Há Magia

46 - O perdão

   Um alto grito saltou da boca de Lirin, que estava desolada ao ver a matriarca ser derrotada, aquele era o pior cenário de toda a sua vida. Causar tamanho sofrimento parecia trazer prazer a Genetriz, seu pescoço contorcia para os lados de forma rápida e um largo sorriso pintava sua face, ainda mantendo a haste de luz constante a atravessar o corpo de Ilse, a sequestradora estava cheia de si com a vitória.

   Com seu corpo sendo destruído pelo forte golpe que lhe atravessava, a matriarca sentia-se um fracasso por ter sido derrotada na frente das garotas e não ter conseguido protegê-las, usando suas últimas forças para se expressar, sua boca começou a sangrar enquanto ela falava:

   — Fujam rápido. — Uma pausa para limpar o sangue que preenchia a garganta, e ela gritou. — Não se preocupem comigo, ficarei bem, agarrem-se as suas vidas.

   — Não fugirei! — Lirin respondeu aos prantos. — Eu vingarei a família!

   Pensando que ainda poderia salvar a matriarca, Lirin voou na direção da sequestradora com a intensão de enfrentá-la novamente. Vendo tamanha desobediência em nome do amor familiar, Ilse sabia que sua vida tinha sido válida, apesar de todos os seus erros.

   — Não venha Lirin, fuja em nome da Esperança!

   Mesmo diante da súplica, Lirin a desobedeceu, pois, seu coração estava tomado pela vingança. Próximo da inimiga, ela cruzou os braços formando a posição de ativação da magia "fragmento vivo" ao lançar as partículas esverdeadas, ela gritava extravasando seu ódio por Genetriz.

   Aquela magia foi ativada como nunca, pois a vontade de matar a fez usar todas as suas forças. O ataque acertaria o alvo, porém Genetriz adiantou-se e desapareceu dali. Com o sumiço repentino a haste de luz foi cancelada, sem aquela barra para segurá-la no ar, o corpo de Ilse voltou a forma humana enquanto ela despencava do céu.

   Lirin agiu rápido e voou em direção a matriarca para salvá-la da queda, em seguida Sorah também bateu suas asas para ajudar no resgate. Antes que as duas conseguissem alcançá-la, a sequestradora surgiu atrás delas e acertou-as com um forte golpe em suas nucas, com o efeito do ataque as duas apagaram e de volta a forma humana caiam rumo a floresta.

   Com o alvo da sua missão a frente, Genetriz segurou Lirin pela roupa em seguida carregou uma magia que a envolveu num receptáculo branco e o posicionou sobre suas costas, ao cumprir seu objetivo, ela voou para longe deixando as marcas de sua passagem para trás.

   Caindo no meio da floresta, Sorah abriu os olhos quando sentiu um forte baque, era seu corpo se debatendo nos galhos e folhas das arvores, o último impacto no chão causou-lhe uma forte dor. Tonta e com a perna machucada, se locomover parecia um tormento necessário, dando passos desajeitados entre as arvores, ela buscava pela matriarca, após uma curta caminhada avistou-a.

   Com um buraco em seu tórax, Ilse movia os olhos lentamente e via seu sangue derramar e manchar a terra, mas sem forças para estancar o sangramento restava-lhe apenas esperar a morte. Alcançando o local, Sorah estava desesperada com a cena, em total angústia, ela forçou sua mão contra o ferimento e tentava impedir a perda excessiva de sangue.

   Lacrimejando diante da garota, Ilse sentia-se culpada pelas coisas terríveis que praticara, e sabia que em seus últimos momentos não conseguiria compensar em absolutamente nada. Usando toda a sua força, ela moveu o braço e pousou sua mão sobre a da garota e tossindo sangue forçou a fala:

   — Não há nada que possa fazer, esse é o meu fim, mas prometa que trará Lirin de volta!

   — Farei de tudo para trazer ela de volta. — Entre soluços, Sorah falou. — A senhora vai me ajudar com isso, deve ter alguma magia capaz de curar esse ferimento.

   Mesmo com a grande esperança que aquelas palavras transmitiam, Ilse sabia que era uma falsa expectativa e sua vida estava acabada, com as lagrimas da garota caindo sobre seu rosto, ela balbuciou:

   — Sinto muito por tudo que causei a você, não é fácil admitir isso, mas fiquei presa ao passado de nossa família, por isso sempre a tratei com indiferença.

   — Não precisa se desculpar, mas eu não vivi esse passado, não sei do que a senhora fala.

   — Do seu irmão mais velho. — Ilse respondeu.

   — Irmão? — Sorah falou emitindo surpresa, e evidenciou. — Meu pai nunca falou sobre eu ter um irmão!

   — Ele não fala sobre isso, é um covarde por guardar esse segredo. — Com o tom de voz cada vez mais baixo, Ilse contou. — Seu irmão era muito mais velho que você, antes que fosse gerada, ele já tinha a maior idade. — Ilse parou de falar, pois a tosse a impediu de continuar.

   — Mas qual a relação dessa história com a forma como me trata? — Ansiosa por mais detalhes da grande revelação, Sorah suplicava por respostas. — Por favor me conte!

   — Ele era a grande promessa da nossa família, um ser notável, mas seus pais não souberam prepará-lo para esse mundo e o deixaram se envolver com coisas grandes demais e isso trouxe o seu fim. — Quase sem forças para abrir a boca, Ilse revelou. — Acabei descontando a frustação em perder o nosso membro mais precioso em seus pais e isso resvalou em você também, eu sinto muito por isso. — Perdendo a voz, ela sentia que precisava do perdão antes de sua morte.

   — O que aconteceu com meu irmão?

   Mesmo tentando responder, Ilse não foi capaz de continuar a falar, pois sua voz se perdeu com a chegada da morte, seus olhos lentamente foram perdendo o brilho e seu corpo paralisou com a última batida de seu coração.

   Com a morte da matriarca, Sorah se desesperou sem saber como agir num momento tão difícil quanto o fim de uma vida. Ela apenas chorava e gritava em total descontrole perante a sua incapacidade em reaver a situação, quase sem folego, falou:

   — Meu coração ficou dilacerado com as palavras que me falava, seu desprezo por mim me destruía todos os dias, mas com seu sangue em minhas mãos eu sou forte para superar tudo e conceder o perdão a sua alma.