Capítulo 22: Cereja do bolo.

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Hesitei por um segundo, ficando absolutamente sem palavras. Queria poder dar meia volta e fingir que não havia o visto e que não estava ali. Mas Briar já tinha notado a minha presença, já que literalmente falei com ele e parei na sua frente, do outro lado do balcão. Não podia simplesmente fugir.

—Ainda não. —A resposta dele saiu tão baixa que quase não ouvi, enquanto ele brincava com o cardápio entre os dedos, sem erguer os olhos para me encarar. —Qual a coisa mais forte que você tem pra beber?

—Pra curar uma ressaca? Um café preto. —Falei, tentando ignorar o quão rápido meu coração estava batendo naquele momento, porque não estava esperando o encontrar tão cedo depois da festa. Ainda mais com uma expressão frustrada.

—Não estou de ressaca, mas aceito o café preto. —Afirmou, me fazendo assentir com a cabeça, sem me dar ao trabalho de anotar aquele pedido. O nó que se formava na minha garganta era quase insuportável de aguentar. —Dois, por favor.

—Alguma coisa pra comer? —Indaguei, vendo-o encarar o cardápio com uma expressão descontente, como se nada ali o agradasse.

—Uma torta de maçã. —Briar passou as mãos pelos cabelos, soltando o cardápio e o colocando de volta no lugar. Meus dedos tremeram ao redor do bloquinho, quase o amaçando, quando me lembrei da sensação de tocar os cabelos dele e do quão macio eles eram. —Desculpa por ontem. Eu realmente não vi você e acho que fui um pouco seco com você e o seu irmão.

—Tudo bem. —Falei, tentando não gaguejar na frente dele, porque minha voz tinha saído esquisita demais. —Você não parecia muito bem.

—É, estou tendo vários dias de merda desde que acordei no hospital. —Comprimi meus lábios quando ele finalmente ergueu a cabeça e me encarou. O brilho que vi nos olhos dele durante a festa, quando estava comigo, não estava mais ali. Parecia apenas um céu acinzentado antes da tempestade. —Mas acho que hoje foi tipo a cereja do bolo.

Eu abri a boca para dizer algo, sem saber ao certo o que. Tentei repassar na minha cabeça todos os conhecimentos que eu tinha, pensando no que dizer, mas com medo de acabar começando a falar e não parar mais. A lembrança da conversa sobre estatísticas de acidentes fatais no hóquei fez minhas bochechas esquentarem.

—Desculpa, meus dias estarem sendo ruins não é da sua conta. —Briar falou, provavelmente porque eu estava em silêncio a tempo demais.

—Se falar o faz se sentir melhor, tudo bem. —Sussurrei, anotando o pedido dele no bloquinho e passando para dentro da cozinha, onde ficavam os pedidos em aberto, porque não queria sair dali, ao mesmo tempo que queria sair correndo.

Ele me encarou, abrindo a boca para dizer algo, antes de franzir a testa e inclinar um pouco a cabeça para o lado, como se estivesse observando alguma coisa no meu rosto. Aquilo fez meu sangue gelar dos pés a cabeça, porque ele nunca tinha olhado pra mim daquela forma, por tanto tempo.

—Pediu pra mim também?

Nathan surgiu ao lado dele, puxando uma das banquetas para se sentar. Isso fez Briar desviar os olhos de mim, enquanto eu soltava o ar com tanta força que meu corpo quase murchou no processo, em um misto de alívio e decepção. O que eu esperava afinal? Ele não tinha uma bola de cristal para saber quem eu era. E eu não era a pessoa mais corajosa da minha família. Minha mãe estava errada sobre isso.

Deixei os dois sozinhos, voltando para a cozinha. Peguei o pedido de Briar e voltei ali, sabendo que qualquer conversa que estávamos tendo tinha chegado ao fim. Mesmo com Nathan ao lado, Briar ainda estava com a expressão fechada e os ombros rígidos, como se realmente estivesse tendo um dia de merda.

Coloquei o café na frente dos dois, que murmuraram obrigadas gentis em meio a conversa. Peguei o pedaço da torta e coloquei na frente de Briar. Ele nem mesmo olhou pra ele quando o empurrou para frente de Nathan, enquanto usava a outra mão para esfregar as têmporas como se estivesse com dor de cabeça.

—Jasmine? —Olhei para Nathan, quase derretendo sobre o sorriso doce que o jogador de hóquei me deu. Dos poucos atletas que eu conhecia, podia dizer que Nathan estava no topo dos mais gentis e legais, além de ser muito bonito. —Pode abaixar um pouco o volume da música, por favor?

Ele gesticulou para o café ao redor com uma careta, se referindo a música que tocava nos alto-falantes escondidos pelas paredes. Assenti, saindo de perto dos dois para fazer o que ele tinha pedido. Quando voltei, os dois ainda estavam sentados no balcão. Como uma curiosa, peguei um pano e comecei a passar nos copos que estavam ali, perto o suficiente para conseguir ouvir a conversa deles.

—Pensa pelo lado positivo, Briar, ele disse que você pode voltar a treinar. —Nathan afirmou, fazendo Briar comprimir os lábios e negar com a cabeça.

—O que adianta se ele deixou claro que não vou participar de nenhum jogo oficial e vou ficar no banco? —Briar encarou Nathan com uma expressão irritada. —Estou cansado de todo mundo agindo como se eu fosse cair duro no chão a qualquer momento. Eu não estou mais em coma. Meus exames estão perfeitos. Eu estou bem!

Eu sei, cara. Estamos apenas preocupados com você. —Nathan rebateu, enquanto eu me dava conta do que eles falavam.

Briar deveria ter ido falar com o treinador do time de hóquei. Mesmo que eu não o conhecesse, sabia que o hóquei era a sua vida. Briar poderia estudar literatura e ler milhares de livros, mas era o amor pelo hóquei que corria nas suas veias. Nada o deixava mais feliz do que estar sobre o gelo. Sei disso, porque fui em tantos jogos dele que é impossível ignorar o brilho nos seus olhos quando está entrando em um jogo.

—Eu não quero a preocupação de ninguém. Quero a porcaria da minha vida de volta! —Exclamou, escorando os cotovelos no balcão e escondendo o rosto entre as mãos. —Não consegui comemorar nossa vitória no campeonato, porque entrei em coma no final da partida. Meus pais estão me sufocando com tantos cuidados. Perdi a garota com quem estou sonhando desde que acordei. E agora até mesmo o hóquei está sendo tirado de mim.

—Ninguém está tirando o hóquei de você. —Nathan encarou Briar com uma expressão cautelosa, como se soubesse que Briar não acreditava naquilo, enquanto eu sentia meu coração apertado ao absorver as últimas palavras que Briar disse. —As coisas vão se ajeitar com o tempo, cara.

—Você não entende. Ninguém entende. —Briar afastou as mãos do rosto, negando com a cabeça com uma expressão derrotada. —Talvez ela entendesse, se parasse de se esconder por aí.

Briar se levantou, empurrando a banqueta com um som alto demais que chamou a atenção de alguns clientes. Nathan chamou o nome dele algumas vezes, mas Briar atravessou o café e saiu pela porta da frente sem olhar para trás.



Continua...

Como conquistar Briar Harding / Vol. 5Where stories live. Discover now