Há Magia

42 - O decreto

   Vendo a luz do sol invadir seu quarto, Sorah tentava tomar coragem para se levantar, seu corpo estava exausto e parecia clamar para que continuasse na cama, porém estava na hora de ir ao instituto, pois as aulas atrasadas não se aprenderiam sozinhas. Apesar de sua consciência responsável era comum pensamentos como: "só mais uma falta não será o fim do mundo."

   Seus olhos estavam quase se fechando quando, ela se levantou subitamente, não seria possível perder mais nenhuma aula, pois todos estavam evoluindo e o medo de ficar para trás deu-lhe um forte empurrão. Depois de vestir-se com uma saia preta e seu jaqueta azul cotidiana coberta pelo manto amarelo de sua esquadra, ela posicionou sua presilha dourada numa pequena mecha de cabelo e saiu de casa, no centro do vilarejo da Esperança encontrou sua prima, Lirin a encarou incrédula por alguns segundos, seus olhos expressavam felicidade e em seguida a garota retomou sua posição orgulhosa.

   — Você é louca? Sumiu por vários dias. Todos achávamos que tinha sido sequestra e agora reaparece como se nada tivesse acontecido.

   — Eu sinto muito. — Sem ao menos tentar explicar seus motivos, Sorah desculpou-se.

   — Isso não basta! — Enfurecida com a situação, Lirin saiu andando em velocidade ao falar. — Me espere aqui.

   Mesmo sem entender o proposito daquilo, Sorah acatou o pedido e aguardou pacientemente apesar de estar quase na hora de ir ao instituto. Minutos depois, Lirin retornou e ao seu lado estava a Matriarca Ilse e pela sua expressão parecia estar bravíssima.

   — O que aconteceu? Por onde andou? O que estava fazendo? — Depois de fazer os diversos questionamentos, Ilse pressionou. — Vamos explique-se!

   — Eu estava por aí... — Tentando não detalhar o acontecido, Sorah falava coisas pouco esclarecedoras.

   — Apesar da preocupação, imaginei que fosse algo do tipo. — Encarado a garota com olhos furiosos, Ilse desabafou. — Seus pais nunca souberam criar os filhos.

   "Os filhos" frase ressoava pela cabeça de Sorah, que imaginava diversas possibilidades em relação àquilo. Com a garota ali parada perdida em pensamentos, Ilse sentiu-se ignorada e seguiu de volta aos seus afazeres.

   Ao ver Lirin transforma-se e voar rumo ao instinto, Sorah esqueceu seus devaneios e fez o mesmo roteiro que a prima. Depois de alguns minutos pela Cidade Céus, as torres flutuantes foram alcançadas, pousando em um anelado amarelo, ela adentrou na imensa construção de mesma cor.

   Depois de alguns passos pelos corredores viu Urion se aproximar, os olhos do garoto estavam com enormes olheiras e suas pernas pareciam se arrastar devido à exaustão ocasionada pela noite anterior. Os dois se cumprimentaram brevemente e seguiram para a aula.

   Sentada numa cadeira no canto da sala, a tutora Luizi Metal viu Sorah entrar ao lado de Urion, ao visualizar a cena suas sobrancelhas enrijeceram, o sumiço da garota ocasionou pânico no instituto e sem explicação alguma ela havia retornado, além do fato dela ter perdido diversas aulas, coisa na qual a rigidez da tutora achava imperdoável, assim que todos os alunos entram na sala, a Luizi se pronunciou:

   — Temos alguém na sala que parece não dá mínima para as aulas, some e aparece sem explicações. — Caminhando até o centro da sala, ela falou num tom advertido. — Acho bom se apressar com as lições acumuladas.

   Quase todos na sala debocharam discretamente da situação, a bronca publica causou o emudecimento de Sorah e Urion que estava ao seu lado arregalou os olhos, e enquanto cobria a boca com uma das mãos, falou baixinho:

  — Essa não foi uma indireta, foi uma certeira para você.

   Retomando o tom disciplinado, Luizi apaziguou os cochichos e iniciou a aula:

   — Cada família possui suas características magicas, esses aspectos são expressos em seus  descendentes de forma única. Fato que ocasiona a peculiaridade nas assas, que apesar de serem diferentes em totalidade, seguem um padrão conforme o seu nível, esse será o tema da aula de hoje.

   Abrindo um livro de magia cientifica com páginas repletas de figuras explicativas, Luizi começou a ler:

   — O nível um: as assas são simples e tem uma membrana única. O nível dois: desenvolve as assas que tomam uma forma duplicada e ganham resistência. O nível três: As assas tornam-se mais orgânicas e por vezes é tomada por uma plumagem. O nível quatro: Uma cartilagem cobre as assas que se tornam resistentes e aerodinâmicas. O nível cinco: Traz a supremacia magica e com a evolução ocorre o sumiço das asas.

   A aula prosseguiu desvendando todos os mistérios da evolução das assas dos seres mágicos.

   Rodeada por nuvens, a sede do concelho flutuava com a força da esfera gravitacional que a matinha sobre o céu, dentro da imensa estrutura os líderes reuniam-se para discutir sobre o desaparecimento de diversos seres desse mundo. Na cadeira central da imensa mesa, o rei Thomson levantou-se o que ocasionou um ringir da sua armadura dourada, com o foco, ele tomou a palavra:

   — Mesmo depois de diversas investigações ainda não sabemos nada sobre os desaparecimentos.

   O rei ainda tinha a palavra, porém calou-se ao perceber que a senhora da água parecia incomodada com algo, desculpando-se por interromper, Maya arrumou seus longos cabelos azuis enquanto questionava:

   — A reunião vai começar sem a presença de Chassã?

   — Sério que você está sentindo falta daquele moleque? — Com uma alta gargalhada, Silvam confessou. — Ele só esquenta lugar, não tem condições para decidir nada aqui, aposto que deve estar fazendo birra, por isso não veio hoje.

   — A presença de todos os senhores feudais é de extrema importância. — Rígido, Calos concluiu. — Mesmo que ele seja jovem deve comparecer em todas as conferências.

   Todos se entreolharam, pois os membros de alto escalão carregavam consigo uma grande responsabilidade na qual atrasos não eram tolerados. Com a pausa, Silvam recostou-se na cadeira e se equilibrou apenas nas pernas traseiras do móvel, impaciente com a situação ele falou:

   — Sério mesmo que estávamos esperando um moleque irresponsável, enquanto temos uma situação importante para discutir?

   — Você falando de irresponsabilidade? — Ajustando a barra de seu vestido, Maya contrariou o senhor da terra ao comentar. — Olha a sua postura, e mesmo sendo jovem Chassã é mais responsável que você!

   — Não vamos brigar num momento tenso como esse. — Com os olhos fervendo em um tom vermelho vivido, Calos gritou. — Vamos aguardar em silencio!

   Mesmo com a mudança de gestão a secretaria real permaneceu, e em meio a conferência, Ruth Nagas entrou no imenso salão, parecia uma cena do passado, só que a mulher aparentava alguns ciclos mais velha, e com sua disciplinada elegância falou:

   — Sinto muito interromper, mas tenho más notícias.

   — Da última vez que ela fez isso deu treta. — Disse Silvam com um tom debochado.

   — Calado! — Calos resmungou. — Deixa ela falar.

   — Obrigado. — Agradecendo a permissão, Ruth contou. — Há pouco recebemos várias notificações de desaparecimentos e dentre elas há uma nota sobre do sumiço do senhor feudal do ar, Chassã Arino.

   A notícia causou um grande impacto, enquanto digeriam a informação todos mantinham o silencio, entre os presentes naquela sala a expressão de Silvam era a pior, pois há poucos minutos estava julgado o colega sem ao menos fazer considerações. Ainda sob efeito da trágica notícia, o rei levantou-se e anunciou:

   — Medida extremas devem ser tomadas. — Com uma expressão desesperada na face, ele decretou. — Enquanto não descobrirmos quem ou o que está ocasionando esses sumiços, ordeno que todos fiquem seguros em seus lares, somente os seres indispensáveis terão permissão para vagar pelo mundo.