Capítulo 42: Não temos tempo para luto

4 0 0
                                    

Organizadamente Po Bing montou sua própria mesa estratégica marcando os pontos cruciais, listando as pistas que conseguiu até o momento, enfileirando cada pessoa envolvida como um peão. Ele ficou impressionado consigo mesmo, uma vez que expandiu sua mente para fora de Junming conseguiu se surpreender com uma habilidade que sequer suspeitava ter. Mas claro, não foi um resultado que veio do nada, Po Bing pensou muito, anotou as falhas, levou quase dois dias até ligar os pontos possíveis.

Os dedos esguios deslizando sobre a mesa chamaram a atenção do concentrado Po Bing, ele olhou da mão para cima imediatamente mas não chegava a se assustar apesar de Chuan Bei ter chegado de repente sem fazer qualquer ruído.

ー Isso está impecável, desde quando você é tão bom montar estratégias?

ー Obrigado. Eu também não sabia que eu tinha essa habilidade, penso até que foi sorte de principiante mas ainda tem falhas. ー disse Po Bing humildemente.

Chuan Bei se sentou em frente a mesa e recebeu das mãos de Po Bing algumas anotações.

ー Veja, você não pode se mover sob tantas suspeitas. Você é importante já que sabe tanto a respeito da Lótus Efêmera, não tem ninguém melhor para descobrir o real suspeito.

ー Sim, vamos pensar um pouco. ー disse Chuan Bei após analisar os detalhes.

Não era um silêncio comum, diante ao barulho de tanta informação na mente dos dois, era como se conversassem telepaticamente para chegarem na mesma solução possível. Como se tivessem combinado, os dois disseram juntos.

ー Yongheng Bing.

ー Yongheng Bing.

Eles se entreolharam estranhos diante a coincidência, Chuan Bei falou primeiro.

ー Sei que é recente mas não vejo outra solução, pelo visto você também.

ー Tudo bem. ー disse Po Bing sendo forte para continuar. ー Para todos os efeitos, meu shizun está desaparecido, ele pode muito bem reaparecer.

ー Sim, como Yongheng Bing eu poderia me mover livremente e você seria meu álibi já que é "meu discípulo".

ー Mas e o mestre Chuan? ー disse Po Bing preocupado.

ー Ele não vai interferir. ー Antes que Po Bing abrisse a boca, Chuan Bei completou. ー Chuan Zhong jamais faria algo que pode me prejudicar, disso tenho certeza.

ー Se você diz, então pode dar certo. Ainda sim seria melhor se tivéssemos mais testemunhas do retorno de Yongheng Bing.

ー Bom, por acaso tem alguma investigação próxima? Poderíamos aproveitar esse momento. ー sugeriu Chuan Bei.

ー Não. ー pegando o gancho da sugestão de Chuan Bei, Po Bing pensou um pouco e uma luz em sua mente não tardou a brilhar. ー É claro, tenho que fazer patrulhas de exorcismo frequentemente, o que acha?

ー Incrível!

Chuan Bei não escondeu o quão essa ideia o deixou animado. Enquanto Po Bing pensava que sua astúcia estava sendo elogiada, Chuan Bei viu a oportunidade de matar dois coelhos com uma cajadada, exorcistas em ação era o que ele precisava para dar continuidade ao seu plano.

ー Então está combinado, eu só preciso enviar uma mensagem pra eles, mas como eu vou enviar essa hora? ー disse Po Bing se preparando para escrever.

ー Eu cuido disso, vão receber bem rápido. ー disse Chuan Bei com certeza.

ー Como?

ー Escreva primeiro. ー gesticulou Chuan Bei para que Po Bing continuasse a escrita.

Chuan Bei até pensou em sugerir o lugar de seu objetivo como ponto de encontro mas, do jeito que Po Bing perguntava como uma criança curiosa, preferiu resolver isso em ação.

Com detalhes, Po Bing preparou um convite comum para seus colegas exorcistas, ao concluir Chuan Bei lhe pediu o convite e o pincel, no lado oposto da mensagem ele desenhou alguns caracteres e fez dobraduras cuidadosas que deram forma a uma delicada borboleta de papel.

ー Com um zhezhi[1]? Eu não acredito. ー disse Po Bing que estava observando tudo atenciosamente duvidando que Chuan Bei faria aquela dobradura de papel para levar a mensagem.

ー Veja por si mesmo. ー Chuan Bei deu um sorriso faceiro encarando como um desafio.

Po Bing seguiu Chuan Bei até uma janela, quando ela foi aberta Chuan Bei se antecipou e perguntou tranquilo.

ー Para onde?

ー Ah, para meu vilarejo. ー respondeu Po Bing aguardando ansioso.

ー Vá ao seu destino. ー disse Chuan Bei erguendo sua palma para fora, sobre ela estava sua borboleta de papel que imediatamente cumpriu a ordem de seu criador.

Chuan Bei recolheu a mão deixando livre sua borboleta que, agora com vida própria, cortava o ar com suas asas ágeis e enfeitava o céu com suas dobras graciosas.

Encantado por cada detalhe daquele feitiço, os olhos de Po Bing brilhavam vendo o rápido e belo bater das asas, até mesmo um sorriso meigo enfeitou o rosto jovem. Não sabia a quanto tempo, mas Po Bing pegou Chuan Bei lhe encarando discretamente, as pálpebras estavam quase fechadas mas ainda sim a luz noturna faziam as brechas das íris escarlates reluzirem. Ao ser observado por ele, Po Bing tinha a sensação de que o ar não circulava naturalmente dentro de si, um desconforto inexplicável.

Po Bing desviou o olhar, desmanchou seu sorriso, não soube o que dizer. Por milésimos achou que Chuan Bei abriu a boca para esfregar em sua cara o seu sucesso mas as palavras que ouvia soavam acolhedoras.

ー Se quiser eu posso te ensinar depois. ーChuan Bei fechou seus olhos e ergueu o rosto para frente como se acompanhasse o voo de sua borboleta.

Brevemente surpreso com a forma madura Chuan Bei quebrou o gelo, Po Bing aceitou os ensinamentos com alegria e satisfação.

ー Uhum.

Aquela noite pareceu passar mais devagar, Chuan Bei e Po Bing ficaram lado a lado naquela janela até aquela borboleta de papel sumir de suas vistas, sobrando apenas o silêncio e a companhia um do outro.

Aquela tranquilidade era rara debaixo do teto de Hongwang.

[1] Dobrar papel chinês, ou zhezhi (), é a de dobrar papel que se originou na China medieval. Também popularmente conhecido como Origami na cultura japonesa.

Os Proprietários do Luar: A Lótus EfêmeraWhere stories live. Discover now