Capítulo 04 - Conhecendo o inimigo

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Rafaella estava irritada. Na verdade, aquele adjetivo não parecia o suficiente para expressar seus sentimentos em relação a Senhorita Andrade.

O que tinha no peito era mais. Era quase como um horror. Sim, isso mesmo, na mente de Rafa Kalliman a mulher que se deparara era do tipo que causava horror.

E não por sua aparência. Longe do seu julgamento em relação a personalidade daquela morena a mineira tinha que admitir que seu potencial desafeto era uma mulher bonita. Detinha traços incisivos, uma mandíbula altiva e aparentava poder esmagar um planeta com os pés apenas se tivesse o salto correto. É, Rafa concordava que a Senhorita Andrade era bela de uma maneira perigosa.

No entanto, de que adiantava tanta beleza? Para presidenta do Conselho, de nada, por fim. Não se a agraciada em questão reunia num só semblante sedutor soberba e falta de educação, justamente os dois pontos que Rafaella mais sentia horror em identificar em alguém.

E a situação, nesse caso, era ainda pior. Quando na vida a dona de casa se deparava com alguém que divertia dos seus valores, o primeiro passo era simplesmente cortar laços.

Radical? Na experiência de Rafa sempre foi uma prova de amor para consigo, pois era dessa forma que evitava perder tempo se desgastando com as pessoas que não tinham nada a ver com ela.

Porém, na escola o envolvimento era inevitável. Sabia que, por mais que tentasse, eventualmente teria de lidar com a presença de Andrade andando pelos corredores, frequentando as festas de pais, aparecendo nas reuniões do conselho...

— Comeu algo que não gostou
Rafaella? — Ouviu ao seu lado pouco depois de entrar na escola e, mesmo que estivesse fazendo uma feia careta, foi obrigada a desfazer o amarre da cara por estar novamente em presença da sua amiga.

— Se eu tivesse ingerido o que me colocou essa carranca em minha face eu provavelmente estaria pior — Até porque, no pensamento de Rafaella, não tinha como comer a Senhorita Andrade sem ter depois uma indigestão.

— É, decerto faria mal colocar para dentro algo com tanto pelo na cara — Disse sua amiga, depositando uma interrogação no rosto de Rafaella.

— Pelo na cara? — Que contasse a castanha, seu potencial desafeto não tinha um único pelo na face. Na verdade, odiava pensar que aquele lugar em específico na mulher poderia ser bem suave.

— Isso. Só se o seu marido tirou a
barba — Rafaella abriu os lábios produzindo a vogal "a" a partir do som como quem entende o sentido da vida. Sua amiga Manoela Gavassi, professora de música, estava falando seu marido.

— Dessa vez não — Poderia ter sido. Por boa parte da manhã até foi, no entanto, não era essa a realidade, não com a insolentissima Senhorita Andrade querendo tomar espaço bem em seu território.

— Então ele merece uma medalha de honra. Pois acho que é a primeira vez nos últimos dois anos que ele não é o motivo do seu revirar de olhos — Entregou Manoela, numa mistura de alívio e curiosidade.

A menor amava a amiga. Amava escura-lá, amava sua dedicação com a escola e a família, mas odiava como Rafaella perdoava fácil os deslizes do marido em relação aos filhos. E de tão irritada por ver o semblante triste da amiga quando constatava a falta de interesse do marido nela em Gab e Júlia, Manoela, inevitavelmente, começou a nutrir uma silenciosa implicância manifestava vez ou outra e de forma discreta.

— Até tivemos uma conversa desagradável pela manhã sobre a falta de atenção dele em relação às crianças, mas nada se compara a situação que vivenciei hoje bem em frente ao Santa Judith! — Exclamou Rafaella entre dentes, sentindo a mesma chateação do momento com só menciona-lo.

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