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Capítulo 37

Yao

San Diego — Califórnia

Dois dias depois

Depois de um mês me sentindo uma fugitivo, é difícil conseguir me readaptar a um lugar como esse.

A casa parece uma mansão, digna dos milionários de Hollywood.

O banheiro do meu quarto tem uma banheira enorme e aproveitei tudo o que eu podia em meia hora relaxante dentro de um monte de espuma.

Saio da água, pego uma toalha e enrolo na cintura. Depois, passo a mão no espelho embaçado. Eu já consigo encarar a minha imagem. Não por muito tempo, mas é um começo.

Meia hora depois, olho para o relógio e vejo que já são onze e cinquenta e dois da noite. Eu deveria tentar dormir, mas cadê o sono?

Aos poucos, meus pesadelos têm diminuído, mas eles ainda vêm uma vez ou outra. Por esses dias, no entanto, não é isso o que tem me impedido de conciliar o sono, mas a falta que sinto de Haiukan.

Desço as escadas e vou até a porta de entrada, conferir no painel se o alarme está ligado.

Essa é a terceira vez. A casa é segura como uma fortaleza, mas minha mente gosta de me pregar peças e o medo às vezes chega de maneira inesperada.

Vou até a cozinha pegar uma garrafa de água e mais uma vez me pergunto se essa é somente uma casa de férias da família de Anastácia. Se for, ela deve ser tão rica quanto Haiukan porque não deixa nada a desejar à da ilha.

Como combinado, na manhã seguinte em que Xiao Zhan me disse que havia conseguido uma casa para mim, nos falamos novamente através do telefone público. Alguns minutos depois, um carro foi me buscar no hotel.

Segui todas as instruções dele. Não conversei com os dois homens que me apanharam — o que não foi qualquer sacrifício, já que ainda não me sinto confortável com estranhos  — e liguei o aparelho celular que Anastácia me enviou. Também me foi entregue uma mochila, com uma carta da minha anfitriã à distância.

Nela, havia seu número de celular, dinheiro e os códigos para abrir a porta da casa, assim como os do alarme.

Segundo a mensagem, o celular que ela me mandou era seguro.

Mais um dos aparelhos irrastreáveis como o que Haiukan me deu.

Ainda tenho o antigo comigo, mas não liguei porque sabia que se o fizesse, ele me encontraria como da outra vez.

Haiukan me disse que quem projetou o celular foi o dono da maior empresa de tecnologia dos Estados Unidos e também seu melhor amigo. Não sou inocente ao ponto de acreditar que eles não conseguiriam me encontrar em questão de minutos.

De qualquer modo, enquanto os homens me traziam para San Diego, tive bastante tempo para pensar durante o caminho. Decidi que não serei um fugitivo para sempre. Chega de sentir medo.

No momento do pânico, meus instintos tomaram a frente e eu corri, mas quero minha vida de volta — uma vida normal, dentro do possível, com toda a bagagem que carrego. E quero meu alfa ao meu lado também.

Estou mentalmente esgotado. Já passei por sofrimento para duas encarnações e não vou abrir mão da felicidade.

Nem sei se depois de ter fugido dele novamente, ainda há alguma chance para nós dois. Como Xiao Zhan disse, ele é orgulhoso e talvez dessa vez seja mais difícil me perdoar. De qualquer modo, se terminarmos, será olho no olho, e não comigo fugindo como um covarde.

Abro a mesinha de cabeceira e pego o telefone antigo. Passo os dedos pelo painel, criando coragem. Em Atlanta ainda não são nove horas da noite.

Respirando fundo para acalmar meu coração, religo o celular que ele me deu.

Tenho apenas dez por cento de bateria e me levanto para procurar o carregador, quando o aparelho toca, me dando um susto.

Estou tremendo para caramba porque sei que não é Xiao Zhan.

Mesmo com medo de enfrentá-lo depois do que eu fiz, atendo.

— Chega.  — A voz com a qual eu sonho todas as noite diz do outro lado da linha.

— Haiukan? — Pergunto apenas para ganhar tempo.

Meu coração está em uma corrida louca.

— Eu já sei de tudo, Yao. Não adianta me dizer para não ir atrás de você, eu… — ele começa.

— Estou morrendo de saudade — solto, antes que ele possa continuar. — Sinto muito por ter fugido. Não queria que ele me usasse para atingi-lo.

Estou muito envergonhado de mim mesmo. Eu deveria ter confiado nele e não corrido.

Ele dá um suspiro arrastado que parece durar uma eternidade. Na verdade, algo mais parecido com um rugido.

Nem pergunto como ele sabe que estou aqui. Não importa mais porque não tenho a intenção de me esconder novamente.

— Precisamos conversar. Xiao Zhan me contou tudo, mas ainda existem várias lacunas a serem preenchidas. Estou indo para a Califórnia.

— Quando?

Não quero mais esperar para reencontrá-lo, a agonia da separação batendo fundo.

— No máximo amanhã. Estou fazendo alguns arranjos necessários. Não irei sozinho.

— O que isso significa?

— Conversaremos pessoalmente, baby. Até eu chegar, não saia de casa.

— Eu não tenho feito isso, de qualquer modo. Mas por que vir para cá? Não seria mais lógico que eu voltasse para Atlanta?

— Como eu disse antes, quando eu chegar, explicarei tudo com calma. Tenho um plano.

Você pode me dar a descrição dele?

Ele não precisa explicar para eu entender que está falando do agente federal.

— Alto, quase do mesmo tamanho que você.

— Hesito, tentando me lembrar dos detalhes.

—Não tenho certeza sobre a cor do cabelo porque ele usava um boné, mas acho que são castanhos, pelo que pude reparar. Quanto aos olhos, eu não sei. Ele estava de óculos escuros. Sem barba. Magro, mas com um pouco de barriga. Sua pele é clara, com algumas sardas. .

— Ele lhe deu alguma identificação?

— Sim, mostrou rapidamente a carteira com um documento que tinha as palavras FBI escrito, mas não consegui ler o nome.

— Algum outro detalhe que você se lembre? Idade?

— Acho que por volta de quarenta anos. Talvez um pouco mais. — Pauso, quando de repente uma imagem me volta à mente. — Um anel.

— O quê? — Ele estava usando um anel no dedo mindinho da mão esquerda. Dourado e com um desenho em alto relevo.

Lembro-me de ter ficado concentrado nele, para não ter que olhar para aquele rosto maligno. .

— Tudo bem, é o suficiente por enquanto. Nos vemos amanhã. Eu chegarei na casa à noite.

Não se assuste. De qualquer modo, mandarei uma mensagem.   Ele avisa e sei que está prestes a desligar.

— Haiukan?

— Sim?

— Nunca mais vou fugir de você.

Outro suspiro.

— Amanhã, Yao. Diga-me isso tudo quando estivermos frente a frente amanhã.

(...)

𝕺 𝖒𝖆𝖋𝖎𝖔𝖘𝖔 𝖊 𝖘𝖚𝖆 𝖔𝖇𝖘𝖊𝖘𝖘ã𝖔Where stories live. Discover now