Então, resolveu pular para o terceiro passo, e se certificando de que ninguém a veria naquele estado, foi até a cozinha, se dirigiu até a geladeira e pegou uma garrafa de água mineral. Provavelmente, os dois cozinheiros que se encontravam ali perceberam seu estado, mas desde que não fosse alguém que lhe fizesse perguntas — e tinha certeza de que eles não fariam —, tudo estaria bem.

Voltou para a sala, e no que pareceu ser nem um minuto, já havia bebido a garrafa de um litro de água inteira. De alguma forma, aquilo lhe ajudou um pouco. Então, apenas se deitou ali mesmo, no sofá, e abraçando a garrafa, fechou os olhos. Não sabia o que fazer para se distrair, pois apesar de morar em uma mansão grande como aquela, sempre passava tédio ali, e esperava que apenas descansar lhe ajudasse.

Não soube quanto tempo exatamente havia se passado, mas sentiu sua respiração ir diminuindo gradativamente, junto da dormência e formigamento em seu rosto. Seus batimentos cardíacos se acalmaram, e não tremia mais como antes.

De repente, abriu os olhos, e se viu em um local completamente diferente. Encontrava-se em uma sala escura, que só não era completamente por conta de um abajur que estava ligado na mesinha a sua frente. Percebeu que parecia ser a mesma sala que estava há apenas alguns segundos antes, a única diferença era esse objeto, e o fato de que estava escuro lá fora, parecendo estar chovendo, pelo barulho de água caindo.

Um estrondo de trovão ressoou repentinamente, e havia sido tão alto, que pareceu ter caído ali perto. Todo o local ficou claro por um segundo, por conta do relâmpago, e sentiu-se encolher ainda mais do que já estava. Não tinha controle de seu corpo, mas diferente das outras vezes, os pensamentos eram somente seus.

— Não tenha medo, Leyla. Estou aqui. — Escutou uma voz calma e serena dizer em seu ouvido. Reconhecia aquela voz. Era a voz de Ximú. Sentia uma mão afagar seus cabelos suavemente.

— Eu quero minha mãe, tia Angelina. Onde ela está? — Escutou a si própria dizer. Porém, apesar de as palavras saírem de sua boca, sabia que não era sua voz, visto que era bem mais infantil.

— Ela está no trabalho, assim como o seu pai.

— Mas por quê? — Se levantou e encarou a mulher a sua frente. Percebeu que ela parecia uma versão de outra época do corpo que Ximú estava, não só por seu rosto que parecia mais jovem, mas também, por seus cabelos loiros e cacheados que estavam maiores. — Ela sempre ficava comigo no meu aniversário!

— Sua mãe só está passando por um momento difícil. Seu pai a machuca muito.

— Mas eles não se amam? Não era para ser assim. As pessoas não se protegem e não cuidam umas das outras quando amam?

— Sim, mas...

— Vovó Delphine estava certa. Amor não existe, é só uma fraqueza que as pessoas se permitem sentir. — Escutou a própria voz se alterar, parecendo raivosa, e lágrimas rolaram por seu rosto. — Isso é tudo bobagem! Minha mãe e meu pai não cuidam de nós, e nem sequer parecem se importar. Eles não nos amam. Eles não me amam!

— Claro que amam. Você é querida por muitas pessoas, Leyla. Seu pais te amam, Rosa te ama, e eu também te amo.

— Não, você não ama! Eu escutei você dizendo para minha mãe que iria embora no mês que vem. Se você me amasse, não iria me deixar!

Viu a expressão de pena no rosto de Angelina mudar para uma de surpresa, e ela apenas se calou. Após parecer pensar por alguns segundos, a jovem moça apenas suspirou e começou:

— Sabe por que eu vim morar com a sua mãe? — A pequena Leyla apenas negou com a cabeça. — Bom, para começar, eu e a sua vó não dávamos certo juntas. Mas eu prometi à Carla que ficaria só até acabar a faculdade, e esse é o último semestre. Não posso continuar aqui. A mansão Scarlett é apenas do herdeiro e sua família, e no momento que sua mãe se casou, não faço mais parte dela.

A Viajante - A Resistência Secreta (Livro 2)Where stories live. Discover now