O decreto de Natal - Parte XXI

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Dedicado a Ítala a rainha das grandes ideias e a Gisely que foi capaz de dormir no meio do capítulo.

O escuro não à toa harmoniza silabicamente com o desnudo. De fato, trata-se de uma rima imperfeita, mas é inegável a relação entre as duas palavras.

No escuro tudo está em estado de pausa. Não se enxerga, não se define, e os corpos agem como sombras que arrastam-se num espaço curto.

No desnudo o antônimo inversamente proporcional apresenta-se. Se enxerga, se define e os corpos não só se movem, mas se encontram numa imensa necessidade de juntar-se até que não haja espaço. Não caminham, mas correm, e o lugar é sempre pouco, tanto que existe a obrigação de esparramar-se em outros.

Desnudos os corpos se cobrem de volúpia sobre qualquer metro quadrado. Há mãos espalmadas na parede da sala, pernas suplicando unhas fincadas pelas coxas e dedos se espraiando entre um interior que demanda a voracidade de um toque sedutor e delicioso.

Há, no entanto, um ponto no universo que realiza o encontro entre os perfeitos opostos. Quando eles se encontram como o desnudo e o escuro, o resultado é uma explosão inesperada que reverbera em gozos profundos que cortam qualquer noite de luar e encerram a timidez que pode ter motivado a ausência de luz no momento de desfazer-se das roupas.

E de contrastes que se complementam Rafaella e Bianca entendiam. De duas inimigas que basearam todo o início de sua relação em brigas que resguardavam um desejo velado passaram a um casal que amava-se boa parte do tempo, exceto quando a excitação subia a cabeça junto com leves doses de Cozumel.

— Rafaella — Repreendeu Bianca sentindo o sal da língua que lambia sua orelha. Não havia gosto ali, mas as milimétricas partículas de sal que ficaram no dorso da extensão que saia entre os lábios de Rafa convidaram a morena a se inclinar mais ainda até a porta de entrada do estúdio.

A carioca sequer teve um momento com a chave na mão, foi chegarem as duas próximas à porta que observando a ausência de pessoas no lugar a mineira decidiu agarrar sua coxa esquerda e encaixar ao lado do quadril. E em seguida, como se pouco, ainda elevou os braços da grávida, prendendo suas mãos acima da cabeça.

— Você não está me repreendendo, está é fingindo que o quase público te desagrada para manter o jogo vivo — Rafaella falou depois de lamber Bianca, direcionando as duas esmeraldas verdes que tinha nos olhos para a influenciadora que sentiu o castanho acender-se naquele momento. Perigosa mistura.

— Jogo? — Bia se fez de desentendida e a brincadeira proposital rendeu-lhe um tapa na lateral de sua bunda que poderia acordar meio andar. Importaram-se como qualquer casal dominado por um fogo intenso, isto é, não deram a mínima.

— Esse de dissimular que me quer da exata forma que os seus olhos suplicam. Conheço-o. Está aí desde aquela briga pela vaga — Bianca riu da presunção aguardada ainda sentindo a ardência dominando aquela específica parte do seu corpo enquanto Rafa acariciava o círculo vermelho que produziu. Nenhuma desviava o olhar.

— Você se acha a última coca-cola do deserto — Bianca falou revirando os olhos, mas sem conseguir manter a ironia até o final das palavras, no fim do sorrisinho que dera restou uma atração indisfarçável. Era o corpo quem a traiu.

— E mesmo assim você beberia de mim a noite toda até que sua sede acabasse. Você me quer e eu sugeriria que admitisse isso se não fosse tão bom fazer você cair pelas próprias palavras — Rafaella declarou sentindo até a ponta de seu último dedo todo calor que imperava diante daquela disputa. Eram feitas daquilo e sabiam que uma boa noite se constituía daquele elemento.

— Convencida — Bianca retorquiu sem muitos argumentos. Estava em desvantagem quando desnuda mesmo antes de estar fora das roupas. Rafa a havia despido e guardava a medalha de honra de tê-lo feito entre os dedos que terminavam de denunciar a morena no aproximar até o meio de suas pernas.

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