Capítulo 02 - Piratas Frostburn

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Um mês e meio depois…

"Que qualidades são necessárias para ser um capitão?"

Passei a me perguntar isso há algum tempo, após essas seis semanas que passei a bordo. Aprendi tanto sobre essa tripulação, sobre métodos de combate e sobre mim mesmo que mal sei por onde devo começar! Vou começar por onde me parece mais ideal, listando o que mudou nesse tempo. Por exemplo, minha nova rotina no mar.

A antiga consistia em acordar, comer, me lavar, dormir e repetir. Volta e meia eu conseguia sair da mesmice, encontrando algo novo e escrevendo passagens em meu diário. Mas sinto que boa parte dos meus dias foram desperdiçados. Minha vida estava se tornando monótona, até mais do que era em Pasta.

Porém agora, meu dia começa às cinco da manhã, onde meu treino de combate com Ace tem início. Estamos praticando alguns golpes certeiros e estou aprendendo esquiva rápida – algo que ainda preciso pôr em prática. Apesar de não ser um espadachim nato, ele também propôs me ensinar a lutar com espadas.

"Não se esqueça, tudo começa com sua postura!" Me recordo desse momento, ele posicionou com a espada em mãos. Ajeitando a forma que eu segurava a espada, ele desceu sua mão.

"Olha a mão boba!" O repreendi rindo, dando um tapa em seu braço. Ele havia segurado com ambas as mãos em meu quadril, tentando endireitar minha postura.

"Calma, só tô tentando te ajudar!" Ele também riu, e continuou a me guiar. Confesso que não esperava ter tanto trabalho para aprender algo que muitas vezes parecia improvisado.

Mesmo que ele tenha sido a razão inicial de eu estar refém do bando, o sardento foi a primeira pessoa que me afeiçoei aqui. Afinal, o rapaz era boa pinta e muito carismático – era fácil gostar dele. Gosto de pensar que deixei a mesma impressão, já que nos tornamos colegas rapidamente.

Às oito horas, encerramos o treino para tomar café da manhã, e às dez, após comer, vou praticar minha mira com Mihar. Não havia outro arqueiro no navio, então o sniper se ofereceu para me treinar. Uma boa mira era algo que precisávamos ter em comum.

"Segure-o na altura do ombro. Isso." Me indicou, demonstrando o que queria dizer com sua espingarda. Eu tentei imitar o gesto.

Embora o homem fosse mais reservado, nos entendemos muito bem. Eu só lhe pergunto o básico, e ele parece sempre disposto a me tirar qualquer dúvida. Ele foi um professor antes de embarcar, e sua paciência e destreza para ensinar deixavam isso claro.

Por volta de uma hora paramos para almoçar, e em seguida tiramos um longo cochilo. Confesso que demorei pra me acostumar com essa prática do bando, mas agora não consigo mais ficar de pé depois do almoço. Antes que o sono me pegue, tento atualizar meu diário, e Deuce também.

"Gosto de escrever nossas aventuras na forma de uma história. É mais interessante do que só registrar" ele comentou, confiando mostrar alguns trechos para mim.

"Isso é muito bacana, Deuce... eu também faço parte da história?" Perguntei curioso, embora estivesse apreensivo, com receio de ter sido escrito como o antagonista ou um personagem chato.

"Claro que está. É o novato irritante que o capitão adotou para si." Respondeu com um sorriso de canto, claramente me provocando. Dei um leve empurrão em seu braço e rimos juntos.

Me surpreendeu esse hobbie em comum que temos, anotar nossas experiências, aventuras e pensamentos corriqueiros. Outros de nossos companheiros achavam um passatempo infantil, e riam sempre que nos pegam fazendo isso. O mascarado fazia questão de retirar seus nomes da história por conta disso. Acredito que só Ace, Mihar, Kotatsu e eu não fomos apagados.

Precious Memories: Em ChamasDonde viven las historias. Descúbrelo ahora