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Capítulo 10

Haiukan

Na mesma noite

Um passo além.

É o que acaba de acontecer entre nós dois e eu tenho certeza agora de que é um caminho irreversível.

Essa noite, quando os gritos começaram, ele parecia ainda mais aterrorizado do que normalmente.

— Por favor, isso dói. Por que os cigarros? Por que fazer isso? Não mais.

— Zanjin … — Como das outras vezes, estou dividido entre o ódio pelo desgraçado e o desejo de despertá-lo. Não é a primeira vez que em meio aos pesadelos, ele narra o que viveu, como se ainda estivesse preso junto ao maldito.

Nessas ocasiões ele se encolhe, toca onde, em sua mente, ele o está machucando e reforço a promessa a mim mesmo não somente de matá-lo, mas de que também o farei sofrer. Quando ele estiver em minhas mãos, implorará para morrer.

— Zanjin  — chamo novamente, porque preciso arrancá-lo do meio de tanta dor.

No instante em que ouve minha voz, ele pula no meu colo, agarrada ao meu pescoço. Eu ainda resisto por um momento, sabendo que a vontade crescente de tocá-lo uma vez iniciada, se tornará um vício.

Mas minha determinação dura pouco e, capitulando, abrigo o corpo pequeno em meus braços, tentando afastar seu medo.

Ao invés de palavras, uso minhas mãos como consolo, acariciando seus cabelos e costas, deixando os fios macios escorregarem por entre meus dedos. A pele quente incendeia a minha.

Sei que ele já está acordado. Sua respiração é irregular. Zanjin  também está sentindo.

A atração mútua, que vem cavando espaço desde a primeira vez em que nos vimos, ameaça explodir.

— Não vá embora hoje, Haiukan .

— Eu sempre fico até que você adormeça — digo, fingindo não entender o que ele acaba de me pedir.

— Eu sei, mas hoje quero que fique a noite inteira.

— Talvez essa não seja uma boa ideia, Zanjin .

— Por quê?

— Você sabe a resposta.

— Não me solte — fala, se acomodando melhor no meu colo.

A cabeça repousa em meu peito e as mãos acariciam minha nuca, em um misto de convite e persuasão. ele se estica e a boca está muito próxima do meu pescoço. Quando inspira, sentindo meu cheiro como se quisesse se impregnar com ele, sei que meu controle está por um fio.

— Não deveria ser tão bom ficar nos seus braços, mas estou adorando.

Jesus Cristo!

— Eu vou ficar. — Finalmente desisto da luta.

Se é isso o que você quer.

— Eu quero.

Puxo as cobertas e me deito com ele em meus braços, posicionando-o em cima de mim.

Meu corpo responde imediatamente e sei que ele percebe, mas não diz nada. Ao invés disso, deita a cabeça no meu peito e, como um garotinho, sobrepõe a mão à minha que está em seus cabelos, fazendo com que meus dedos voltem a acariciá-los.

Quando recomeço a tocá-lo, ele suspira de contentamento e aos poucos, a respiração volta ao normal.

Não tenho dúvidas de que será a noite mais longa da minha vida. Sentir seu cheiro e a maciez de sua carne sem poder dar vazão ao meu desejo se tornará um teste para o meu autocontrole.

Horas mais tarde

Ao contrário dele, não consigo relexar. Meu corpo está tenso pele luxúria reprimida.

É uma situação nova para mim, mas então, tudo sobre Zanjin  é inusitado.

Não externalizo emoções e nem sou do tipo carinhoso, mas velar seu sono, saber que sua respiração se tornou regular porque o estou segurando, me desperta uma sensação inebriante.

Ele se remexe e desço a mão que eu mantinha em suas costas, até a curva de sua bunda. A intenção era só fazê-lo sossegar porque não sou de ferro. Ter seu corpo delicioso ondulando sobre o meu é uma tortura.

Mas na hora em que minha palma pousa na carne arredondada, ele ergue a cabeça. Pensei que estivesse dormindo, mas agora percebo que parece um pouco sem fôlego.

— Eu não quis acordá-lo, é que…

Ele não diz nada, mas mesmo no escuro, vejo seus olhos brilhando para mim. Os dedos tocam minha mandíbula, roçando na aspereza da barba por fazer.

Estou congeledo. Não quero me mexer e estragar tudo porque desejo seu toque como alguém faminto desejaria um prato de comida.

Não sei como isso entre nós começou, mas eu preciso de um pouco mais.

A testa roça meu queixo e em seguida, os lábios carnudos que cobiço há dias, se abrem, os dentes brincando de morder minha pele.

Meu pau incha mais em resposta, mas eu preciso saber onde estamos indo.

— Zanjin …

— Me deixa tocar você. Nunca senti vontade de fazer isso com um homem antes.

Parece um pedido, mas ele não espera que eu concorde e as mãos sobem para os meus ombros, as unhas arranhando a pele.

Seguro seus quadris com força, puxando-o contra mim, mas sem movê-lo. Agora, ele não tem mais dúvida do meu desejo.

A contenção para não avançar me põe um pouco tonto.

— Tocar como? — Pergunto.

Não responde. Sobe mais no meu corpo e os lábios pairam sobre os meus.

Completando o caminho, lambo o contorno da boca doce. ele geme e se remexe.

Santa Mãe de Deus!

Uma das minhas mãos vai para sua nuca e trago seus lábios para mim. Não é um beijo leve, mas exploratório e faminto, que dá vazão ao desejo sufocado há dias.

ele abre a boca, permitindo que eu a tome, aceitando, mas não correspondendo.

— Não assim, pequeno. Nada de só oferecer, pegue o que precisa também.

Seguro suas coxas, separando-as para que ele se encaixe melhor sobre mim. ele me monta, mas não é o suficiente, então giro nós dois, deixando-o por baixo do meu corpo.

— Deixe eu acender a luz — peço.

— Não. Eu gosto do escuro.

— Por quê? Você é lindo.

— Por favor, não preciso de luz. Só da sua voz, Haiukan .

— O que você quer então?

— Beijar e tocar, mas fale comigo.

— Eu quero sentir sua pele na minha — digo.

Eu poderia ajudá-lo a se despir, mas Zanjin  já foi forçado por tempo demais. Chegou a hora de lhe dar escolhas.

Me afasto para dar espaço para que possa sair, se for o que ele desejar, mas ele aproveita a distância e tira a parte de cima do pijama. Sinto a pele e o seus mamilos contra minha pele.

Ao invés de tocá-los, que é o que eu desejo, volto a beijá-lo.

— Não pare de falar. — ele pega minha mão e põe sobre seu rosto. — Não sinto medo quando ouço sua voz.

Apoio um cotovelo de cada lado de seu corpo e baixo a cabeça, roçando o nariz em sua bochecha.

— Você é tão bonito.

Ele me entrega uma risada suave. É a primeira vez que ele ri na minha frente e o som me prende instantaneamente.

— Você não sabe disso? Do quanto é perfeito?

— Eu não me importo em ser bonito. Só quero que você não me solte. Me dê essa noite, Haiukan .

(....)

𝕺 𝖒𝖆𝖋𝖎𝖔𝖘𝖔 𝖊 𝖘𝖚𝖆 𝖔𝖇𝖘𝖊𝖘𝖘ã𝖔Where stories live. Discover now