Como conquistar Briar Harding / Vol. 5

Capítulo 10: Você pretende ir?

Cutuquei a gelatina verde na bandeja na minha frente, fazendo uma careta, sem qualquer vontade de comer. Abigail estava me olhando com certa diversão, como se pudesse notar minha aversão aquela comida. Soltei a colher e afastei o pratinho de gelatina, antes de erguer os olhos para a minha irmã.

—Do que está rindo? Não gosto de comida de hospital. Não tem gosto de nada. —Afirmei, arrancando um sorriso dela, que negou com a cabeça.

—A comida do refeitório daqui também não é muito boa. —Ela abaixou os olhos, enquanto eu me perguntava quantas vezes eles tinham comido ali, por terem que me fazer companhia. Todos os dias. Eles estavam sempre ali. —Mas agora você vai poder voltar pra casa e tudo vai melhorar.

—Quero ir pro casarão. Não quero incomodar os dois. Eu estou bem. —Falei, vendo-a enrugar os lábios em resignação. —Como estão as coisas entre vocês? Comigo aqui, deve ter sido mais fácil pra vocês se entrosarem.

—Não fale como se isso fosse uma coisa boa, Briar. Eu não queria os dois só pra mim. Eu queria que você acordasse desde o início. —Retrucou, e eu comprimi os lábios para não sorrir.

Imaginava que ela reagiria daquela forma, mas não mudava o fato de eu achar que isso poderia sim ter os ajudado a se entenderem de alguma forma. Abigail tinha acabado de voltar para casa quando isso aconteceu comigo. Ela ainda estava se acostumando com a ideia de ter um pai e uma mãe.

—Está tudo bem, se é o que quer saber. Encontramos uma rotina boa para nós três. Acho que a ficha de que tenho uma família de verdade agora finalmente caiu. —Abigail abriu um sorriso tímido, como se confessar aquilo a deixasse sem graça. —Mas ainda estava faltando você.

—Agora não falta mais. —Pisquei pra ela, vendo seu sorriso se tornar ainda maior. —E os outros? Julian, Victor e Millie. Eles estavam aqui quando acordei, mas nem consegui falar com eles direito antes de irem embora.

Tinha trocado umas poucas palavras com os três, no qual eles se mostravam felizes por eu ter acordado. Mas logo eles foram embora, porque meu pai chegou e o médico foi chamado. Eu fui arrastado para milhares de exames no qual desejei voltar a ficar apagado, porque aquilo cansava pra caramba.

—Eles estavam vindo aqui te visitar todos os dias também, sempre que podiam. —Afirmou, antes de tombar a cabeça de lado e fazer uma careta de leve. —Nathan está morando no casarão. Ele se mudou uma semana depois do seu acidente. Ele e alguns outros atletas de hóquei também vem aqui te visitar com certa frequência.

—Então o casarão tem um novo morador? —Soltei uma risada, tentando imaginar como estaria sendo Nathan morando com aquele trio. Meu melhor amigo costumava ser um pouco silêncio, mas Victor, Julian e Millie não tinham nada de silenciosos quando estavam juntos.

—Ele está se dando super bem com o Julian. Mas não acho que isso seja uma surpresa. Eles gostam das mesmas coisas. —Abigail deu de ombros, soltando um suspiro pesado ao me analisar. —Você não sabe mesmo quem era a garota que estava aqui?

—Eu só me lembro de ouvir a voz dela e as coisas que ela me dizia, Abby. Mas não consigo nem mesmo saber qual é o tom de voz dela. —Falei, erguendo a mão para esfregar minha testa, antes de puxar meus cabelos para trás. Estava cansado. —É tudo muito confuso, na verdade. Parece que tudo que eu lembro são apenas sonhos estranhos e incompletos.

—Bem, estou curiosa pra saber quem é. Seus amigos sempre vinham aqui quando nossos pais estavam com você. —Abigail afirmou, parecendo um pouco confusa com aquilo. —Você ficava muito pouco tempo sozinho. É estranho alguém ter vindo aqui visita-lo e a gente não saber ou nunca a ver.

—Está achando que eu estou louco também? —Indaguei, vendo Abigail soltar uma risada e negar com a cabeça.

Mesmo que ela acreditasse em mim, não iria mais citar aquilo com os meus pais. Eles pareciam abalados demais com tudo que tinha acontecido. Mal tinham se recuperado do susto e da surpresa de encontrar Abigail e então isso aconteceu comigo. Eu não queria enche-los com outras coisas.

—Não acho que esteja louco. Mas acredito que esteja confuso depois de acordar aqui, sem entender direito o que aconteceu. —Abigail me lançou um sorriso que não chegava até os olhos. —Vou tentar te ajudar a descobrir quem era, mesmo que não faça ideia de como.

Abigail parou de falar quando nossos pais voltaram para o quarto. A ansiedade borbulhou dentro de mim, porque só queria sair daquele hospital. Precisava conversar com meus amigos. Saber todas as coisas que perdi enquanto estava apagado.

—Quando será a festa à fantasia? —Indaguei, vendo Abigail se surpreender sobre a pergunta, porque se inclinou para trás com a o rosto se curvando em uma careta.

—Como você... —Ela parou de falar quando ergui uma das sobrancelhas, parecendo se dar conta de como eu provavelmente sabia. —É daqui a três dias. Você pretende ir?

—Claro que sim. —Abri um sorrisinho, me deitando na cama e soltando um suspiro pesado. —Por isso quero que não conte pra ninguém que acordei e peça para os outros não contarem também, Abby. Deixe todo mundo pensar que eu ainda estou em coma.

—E então você vai aparecer de surpresa na festa? —Era uma pergunta retórica, mas eu balancei a cabeça em afirmação, vendo-a revirar os olhos e soltar uma risada. —Isso vai gerar uma confusão imensa, sabia? Você gosta mesmo de se aparecer.

—Ei, me respeita, eu posso ter batido a cabeça e ficado semanas desacordado, mas eu ainda sou seu irmão mais velho. —Soltei, dando um apertão na mão dela que estava segurando a minha, o que a arrancou uma risada.

—Tudo bem, estrela do hóquei, vou pedir para ninguém contar. Mas teremos que arranjar uma desculpa pra que ninguém venha te visitar. —Abigail coçou a cabeça, como se estivesse tentando pensar em alguma coisa. —Mas serão apenas três dias, então acho que podemos esconder sem que isso acabe vazando. Já sabe com que fantasia vai? Ou quer que eu te ajude a escolher?

—Ah, não... —Balancei a cabeça negativamente, umedecendo os lábios com a língua ao pensar em algo. —Eu já tenho algo em mente.

Continua...