, começamos a andar mais rápido, eu sabia que se não achassemos algum posto e algum carro antes do sol se pôr as coisas ficariam difíceis.
Eu parei de andar quando escutei alguém chorando.
- Aaron, ouviu isso?
Ele parou de andar também e olhou em volta.
- Maníacos choram?
- Eu não sei.
Ele pegou nossas armas dentro da mochila e me deu a minha, eu tentei me concentrar no som para ver de onde vinha e comecei a andar para o lugar que o som parecia estar sendo produzido.
Até que achei uma garotinha, parecia ter de oito a dez anos de idade ela estava com a cabeça apoiada nos joelhos.
Aaron não tirava os olhos dela, segurava a arma firmemente como se tivesse esperando alguma coisa acontecer.
- Como é seu nome? Perguntei.
- Julie.
Ela respondeu sem olhar para mim.
- Por favor moça, vá embora.
- Nós não vamos te machucar.
Ela levantou a cabeça devagar, os olhos dela estavam verdes, mas não eram verdes naturais, eram um verde muito escuro, eram do verde que seus olhos ficam quando você pega a doença.
Quando Aaron viu apontou a arma para ela, a garota começou a chorar mais ainda.
- Aaron não atira!
- Kim, a gente não tem escolha!
- Ela é só uma criança, não tem culpa!
Eu fiquei na frente dele.
- Kim, deixa de besteira, sai da frente.
- Não vou deixar você fazer nenhum mal a ela.
- Ela é um deles! Por causa de coisas como ela, perdemos praticamente a humanidade inteira!
- Ela não sabe que tem a doença! Ela não sabe que é maníaca, não tem a mínima ideia do quanto é perigosa.
- É exatamente por isso que devemos matá-la.
- Não, Aaron, é exatamente por isso que ela é inocente.
Eu peguei a arma da mão dele.
- Me deixa resolver isso, tá?
- Tá, mas se ela te machucar eu juro que eu não vou ter o mínimo remorso em matar ela.
- Ela não vai me machucar.
Eu fui até a garotinha.
- Você disse que não queriam me machucar!
- Desculpa, ele ficou muito nervoso.
- Por que?
- Não importa, mas, você precisa me escutar.
- Tá bom.
- Ache algum lugar seguro e se esconda, evite sair de lá.
Eu peguei uma maçã e dei para ela, que estranhou, ela examinou a maçã.
- Como vou saber que não está envenenada?
Eu peguei a maça e comi um pedaço.
- Viu? Sem veneno.
- Obrigada moça.
- Agora corra e se esconda.
Ela assentiu e correu para um prédio abandonado, Aaron estava nervoso.
- Ótimo, como vai saber que ela não vai seguir a gente?
- Aaron, confia em mim.
Ele baixou a cabeça, acho que é isso que ele faz quando fica nervoso ou com vergonha.
- Desculpa Kim...
- Eu sei o que estou fazendo, agora precisamos ir, ok?
- Ok.
Andamos bastante, até que achamos um posto de gasolina e por sorte, tinha uma caminhonete lá perto, Aaron abasteceu a caminhonete e quebramos o vidro, a chave estava lá dentro.
- Aaron, tem alguma coisa errada.
- Por que?
- Não sei, foi muito fácil entrar e achar a chave.
- Está reclamando da nossa sorte.
Ele riu, neste momento escutei um barulho mas ignorei, quando alguma coisa me chuta e eu caio no chão, eu olho pra cima e vejo uma mulher ruiva apontando uma arma pra mim.
- Fica no chão ou vai morrer!
Obedeci e fiquei sentada, Aaron apontou o revólver para ela.
- Larga a arma ou atiro na garota.
Ele olhou para mim e largou o revólver no chão.
- O que as duas crianças estão fazendo? As leis já não existem mais, mas roubar coisas ainda é errado.
- Desculpa moça, eu e a minha namorada não sabíamos que tinha dono.
- Tudo bem, chega de brincadeira, são maníacos?
- Não.
Ela olhou bem para nós, eu continuava em silêncio, Aaron parecia não ter medo de respondê-la.
- Muito bem, são humanos, certo?
- Sim.
- Ok, sou Jeanette.
- Olá Jeanette, sou Aaron e essa é a Kimberly.
Eu continuava no chão, Jeanette deu uma gargalhada ao me ver.
- Pode se levantar garota, não vou matar você.
- Como vou saber que não vai mesmo?
- Somos todos humanos, agora não temos que nos matar e sim nos ajudar.
Eu levantei do chão e peguei na mão do Aaron, percebemos que estava anoitecendo.
Jeanette correu para o carro dela e pegou uma outra chave, ela jogou para mim, eu peguei a chave e olhei para ela confusa.
- Está vendo aquele outro carro preto do outro lado da rua?
Ela apontou para lá e eu assenti.
- Abasteçam e fiquem com ele.
- Como tem a chave desse carro?
- Eu sou mais esperta que vocês dois.
Ela piscou e ligou o carro.
- A propósito, obrigada por abastecerem pra mim.
Ela deu partida e fomos correndo abastecer o carro, quando Aaron terminou de abastecer ele dirigiu até a floresta.
Anoiteceu, estava tão escuro que se não fossem os faróis do carro não conseguiríamos enxergar nem um palmo de distância a nossa frente.
Chegamos no abrigo depois de mais ou menos 35 minutos, foi bem mais rápido do que eu imaginei que seria.
Aaron estacionou o carro e desceu, eu fiz o mesmo e entrei no abrigo, eu estava tão cansada que mal conseguia abrir meus olhos, Aaron chegou no quarto e quando me viu, percebeu meu cansaço.
Ele deu um sorriso e logo depois me deu um beijo na testa.
- Boa noite Kim.
- Boa noite.
Eu apaguei poucos minutos depois.

Diário de uma sobrevivente_Livro 1Where stories live. Discover now