Sua Melhor Lembrança

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— A senhora está muito dispersa esses dias. Tem se sentido bem?

— Sim. — Respondi no automático.

Continuamos fazendo as compras, mas minha mente ainda não estava totalmente focada na tarefa.

— Terminamos? — olhava a lista de Luz por cima de seu ombro — vamos para casa.

— Se esqueceu? — ela me encarava com várias sacolas nas mãos — o senhor Zeke pediu para o encontrarmos antes de ir para casa.

— Mais essa? Não estou com saco hoje — reclamei, ajeitando minha pequena nos braços. — Vamos.

Caminhamos por mais algum tempo; as ruas de Liberio eram extremamente movimentadas. Nesse aspecto, sentia falta dos distritos e vilas pacatas das quais eu estava acostumada nas muralhas.

— S/n! S/n! — uma voz familiar gritava meu nome em meio à multidão, mas era uma sensação estranha. Apesar de conhecer essa voz, parecia que não a ouvia me chamar há anos... espere, na verdade, é isso mesmo. Essa voz é do Reiner!

Fiz sinal para Luz, e nós apertamos o passo. Eu não queria falar com Reiner; isso seria um problema gigantesco.

— Yeager? Senhora Yeager! — ouvi-o mais próximo, mas dessa vez ele usou o nome que adotei após me casar... acho que não vai ter jeito.

Puxei Luz pelo braço e olhei para trás, encarando Reiner para ter certeza de que ele estava longe o bastante para não me ouvir.

— Luzye... — baixei a cabeça, sussurrando para a garota — encontra o Zeke e o faça vir até aqui. Leve a Rory e deixe as compras. —Luz, vendo que eu estava falando sério, não tentou argumentar. Ela se foi rapidamente, levando Aurora consigo.

Esperei em pé no mesmo lugar até Reiner chegar até mim. Ele estava diferente do que me lembrava, mas dado ao fato de já terem se passado quatro anos desde a última vez que nos vimos, isso já era de se esperar.

— Senhor Braun! — Melhorei a cara de poucos amigos que estava fazendo e sorri para ele, entonei minha voz em um tom manhoso e o cumprimentei. — É um prazer finalmente conhecê-lo.

— Sim... é... o prazer é meu... — ele ficava me encarando de uma forma estranha, talvez estivesse decidindo se aquela à sua frente era o mesmo demônio sujo com que ele se envolveu na ilha — Eu...

— Eu realmente queria encontrá-lo em particular! — seus olhos tomaram uma expressão surpresa. Abruptamente, segurei suas mãos entre as minhas com ternura, forcei uma expressão amável antes de encarar seus olhos âmbar — Desde o anúncio do fim da guerra, quero agradecê-lo por ter salvo a vida do meu marido. Não sei o que seria de mim se Zeke estivesse morto... — forcei algumas lágrimas que escorreram com facilidade.

Reiner ficou parado, incrédulo. Ele me encarava assustado, mas também havia certa tristeza em seus olhos, um vazio tenso que eu não me lembrava de existir.

— Não tem que agradecer. Era meu dever protegê-lo. Foi minha culpa essa guerra ter se instalado. Eu falhei na missão de recuperar o Titã Fundador da Ilha Paradis. — A forma como ele dizia aquilo, eu sentia como se ele se culpasse, mas não pela falha em si, talvez por outro motivo oculto aos meus olhos — Desculpe, mas você me lembra alguém que eu conheci há muito tempo... — Ele levou uma das mãos até a altura do meu rosto, como se estivesse decidindo se deveria ou não realizar algum contato físico — Eu... Eu a...

As palavras pareciam engasgadas em sua garganta, mas dada a expressão em seu rosto, talvez eu soubesse qual era o fim daquela frase.

Eu estava prestes a me afastar e dizer algo, mas fui interrompida. Sinto uma mão abraçar levemente minha cintura, e ao mesmo tempo outra mão empurrando o peito de Reiner para trás, trazendo certa distância entre nós. Olhei para o rosto do homem corpulento que estava ali e vi que Zeke colocara seu corpo próximo ao meu, ele era como uma muralha me protegendo.

Freedom Wings - Levi AckermanWhere stories live. Discover now