60 - Filius: O filho do mundo

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   Sozinho, nasci sem família, tudo o que eu tinha era uma energia que me envolvia como um manto flutuante de duas tonalidades sendo uma translúcida e a outra sombria, essa energia me protegia e me fez sobreviver nos meus primeiros dias de vida

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   Sozinho, nasci sem família, tudo o que eu tinha era uma energia que me envolvia como um manto flutuante de duas tonalidades sendo uma translúcida e a outra sombria, essa energia me protegia e me fez sobreviver nos meus primeiros dias de vida.

   Sozinho, chorava sem parar deitado sobre as úmidas raízes de uma velha árvore apodrecida no meio da floresta do céu, meu choro atraiu uma mulher de olhar dócil que me segurou no colo e passou a cuidar de mim.

   Não mais sozinho, essa gentil mulher levou-me para o seio de seu lar e cuidou de mim como seu filho. Com uma doce voz, uma bela canção de ninar era recitada quando ouço uma voz grossa questionar:

   – De quem é essa criança?

   – Encontrei ela sozinha na floresta.

   – E a trouxe para o nosso lar sem saber a procedência? Ou se ela tem família?

   – Eu só queria ajudar!

   – Olha esses olhos horrendos, deve ter sido abandonado por carregar algum coisa ruim.

   – É só uma criança.

   – É uma maldição.

   Senti mãos ásperas me segurar de forma ameaçadora e me carregar para longe da mulher gentil, sentia medo e isso despertou a minha energia oculta que de forma abrupta passou a ferir a ameaça. Tido como algo ruim, agora a certeza de que em mim residia uma maldição estava concreta e então o homem mesmo sentindo dores apressou os passos para alcançar a beirada da ponte de acesso a sua residência me descartando como nada no ar. Enxergando apenas o branco das nuvens notei o alívio de ser liberto do toque grosseiro e a brisa do ar me levar para longe ao som do grito da gentil mulher.

   Caindo sem rumo o céu me carregava para onde os ventos sopravam os panos que me cobriam perderam-se na imensidão despindo-me em queda livre.

   O grande perigo que corria materializou a minha energia misteriosa que passou a girar em volta do meu corpo de modo acelerado fazendo com que plainasse pelo ar e lentamente pousasse sobre uma baixa grama verde e fofa.

   Sozinho novamente, chorei alto sentia falta do carinho da mulher gentil e de estar em seu colo, chorava pela perda mesmo que por apenas algumas horas fui amado e pertenci a algum lugar e agora tudo que eu tinha era o nada.

   Despois de algumas horas ouvi passos aproximarem-se e então no alto vi os olhos de um casal mirar em mim. Curiosos eles ficaram de longe me observando quando a mulher de braços magros me pegou no colo enquanto o homem peludo passou a brincar comigo fazendo caretas e barulhos com a boca.

   Cresci num lar amoroso e humilde, minha vida foi boa por alguns anos, mas então tive consciência de que eu não pertencia aquela família de verdade, e não tinha noção de que era a minha verdadeira linhagem, me sentia deslocado como se no fundo eu não pertencesse a lugar nenhum.

Há MagiaWhere stories live. Discover now