Histórias de vida

10.8K 597 36
                                    

A noite estava escura e gelada, porém serena, a lua iluminava parte do lado de fora, porém dentro do abrigo só havia uma vela iluminado o dormitório, e a lanterna iluminando a escada, minha perna ainda doía muito, só de lembrar do que aconteceu hoje mais cedo tenho calafrios.
Aaron estava lendo um livro, ele tem muitos desses.
- Como conseguiu guardar tantos desses? Perguntei calmamente.
- Há três anos atrás, a tecnologia estava começando a sumir, eu queria ter passatempos então eu...
Percebi que ele enrusbeceu, não sabia se era nervosismo ou vergonha mas logo depois caiu a ficha.
- Você roubava?
Ele assentiu e abaixou a cabeça, fui até a cama dele e me sentei ao seu lado.
- Não precisa ter vergonha, eu também precisei roubar muito desde que a epidemia começou.
- Você já roubou?
- Sim, qual o problema? Estamos no meio de uma catástrofe mundial é direito nosso lutar pela nossa sobrevivência.
- Não é isso, é que não imagino alguém como você fazendo coisas ruins.
- Por que?
- Eu sei lá.
Ficamos em silêncio por um tempo até que perguntei:- Qual a sua história Aaron?
- É bem longa e chata.
Deitei e coloquei a cabeça no colo dele.
- Não me importo de ouvir, temos tempo de sobra mesmo.
Ele riu mas logo depois ficou sério.
- Eu cresci até os dez anos em um orfanato, aos onze fugi de lá pois não aguentava mais aquele lugar, eu sabia que ninguém iria me adotar mesmo, então conheci um homem, um traficante, ele me ensinou tudo que sei hoje sobre armas e outras coisas, ele me acolheu como um pai, seu nome era Quentin.
- O que aconteceu com ele?
- Bom... quando eu tinha treze anos a epidemia começou, eu e ele vivíamos fugindo de maníacos, eles eram bem mais agressivos antes, um dia nós saímos para procurar comida e fomos atacados por três maníacos... eles... Quentin morreu tentando me salvar.
Notei que ele estava se segurando muito para não chorar.
- Mas, então Kim, qual é a sua história?
- Eu era uma garotinha normal de doze anos, eu vivia no Texas, meus pais eram fazendeiros, eu amava minha vida, era tão simples e perfeita, eu não queria mais nada, até que um dia a epidemia começou, meus pais não queriam sair de casa então continuamos lá, até que um dia dois maníacos conseguiram entrar na minha casa, eles mataram minha mãe e meu irmão na minha frente...

Meus olhos começaram a se encher de lágrimas eu senti que não tinha forças para continuar contando aquilo, mas continuei.

- E meu pai...pegou a doença e cometeu suicídio, eu fiquei escondida no porão da minha casa por dois anos, aos quatorze decidi fugir com a arma do meu pai.
- Era um revólver? Aaron perguntou tentando me animar.
- Não, era uma espingarda... então cheguei em aqui em Chicago um ano depois e me abrigo por aqui há dois anos.
- Tá, e como conseguiu o revólver?
Ele ainda tentava me animar eu dei um sorriso e disse:- Eu roubei.
- Sério?
- Sim.
- Parece que não sou o único cara mau aqui.
Ele deu um sorriso sarcástico, eu sorri também.
- Não somos maus, só fazemos o necessário para continuarmos vivos.
Ele ficou em silêncio por um tempo mas seu silêncio foi quebrado quando ele me perguntou:- Você sabe cantar?
- Sei.
- Pode cantar para mim?
Eu sorri para ele e olhei fixamente para seus olhos, eles brilhavam, não sei exatamente porque.
Comecei a cantar uma música que minha mãe cantava para mim quando eu era bem pequena.
Quando terminei ele deu um sorriso que me trouxe muita felicidade.
- Sua voz é linda.
- Não... eu acho normal.
- Você parece um anjo, em todos os sentidos.
- Quase todos.
Eu apaguei a vela que iluminava o quarto.
- Boa noite Aaron.
- Boa noite Kim.
Eu me deitei na minha cama e dormi.

Diário de uma sobrevivente_Livro 1Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora