Capítulo 9: Ela vinha aqui todos os dias.

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Encarei a parede branca em silêncio, enquanto ouvia o médico conversando com os meus pais, explicando como eu estava. Eu estava bem. E, aparentemente, acordado depois de um pouco mais de um mês em coma. Tudo isso por causa de uma pancada no final do jogo. Conway provavelmente estava muito orgulhoso de si mesmo. Ele pode não ter levado o jogo, mas descontou toda a frustração e a raiva em mim.

—Quando ele vai poder sair daqui? —Meu pai questionou, enquanto eu sentia a mão de Abigail segurando a minha.

Ela estava quieta, me olhando como se ainda não acreditasse que eu estava acordado. Seu namorado e nossos amigos tinham ido embora assim que meu pai chegou, querendo nos dar privacidade. Acho que todos eles estavam preocupados com o que eu estava sentindo naquele momento, depois de perceber quanto tempo eu tinha perdido.

Um mês e duas semanas poderia não parecer muita coisa, mas na verdade era. E eu não fazia ideia de como me sentir sobre isso. Estava tentando pensar sobre isso. Mas só conseguia lembrar do jogo e me sentir péssimo por ter perdido aquele momento pós vitória. Era meu momento, e Conway conseguiu estragar isso.

—Briar? —Minha mãe se aproximou, abrindo um sorriso doce pra mim, que podia iluminar uma noite toda. —O médico vai te manter aqui mais um pouco, apenas para ter certeza que está tudo bem. Mas aparentemente você está ótimo. Vai poder sair daqui e voltar a sua vida normal.

—Depois de ter perdido um mês da faculdade e de treinos e jogos. —Falei, apertando meus lábios ao perceber que gostaria de ter provocado Conway no jogo, porque talvez assim eu não estivesse me sentindo tão frustrado naquele momento.

—Eu sei que foi um choque pra você, filho. Mas não foi tão ruim assim. —Meu pai se aproximou da cama quando o médico se retirou. —Tem pessoas que sofrem algum trauma e ficam anos em coma. Décadas. O tempo que você perdeu ainda pode ser recuperado.

—Posso voltar a treinar assim que sair daqui? —Indaguei, sentindo vontade de me arrastar para fora da cama para dentro do gelo. Nunca tinha ficado tanto tempo sem jogar hóquei desde que comecei. O fato de estar esse tempo parado me incomodava.

—O médico não disse nada sobre isso. Mas vamos conversar com ele. —Minha mãe prometeu, abrindo um sorriso e se inclinando para beijar minha testa. —Não fique assim. Estamos tão felizes que você acordou. Estávamos tão preocupados.

—Acho melhor você mandar alguém benzer nossa família, porque não é possível. —Afirmei, vendo minha mãe soltar uma risada, junto com Abigail e meu pai. Mas aquilo me fez abrir um sorriso, porque pelo menos estávamos todos juntos. —É sério. Estamos precisando mesmo de uma ação divina.

O clima tenso no quarto foi substituído por algo mais leve, que tirou um pouco da inquietação que eu sentia. Mas eu não via a hora de colocar meus pés pra fora dali. Iria pro gelo assim que tivesse alta. Precisava ligar para Nathan e saber como as coisas estavam. Precisava falar com o treinador para saber quando seria os próximos treinos.

—Quem era a moça que estava aqui comigo? —Indaguei, olhando pra minha mãe, vendo-a franzir a testa e balançar a cabeça negativamente.

—Que moça, Briar?

—Uma garota. Eu não sei. Ela vinha aqui todos os dias. —Falei, umedecendo meus lábios com a língua, lembrando da sensação que eu sentia sempre que ela estava perto de mim, mesmo que eu não a visse. Eu a ouvia. Aquilo não podia ser um sonho. —Ficava segurando minha mão e conversando comigo.

—Briar, não sei de quem está falando. Ninguém mais vinha aqui além de nós. —Minha mãe rebateu, me fazendo franzir a testa. —Não está confundindo com a Abby? Ou com a Millie? As duas estavam sempre aqui. A Abby ficava lendo livros pra você...

—Eu sei. Mas não eram elas. Tinha mais alguém vindo aqui. Todos os dias. —Falei, esfregando minha testa, enquanto via meus pais trocarem um olhar demorado, como se estivessem se perguntando se eu estava realmente bem. —Eu não estou ficando louco. Eu sei do que estou falando.

—Você estava em coma, Briar. Talvez só esteja confuso. —Meu pai murmurou, usamos um tom de voz cauteloso que me fez bufar, porque eu sabia o que estava falando.

—Nathan usou uma faixa com meu nome no último jogo? —Indaguei, vendo a surpresa que a pergunta causou nos três. Principalmente em Abigail. —Se isso é verdade, foi a Abby ou a Millie que me contaram? —Nenhum deles respondeu, o que me fez engolir em seco. —Então quem me contou, se não foi nenhuma das duas?

—Não... não sabemos. —Minha mãe olhou para Abigail, como se a perguntasse silenciosamente se mais alguém havia estado ali. —Você se lembra de ouvi-la falando com você?

—Eu...

—Você se lembra de ouvir a gente falando com você? —Minha mãe nem me deu a chance de responder, antes de fazer outra pergunta. —Lembra do que falávamos?

—Querida. —Meu pai tocou o ombro dela, como se quisesse que ela fosse com mais calma para não exigir muito de mim. Mas eu me sentia bem. Eu me sentia muito bem. —Vamos tentar descobrir quem estava vindo aqui visita-lo, tudo bem? Mas não fazemos ideia de quem pode ser. Você normalmente recebia vistas quando estávamos aqui.

Comprimi meus lábios e assenti, antes de soltar um suspiro pesado. Me lembrava sim das coisas que ela me falava. Parecia um sonho muito confuso e se eu me esforçasse muito para tentar pensar, minha cabeça doía. Mas eu me lembrava, sim. Me lembrava da sensação da sua mão segurando a minha e da voz calorosa e gentil falando comigo enquanto me fazia companhia.

Queria saber quem era, porque ela tinha me feito tantas perguntas que eu não pude responder. Mas agora eu podia responder todas elas e queria que ela soubesse que eu estava ouvindo. Que eu estava ali o tempo todo, mesmo que parecesse que não. Queria ter tido força o suficiente para segurar a mão dela e a impedir de ir embora. Mas onde quer que ela tivesse ido, eu iria encontrá-la assim que saísse dali. Tinha algumas perguntas pra fazer a ela também.



Continua...

Como conquistar Briar Harding / Vol. 5Onde as histórias ganham vida. Descobre agora