De volta à cidade

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Acordei bem tarde, não sei porque, não costumo dormir muito, talvez eu só esteja muito cansada ou coisa assim.
Eu fiquei deitada na cama, olhando para as paredes, só dava para ouvir a minha respiração, de repente o Aaron entra no quarto, com a mochila nas costas.
- Kim, precisamos voltar para a cidade.
- Por que?
- Temos pouca comida.
- E na cidade tem comida?
- Talvez, precisamos arriscar se quisermos sobreviver.
Eu troquei de roupa e fui para o carro começei a mexer no porta-luvas (Eu e minha curiosidade) achei um pequeno calendário feito à lápis e vi a data de hoje: 25/08/2028, Segunda-feira.
Eu sabia o ano e o mês em que estávamos, mas não sabia em que dia exatamente estávamos.
Aaron entrou no carro em silêncio e foi dirigindo tranquilamente, ele está estranho, tem alguma coisa muito errada com ele, ele não costuma ficar tão quieto.
- Aaron?
- O que foi?
- Tá tudo bem?
- Tá sim, por que?
- É que você tá meio estranho.
- Eu estou normal.
- Kim... não há nada para se preocupar, eu juro.
- Tá chateado comigo?
- Sabe que eu nunca ficaria.
Eu virei a cabeça para a janela do carro e fiquei observando a paisagem.
- Olha, Kim, desculpa se tenho sido chato ultimamente, é que eu tô muito nervoso com tudo isso, entende?
- Entendo sim.
Quando já estávamos na cidade tivemos que descer do carro e ir andando porque não queríamos chamar atenção.
Eu estava andando tranquilamente quando vi um carro similar ao de Jeanette virado de cabeça para baixo, até que percebi que era o carro dela.
Fui até lá e olhei pela janela quebrada o que tinha dentro do carro, e lá estava Jeanette, sua cabeça sangrava muito, provavelmente teve traumatismo craniano, as pupilas de seus olhos ainda tremiam e ela ainda respirava.
Quando conseguiu forças para falar algo olhou para mim e disse:-Kimberly...?
- Jean, o que aconteceu?
- Eu...capotei o carro...por que me assustei.
- Com o que?
- Kimberly... você e seu namorado tem...que sair daqui...agora.
- Não vou te deixar aí!
Começei a fazer fazer força para abrir a porta.
- Kimberly... não.
- Calma, tá tudo bem.
Eu não estava conseguindo abrir a porta e estava nervosa.
- Kimberly...eu estou doente.
Olhei para ela assustada.
- Eu não...
Ela sorriu enquanto agonizava.
- ...Não quero que você morra.
- Não sou mais humana, você ainda pode se salvar e salvar seu namorado também.
- Desculpe, por não poder te ajudar.
Meus olhos estavam preenchidos com lágrimas.
- Tudo bem...
Ela virou a cabeça e parou de respirar completamente.
- Kim, temos que ir embora.
Minhas lágrimas caiam e eu tentava disfarçar com todas as minhas forças, mas não conseguia.
- Por que está tão triste? Nem conhecia ela direito.
Pela primeira vez ele conseguiu me deixar com raiva.
- Tá brincando?
- Não.
- Como ela disse, somos humanos, qualquer perda já significa um grande número.
- Como ela também disse, ela não era mais humana.
Eu parei de andar e ele olhou para mim confuso.
- O que faria se eu morresse?
- Kim... deixa disso, precisamos ir.
- Ainda acha que tem o direito de me chamar de "sua namorada"?
- Kim eu te amo! E você não tem noção do quanto, mas é que...
Ele parou de falar e olhou para baixo. - Aaron se você está com algum problema pode me falar, sabe que eu vou te ajudar.
- É que você...
Ele olhou para mim.
- ...Você não iria entender.
- É acho que não mesmo.
Eu continuei andando e ele agarrou meu braço.
- Desculpa Kim.
- Você só sabe se desculpar.
Puxei meu braço com toda a força possível.
Andamos tanto que eu já não sentia mais as minhas pernas, até que achamos uma fazenda completamente devastada, mas ainda tinha algumas macieiras, pegamos bastante e voltamos para o carro, demorou muito mas chegamos.
Quando chegamos em casa já estava anoitecendo.
Eu coloquei as maçãs que tínhamos pego dentro de um armário na cozinha, Aaron estava no quarto, silêncio, olhando para as paredes.
Eu fui para lá e me sentei ao lado dele, antes que eu pudesse dizer alguma coisa ele me abraçou.
- Kim, eu tenho sido um babaca pra você, mas prometo que vou melhorar tá?
- Tá.
Ele me beijou e depois me mostrou um colar de ouro.
- Caso aconteça alguma coisa, é para que você não se esqueça de mim.
- Aaron que lindo, obrigada.
Eu beijei ele e logo depois o abraçei.
- Pode cantar para mim hoje?
Eu dei um sorriso e começei a cantar uma música que existia antes da epidemia começar.
Quando terminei ele sorriu e me beijou mais uma vez, encostei minha cabeça em seu ombro, e eu estava com tanto sono que dormi ali mesmo.

Diário de uma sobrevivente_Livro 1Onde as histórias ganham vida. Descobre agora