O decreto de Natal - Parte XXXXII

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Quando acordou Rafaella se deparou com um som a muito desconhecido: Sua casa estava imersa no mais profundo e inquietante silêncio. Por alguns minutos tentou assimilar a razão disso e até vagou pelos quartos para entender o que poderia causar semelhante situação quando manteve a casa tão cheia, mas não obteve resposta até chegar ao jardim onde encontrou um enorme café da manhã.

Frutas, bolos, pães e pratos leves, além de uma variedade de sucos e café com leite compunham uma mesa tão milimetricamente arrumada que desconfiou quem demandou o ato embora não fosse necessariamente a artista. Não precisou abrir a carta debaixo do pão de queixo à esquerda da mesa, sabia que isso era obra de Bianca.

"Para a minha deusa um café da manhã digno de uma. Nesse então você já deve ter percebido a casa vazia, mas não se preocupe, é por uma boa causa! Passamos dias barulhentos e entendi que talvez um pouco de silêncio caia bem. Também confesso que tem a ver com te deixar com saudade e curiosa, embora não seja o objetivo principal. Espero que aproveite e se prepare, devo mandar um carro te buscar às oito da noite, sua roupa está no nosso armário já pendurada e passada como você gosta, esteja pronta!"

Assinado sua esposa que te ama muito, Bianca.

Agora tudo estava tão claro quanto a água refrescante e gelada servida na taça por um garçom que parecia ter surgido do nada pelo jardim. Bianca tinha algo grande para dar-lhe e começou bem cedo, nos detalhes mais mínimos. Do café de novela para uma massagem relaxante com pedras até uma pedicure e cabeleireira.

— Quer renovar a cor? — A cabeleireira perguntou tocando os fios loiros de Rafaella. Manteve a cor por um tempo e se agradava dela, mas se era uma ocasião especial decidiu que talvez o melhor fosse também surpreender.

— Você tem castanho consigo? — Perguntou a mulher imaginando como Bianca terminaria arrebatada por aquela volta inesperada e extasiante. Elas bem sabiam o poder que detinham os longos cabelos cacheados e iluminados. Ela faria isso.

Poucas horas depois Rafaella analisava o seu próprio cabelo com deleite. Se sentia bonita, renovada é um tanto quanto perigosa no que já eram as uma da tarde. Foi nesse momento que decidiu dar um tempo nos cuidados do corpo e fez coisas que não tinha a muito.

Depois do almoço, obviamente, colocou uma música clássica para tocar e começou a ler um livro numa espreguiçadeira no entorno da piscina. Não lembrava da última vez que fez isso sem terminar sendo interrompida por um dos filhos e a sensação era realmente maravilhosa e estranha. Tanto que não leu 100 páginas antes que houvesse uma desconcentração.

Não pelo fato da narrativa não soar interessante, mas porque sua família se fazia presente até quando estavam ausentes. Aconteceu entre Beethoven e Mozart, uma peculiar canção de Ludmila provocando uma sincera risada na mineira, afinal, isso só podia ter acontecido porque suas listas de reprodução se misturaram com as de Bianca e criaram aquela sopa de letrinhas.

— Ah Bia... — Disse Rafaella mordendo o lábio inferior ouvindo aquela música sobre sintomas de prazer. Lembrava tanto ela e Bianca que não sabia o que estava levando o sorriso ao rosto se era o fato de que queria dançar isso para esposa ou que depois de anos era capaz de aceitar com naturalidade que tudo estava tão misturado em suas vidas que até apreciava um bom funk carioca.

Apreciou cada batida da música com um sorriso no rosto se imaginando fazendo loucuras com a esposa, mesmo que não fosse do seu feitio fazer algo do tipo. Não era recatada na cama, longe disso, mas ser inventiva nesse aspecto entendia que era muito mais coisa de Bianca. Ela propunha novas posições, prazeres ocultos e o que mais fosse surpreendente. Hoje, ao fim da surpresa, Rafaella faria que fosse diferente.

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