Capítulo 32: Confiança inexplicada

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– Chanceler, já fazem três dias e duas noites que viajamos sem parar. Não está cansada?

– Quem está cansada? – falou Chuan Li parando e virando-se para trás com determinação.

Não precisava de resposta, a expressão exausta de cada um dos cultivadores que seguia Chuan Li já dizia tudo, a Chanceler ficou sem jeito por ter rudemente esquecido do bem estar de seus seguidores diante a pressa de concluir o caso.

Percebendo que Chuan Li estava sem palavras, Yongheng Bing tomou a fala com gentileza.

– Ainda estamos longe da cidade, vamos encontrar um lugar confortável por aqui.

Todos assentiram sem exceção, induzindo Chuan Li a ceder para aquela ideia.

– Certo. Vamos conseguir alguns galhos e folhas secas para nos aquecer e podemos descansar essa noite antes de continuar.

– Sim, Chanceler. – confirmaram e se dividiram organizadamente em trios para procurar recursos.

Yongheng Bing se responsabilizou por averiguar o local para saber se era seguro e adequado para passar uma noite, afinal não bastava ser tranquilo, amplo e plano, e Po Bing se juntou a distraída Chuan Li.

– Vai ser bom pra você também.

– O que? – perguntou Chuan Li voltando a si.

– Descansar vai ser bom pra você também. Não se cobre tanto. – repetiu Po Bing gentilmente.

– Haha, olha só quem está me falando isso.

Chuan Li sacou Jinpo e realizou um corte rápido lateral no ar projetando uma onda de vento forte o suficiente para varrer folhas, galhos, pedras e até pequenos animais e insetos do local, revelando um chão limpo de terra avermelhada.

O sopro de vento dessa habilidade não era forte o suficiente para tirar um homem adulto como Po Bing do lugar, mas o induzia a fechar os olhos, agitava as roupas e bagunçava os cabelos dele.

– É diferente. Você governa e lidera todo o exército imperial e eu apenas cuido de um vilarejo. – falou Po Bing arrumando os cabelos.

– Po Bing, vou lhe dizer o que acho. – disse Chuan Li guardando Jinpo na bainha. Ela cruzou os braços e continuou.

– Nenhum trabalho justo é menor do que o outro, tenho certeza que nós damos nosso melhor independente das nossas posições sociais. Passar o dia inteiro se preocupando e lutando pelo bem estar dos outros, acredito que nossos trabalhos não são tão diferentes.

– Pensando assim… – falou Po Bing inspirado pelas palavras dela.

Estava sem jeito por se sentir elogiado, contendo o leve nervosismo. A atenção dos dois se voltou para Yongheng Bing, que retornava de sua vistoria com boas notícias.

– Parece que não há perigos presentes, pela vegetação vigorosa acredito que não seja uma região frequentada por outras pessoas.

– Obrigado pelo bom trabalho, shizun. Vamos ficar atentos de qualquer forma. – falou Po Bing que, apesar da confiança que tinha em Yongheng Bing, ainda se preocupava com a região desconhecida.

Yongheng Bing se acomodou sentado sob a sombra de uma nogueira que despejava suas folhas amarelas outonais, a natureza estava avançando para um inverno rigoroso.

Aos poucos os cultivadores foram retornando trazendo os recursos que foram pedidos e um pouco mais, alguns conseguiram ovos, outros peixes e também frutas e ervas para reabastecer as energias mas estava longe de ser um banquete, todo o alimento que conseguiram deveria ser igualmente dividido para tantas pessoas.

Quando o acampamento improvisado estava pronto já havia escurecido, a chama da fogueira iluminava e aquecia a todos, além de ser a fonte de preparo de alguns alimentos que trouxeram.

Como o discípulo atencioso que era, Po Bing trouxe algumas frutas para Yongheng Bing. Sentando ao lado dele, Po Bing estendeu a mão oferecendo algumas nasperas.

– O shizun devia comer algo também ou os cultivadores vão se sentir mal em não ter deixado um pouco para o senhor. 

Antes meditando em silêncio absoluto e adequadamente posicionado de pernas cruzadas, Yongheng Bing escutou Po Bing com atenção. Observando os cultivadores que lhe espiavam disfarçadamente, provavelmente esperando que aceitasse as frutas, Yongheng Bing não se viu em posição de recusar.

– É muita gentileza, ficarei com uma. – e Yongheng Bing pegou exatamente uma naspera das mãos de Po Bing.

Com um gesto agradeceu e escondido por baixo do véu de seu chapéu comeu a fruta em. Os jovens cultivadores esperançosos por dessa vez acharem ter a chance de ver o rosto de Yongheng Bing ficaram decepcionados. As reações desiludidas provocaram uma curta e baixa risada de Yongheng Bing.

– Shizun…

Po Bing também chegou a sorrir percebendo a situação, era adorável tamanha curiosidade, mas algo o deixou aéreo. Sentia uma leveza estranha, um calor crescente e incomoda. Po Bing colocou a mão no rosto e antes de pensar em falar, Yongheng Bing iniciou uma conversa em sussurro.

– Po Bing, você deveria retornar. É arriscado passar o aluamento em caçada.

– Para Hongwang? Não é mais arriscado? 

– Temos um pacto, se ele lhe fizer mal irá se ver comigo, vou lhe levar de volta pela manhã. – falou Yongheng Bing com seriedade.

– De onde vem toda essa confiança, shizun? – disse Po Bing desconfiado.

Não houve resposta. Yongheng Bing estava parado em posição de meditação, apenas sua leve respiração era percebida.

– Shizun? – perguntou Po Bing tocando o ombro de Yongheng Bing.

Ainda não houve resposta ou reação, então Po Bing desistiu com um suspiro. Yongheng Bing tinha um horário fixo para dormir, quando batia o horário ele simplesmente adormecia independente da posição que estivesse, desde que o ambiente estivesse tranquilo e pacifico.

Todos resolveram revezar durante a noite. Enquanto alguns dormiam, outros faziam a vigilância como uma verdadeira equipe, assim não tiveram dúvidas de que passaram uma boa noite.

Os Proprietários do Luar: A Lótus EfêmeraWhere stories live. Discover now