amor de fim de noite.

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"Então vem comigo hoje
Vou mudar essa história hoje
Nós vamos ser mais do que um amor de fim de noite."

2018, Lisboa.
Lua 🌊

Fechei os olhos, fiz a minha reza de sempre e observei a movimentação do mar, beijando a tatuagem que tinha com meus pais e começando a remar.

Era a última bateria e eu estava competindo simplesmente com a vencedora dos últimos campeonatos. Ela foi primeiro que eu e atingiu uma pontuação muito boa, mas vacilou no finalzinho e é aí que morava a minha chance.

O mar se agitou e eu comecei a remar, fazendo algumas manobras enquanto a onda perfeita não chegava. E ela chegou, bem maior do que eu imaginava. Me equilibrei e entrei no meio dela. O frio na barriga me fez lembrar o quanto eu amava esse esporte.

Sou apaixonada pelo mar desde que me conheço por gente, e ter crescido em uma das melhores praias para surfar do Rio, me fez me aproximar do esporte muito cedo.

Meus pais cresceram em um quilombo de Buzios e assim que se casaram, construíram uma pousada na praia de Geribá. Eles eram o típico casal tilelê. Calmos, gostavam de meditar, conectados com a natureza, e eu, não podia ser diferente.

Assim que entenderam que era isso que eu amava, me apoiaram sem pensar duas vezes e eu me considerava sortuda pra caralho por isso.

Amava, mas não dava pra negar o quão elitista e fechado é o mundo do surfe. Já começa pelo fato de não darem valor para as mulheres surfistas, e aí vem o machismo, dificuldade de conseguir espaço e patrocínio, falta de credibilidade nos campeonatos, enfim, é foda.

Em compensação, me trouxe muitas coisas boas. Disciplina, perseverança, me levou pra conhecer diversos países e me apresentou pessoas maravilhosas, inclusive, meu melhor amigo, Matheus, que apesar de não surfar mais, tinha virado meu preparador e me acompanha em todos os campeonatos.

Além do mais, nada pagava a adrenalina que eu sentia a cada onda que pegava, parecia que era só eu e o mar, um conversando com o outro.

E foi assim que me senti quando voltei a superfície após realizar o tubo perfeito. Me apoiei e sentei na prancha, olhando em direção ao Matheus e vendo ele comemorar.

Ali eu já sabia que era minha.

(...)

- Irmão, desce mais dois whiskys. - Matheus bateu no balcão, enquanto o barman nos servia mais uma dose. - Ih, no dela. Hoje é tudo na conta dela. - Passou minha comanda, enquanto ele anotava e eu dava risada.

- "Irmão". - Ri de novo. - Tu não ta no Brasil não, cara.

- Certeza que o coitado nunca foi tão bem tratado, quando a gente chama já vem até sorrindo. - Gargalhei. - Cara, eu realmente tô muito orgulhoso de você. Tu é foda, ta botando esses machistas e racistas da porra desse esporte pra ficar ó, quietinhos. - Brindamos.

- Eu nem acredito que venci um WSL. Não vejo a hora de chegar em casa.

- Sabe que vai ser festa por uma semana na pousada, né? Conhece seus pais. - Rimos.

- Vou beber tudo o que não bebi nesse campeonato.

- Começando por hoje. - Demos um gole e eu fiz careta, enquanto ele ria.

Desviei o olhar, observando um carinha que estava em uma mesa proxima do balcão. Ele tinha chegado um pouco depois da gente com mais um cara e desde que nossos olhares se encontraram a primeira vez, começamos um flerte gostosinho.

Planos || Gabigol Where stories live. Discover now