Prólogo

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"Quem sou eu...?"

Tudo foi motivado por essa pergunta, querendo ou não. Se eu não tivesse questionado isso, talvez não teria chegado aqui.

Todos no vilarejo poderiam responder essa pergunta facilmente. "Y/N? Sim, este é o nome do órfão que vive no topo da colina." "É o filho bastardo da Viúva Negra!" Rudemente mencionavam.

Semanas atrás, quando finalmente cheguei a maioridade, visitei o túmulo de minha mãe, para prestar novamente minhas condolências. Eu não pude conhecê-la, já que morreu ao me dar a luz. Mas sua expressão suave, a ternura em seu olhar me fazem desejar tê-la conhecido.

"Talvez se ela estivesse aqui, pudesse cuidar de mim, me treinar, me ensinar a usar melhor o arco que deixou de herança. Talvez isso fizesse de mim alguém diferente." Quando me afundei nesses pensamentos, segurei a foto dela, acariciando a moldura. Foi então que percebi outra pessoa naquele retrato.

Se tratava de um homem esbelto, de cabelos [cor do cabelo], como os meus. Curiosamente, apesar de ter os olhos e o tipo de cabelo de minha mãe, sempre me perguntei de onde outros traços meus vieram, como a cor de meus pelos, ou meu tipo físico. Nunca achei a resposta, e isso me deixou com uma pulga atrás da orelha.

"...Quem era ele?"

Quando cheguei em casa, procurei por outras fotos que guardava, me surpreendendo ao ver a figura de pele [cor de pele] na maioria delas. Especialmente nas fotos em que eu estava presente, após a perda. Aquele homem me deixava intrigado.

Faria sentido ele ser meu guardião, a causa de eu nunca ter sido adotado por ninguém, ou não viver de ajuda. Aquela pessoa esteve presente, todo esse tempo.

Ele ter cuidado de mim explicaria muita coisa. Como por exemplo, como aprendi a manusear meu arco, mesmo que de forma errônea. Explicaria minha choupana, o quarto sobrando...

"Por que eu não me lembro dele?"

Checando antigos diários meus, pude notar em diversas passagens citações a respeito daquela pessoa. Era meu pai. Eu tive um pai! Eu não era um órfão completamente abandonado como pensei todos esses anos! Sendo assim... Quem sou eu?

Filho único de Mari, herdeiro do clã Yajirushi. Mas eu era outra pessoa também, filho daquele homem [cor de cabelo]. Não pude me contentar com essa dúvida, não podia esquecer alguém. Afinal, eu não me esqueço de nada.

"Por quanto tempo eu esqueci dele?"

Me sinto um idiota por nunca ter estranhado nada. Depois de ter checado tudo, era claro que eu só passei a morar sozinho há alguns meses atrás. Certas coisas evidenciaram minha falta de prática, como camas mal arrumadas, roupas mal dobradas e por aí vai.

Indaguei então moradores de Pasta sobre o homem, mas estavam tão alheios a quem ele era, quanto eu. Era como se ele tivesse sido apagado da mente de cada pessoa do vilarejo.

Sem pensar duas vezes, arranjei mantimentos, juntei todos os meus berries e comprei o barco mais barato que pude encontrar. Logo zarpei de Borondón, me despedindo do povo do vilarejo em que cresci. O mar estava à minha frente, e sem medo ou preparo algum, dei início a minha jornada.

Semanas depois, aqui me encontro, procurando por qualquer coisa que possa me indicar o paradeiro de meu pai ou de minhas memórias. Não tenho nada muito concreto, mas já sei por onde começar: há dois meses, um bando de piratas invadiu Pasta, saqueou algumas casas e levou pessoas.

Precious Memories: Em ChamasWhere stories live. Discover now