Capítulo 07 - Caro Mio

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|TW: Sangue; bullying; agressões físicas|

[Troca de pov; terceira pessoa]

[Começo de flashback]

Alguns anos atrás…

Em Pasta – um singelo vilarejo afastado da capital de Borondón –, Y/N apareceu, saindo de uma pequena choupana. Ele corria de um lado para o outro, descendo o morro afoitamente. 

—Não, eu não quero ir pra escola!!! — o pequeno choramingou, aparentemente fugindo de alguém. —Ninguém gosta de mim lá! 

Ao descer toda a ladeira, ele caiu de bunda no chão, na frente de um senhorzinho. Ele colocou a mão no olho e voltou a chorar. Aparentava ter entre seis e oito anos. 

—Meu pequeno, escute os mais velhos! Você precisa ter uma boa educação — o senhor diz, o ajudando a levantar. O pequeno olhou para trás, mas não havia nada ali. Ele concordou com a cabeça.

—…Você vai me dar um doce de novo, vovô? — perguntou, recebendo um cascudo de alguém que não estava ali. Ele acariciou a própria cabeça. 

—Mas é claro que sim! — ele não era mesmo o avô de Y/N, mas todas as crianças o tratavam dessa forma. 

—Então eu vou… — ele soltou uma gargalhada fina.

—Pode deixar, eu levo o Y/N-zinho para a capital — o senhorzinho falou, alcançando a mão da criança. 

Após algumas horas a pé, chegaram a Bello, a capital do país. Era uma cidade grande e repleta de vida, com estruturas altas e casas coloridas. As ruas eram estreitas com fachadas cheias de cor que se misturavam com a exuberância tropical de jardins exóticos e palmeiras.

Os sons do samba e do fado ecoam pelas praças, onde mercados de rua apresentam produtos locais. A culinária da capital era repleta de massas e tinha como matéria prima o café e o milho. Um verdadeiro espetáculo, que se diferencia completamente do vilarejo calmo e humilde de Y/N.

Pasta possuía poucas casas, todas pobres. As pessoas que moravam ali trabalhavam nas enormes plantações que haviam espalhadas pela nação, pelas quais o país se destacava. Borondón era o maior exportador de milho e café dentre todos os quatro mares, fruto do rei Lombardi.

Uma moça passou dirigindo uma lambreta com uma garota na garupa, buzinando para que o senhor e o menino abrissem espaço. As ruas da cidade estavam cheias de pessoas em veículos assim, então eles precisaram pegar um atalho por uma viela. 

A escola já estava à vista e inúmeras crianças se aproximaram junto a seus pais para entrar. Y/N apertou um pouco a blusa do velho, se escondendo atrás dele. 

—Fique calmo, pequeno. As crianças não podem ser tão más assim. 

—Você que não sabe, já tá velho mesmo… — respondeu malcriado, escutando a risada rouca do senhor em resposta. 

Ele deixou o menino dentro da escola, na porta da sala de aula. Precisou se despedir cedo, já que tinha suas próprias obrigações em Pasta e por ter deixado o garoto, já perdeu boa parte do dia. 

O garotinho olhou para dentro da sala, vendo seus colegas brincando antes da aula começar. Engolindo a seco, entrou e se sentou em sua cadeira. Algumas crianças o cumprimentaram, mas ele só respondeu com um aceno sem graça.

Y/N tinha o uniforme mais simples ali, que usou desde que começou a estudar. Estava gasto, mas ainda bom o bastante para que outro par não fosse comprado. Seu cabelo também estava um pouco bagunçado, já que ninguém que lhe era próximo sabia lidar com seu tipo de cabelo, herança genética de sua mãe. 

Precious Memories: Em ChamasWhere stories live. Discover now