Capítulo 4: Nada mudou.

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Novembro

Olhei para o relógio ao lado da minha cama, que não marcava nem 07:30. Mas isso não estava evitando os gritos e as batidas no corredor, que martelava na minha cabeça como uma bomba prestes a explodir. Me arrastei para fora das cobertas na mesma hora, abrindo a porta do quarto no mesmo instante.

Meu irmão mais novo, Wyatt, estava batendo na porta do banheiro sem parar, gritando que estava apurado para fazer xixi. A garoto de 13 anos ainda estava de pijama, com os cabelos loiros apontados pra cima, como se ele tivesse passado no meio de um furacão. Na verdade, o furacão era ele, porque Wyatt se metia em confusão com uma facilidade impressionante quando estava fora de casa.

—Wyatt! —Exclamei, fazendo ele dar um pulo no lugar e olhar pra mim assustado, como se tivesse tão distraído que nem me notou ali. —Não são nem 07:30, pirralho. Para de gritar, pelo amor de Deus!

—Eu estou quase me mijando. Quer que eu faça nas roupas? —Indagou, se virando para a porta e batendo a mão contra ela de novo. —Taylor, sai daí de uma vez, ou eu vou mijar em cima da sua cama!

A porta se abriu na mesma hora, revelando minha outra irmã mais nova, de 10 anos, e a caçula da casa. Taylor também estava de pijama, com a escova de dente enfiada na boca suja de espuma. Ela revirou os olhos assim deu de cara com Wyatt, antes de ser empurrada para fora do banheiro quando o garoto entrou e fechou a porta com uma batida alta o suficiente para acordar os vizinhos.

—Por que vocês dois precisam implicar um com o outro o tempo todo? —Indaguei, vendo Taylor de ombros, como se aquilo nem fosse culpa dela e voltar a escovar os dentes ali mesmo, no meio do corredor. Os cabelos pretos ainda úmidos, deixando claro que ela estava tomando banho antes de resolver escovar os dentes.

Voltei para o meu quarto, trocando de roupas antes de descer para o segundo andar, entrando na cozinha que cheirava a torradas e panquecas. Mavie estava no fogão, enquanto minha mãe estava arrumando a mesa para todo mundo. Ela sorriu assim que me viu, murmurando um bom dia quando me aproximei e beijei sua bochecha.

Minha mãe, assim como Mavie, Joe e meu pai, tinha pele negra. Mas os cabelos eram super curtos e cacheados, dando a ela uma aparência jovial e tranquila. Mas não havia nada de tranquilo na nossa casa. Não quando éramos em 7. Lizzie e Walter Hollis decidiram começar sua família com filhos adotivos quando descobriram que não poderiam gerar um
bebê. Mas eles gostaram tanto de adotar um filho, que decidiram não parar, tanto que já estão na fila para adotar mais um.

Eu tinha sido a primeira a ser adotada por eles. Tenho muito que agradecer a eles, porque eles cuidaram e me amaram como se eu tivesse nascido dos dois. Isso valia por qualquer família de sangue. Depois de mim veio Mavie, depois o Joe, a Taylor e por último o Wyatt. A família foi crescendo, na mesma medida que o caos aumentava. Mas o amor também cresceu e era isso que importava pra eles e pro restante de nós.

—Bom dia! —Meu pai entrou na cozinha, deixando um beijo no topo da minha cabeça, já que eu já estava sentada na mesa me servindo, antes de ir deixar a sacola de compras sobre o balcão. —Onde estão os outros? Já estão atrasados para a escola.

—Wyatt estava ameaçando mijar na minha cama. —Taylor entrou na cozinha junto com Joe, que soltou uma risada, enquanto meus pais trocavam um olhar incrédulo ao ouvir aquela acusação dela.

—Ele estava só brincando, filha. Venha tomar café pra poder ir pra aula. —Meu pai a chamou, começando a colocar panquecas em um prato pra ela. Eu não disse nada, mas sabia que Wyatt não estava brincando. Ele realmente faria aquilo se ela não abrisse a porta do banheiro.

O pestinha entrou na cozinha logo em seguida, passando as mãos nos cabelos loiros para tentar ajeitar os fios. Os olhos castanhos soando cansados, como se ele ainda nem tivesse acordado direito. Puxei a cadeira para que ele se sentasse ao meu lado, servindo café pra ele também, enquanto os outros pegavam seus lugares na mesa para tomarmos café todos juntos.

—Aqueles cupcakes são para as crianças? —Joe indagou do meu lado, me fazendo lançar a ele um olhar questionador e desconfiado que fez meu irmão rir. —Eu não roubei nenhum, mas fiquei com vontade. Por que você sempre leva essas coisas pra elas?

—Porque elas amam e ficam felizes. —Dei de ombros, como se fosse a explicação mais óbvia. Eu também gostava de cozinhar, então adorava passar um tempo na cozinha fazendo alguma coisa.

Joe era o segundo mais velho, com 21. Um ano mais novo que Mavie e um ano mais velho que eu. Ele cursava relações internacionais, o que facilitou para que ele iniciasse um namoro virtual com uma garota de outro país. Eu esperava que desse certo, porque não queria ver meu irmão com o coração partido por uma estranha ou por algum golpe idiota de alguém.

—Você vai visitar as crianças hoje? —Minha mãe indagou, e eu balancei a cabeça que sim, vendo Mavie me olhar no mesmo instante, erguendo as sobrancelhas como se soubesse que não era apenas isso que eu ia fazer. —Precisa de ajuda para levar as caixas de cupcakes? Seu pai ou o Joe podem te dar uma carona.

—Sim, vai ser melhor. Estava mesmo imaginado como pegaria um táxi com elas. —Falei, erguendo os olhos para o meu pai, vendo-o servir café para Taylor. —Só se não for atrapalhar também. Eu pretendia ir lá agora de manhã. Tenho prova no período da tarde.

—Claro, sem problema. —Meu pai sorriu pra mim, antes de eu olhar para Mavie quando ela coçou a garganta e me encarou.

—Como estão as crianças, Jas? —Ela exibiu uma expressão inocente, mas eu sabia que só estava querendo implicar comigo. —Você passou a visitar elas quase todos os dias. Elas devem estar bem apegadas a você.

—Elas estão, por isso estou indo lá com mais frequência. —Concordei, soltando um suspiro pesado ao encarar minha xícara de café, sabendo que não era bem das crianças que estávamos falando, mesmo que o restante da nossa família não entendesse. —E elas estão bem. Nada mudou.


Continua...

Como conquistar Briar Harding / Vol. 5Where stories live. Discover now