O decreto de Natal - Parte XXXXI

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Rafaella Kalliman não aguentava mais. Presa tinha horas naquela fila para uma simples troca de colchão não suportava mais esperar pela incompetência alheia. Não sabia o que faria primeiro, se dava um grito ou calava, mas na dúvida decidiu não arrumar confusão, talvez isso ao menos conservasse sua paz de espírito uma vez que não a faria sair mais cedo.

Não foi uma ideia nada agradável queimar o colchão e menos ainda terminar dormindo afastada de Bianca, de maneira que até uma loja lotada no fim do ano terminaria por parecer mais agradável que passar outra noite como aquela.

Amava os filhos, era sua família, mas nada era melhor e mais feliz que estar no seu quarto, em seu lugar e poder acordar para a surpresa que Bianca tinha para ela. Parecia algo grande e lindo, que exigia muito trabalho e agora ela estava segura que merecia devolver com algo a altura.

Por sorte, por ser a general sempre preparada, tinha algo em mente. Certo que estivera guardando aquele trunfo para o aniversário da esposa, mas agora não havia justificativa para não pensar em outro presente. Sua supresa consistiria em uma dança, algo que vinha praticando no estúdio de uma das mães que era uma exímia bailarina, mas os passos não eram nada clássicos.

Tinha um requinte de profano e caótico, mas não havia nada de errado com isso se era a marca registrada dela e de Bianca quanto casal desde que ainda não eram. Rafa lembrava disso, inclusive, com nostalgia. Sua primeira briga, um conflito até que bobo e agora estavam ali. Efetivamente as melhores coisas da vida nascem de uma causalidade e não estava pronta para pensar o contrário.

— Desculpe a demora senhora Andrade. Tenha um bom Natal é um próspero ano novo — Disse o atendente finalmente passando as instruções e o novo produto para o entregador de maneira que pudessem seguir os dois de retorno para casa de Rafa.

O rapaz a havia chamado de senhora Andrade, mas não estava irritada em nada. Em seu semblante, pelo contrário, tinha uma felicidade imensa de ser reconhecida como a mulher de sua esposa, de alguém tão potente e inspiradora como era a incrível Boca Rosa que, em silêncio, era apenas sua Bianca.

Tanto que quando chegou em casa deixando a bolsa na cadeira da cozinha sequer tinha em si resquícios de uma irritação anterior, afinal, tudo o que acontecia ficava da porta para fora quando dessa para dentro havia uma família tão bonita como a sua.

— E se for um menino? — Questionou Julinha desenhando corações na barriga de sua mãe com um batom. Carla quase estava engolindo um enquanto Ben tentativa tirar de sua mão. Gabriel ria um pouco da situação.

— Fácil. Vai se chamar Cris — Bianca disse alisando a própria barriga sob a luz da sala. Estavam todos sentados no tapete e do lado de fora dava para ver um pouco de chuva que caía sobre a piscina do jardim. O fim do ano no Brasil não chegava a ser frio, mas talvez munida de uma certa nostalgia que abate a todos nessa época o momento calhou em ser desenhado dessa maneira.

— Menina? — Carla disse causando primeiro uma risada pela curiosidade e depois uma festa completa por uma de suas primeiras palavras. Todos estavam felizes com a conquista da pequena.

— Eu queria que fosse Rafaella — Bianca disse para discordância de todos. Se houvesse outra Rafaella era meio óbvio que Bianca a teria como a preferida de todos, quando era a mineira quem ela mais amava no mundo.

— Por mim seria Bianca — A dona de casa disse entrando na sala para se sentar junto aos seus filhos, abraçando a esposa por trás e dando-lhe um beijo no ombro enquanto pegava um batom para também pintar a barriga da esposa. Escreveu amor e começou a traçar o nome dos filhos em uma impecável letra de pedagoga.

— Nem Rafaella e nem Bianca — Ben disse entregando Carlinha nos braços do irmão que começou a brincar com a pequena — Há nomes lindos, basta apenas olhar em volta — O prodígio disse e todos começaram a olhar.

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