Trinta

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📌 13 semanas de gestação. 03 de maio de 2023. Guayaquil, Equador.

R A P H A E L

Desde o dia que levantei para viajar sem avisar Tatiana, uma angústia tem tomado meu peito. Eu sei que deixei um bilhete, mas sei lá, é como se eu tivesse deixado de fazer uma parte importante. É como se eu não tivesse me despedido do meu filho. E antes fosse só meu filho. Vai além. Me culpo por não ter me despedido dela também.

Afinal, depois de falar que nós éramos uma família, no calor do sentimento, como sempre, eu a beijei, e o beijo evoluiu. Prometemos que não ia acontecer novamente. Mas aconteceu. E depois eu levantei e saí. Viajei. Me sinto meio babaca. E toda vez que me sinto assim me lembro do Gabigol.

Mais tarde tem jogo e confesso que estou apreensivo. Talvez por toda a bagunça na minha mente. E sabe, sei que Tatiana vai deixar pra lá e fingir que nada aconteceu. Eu vou fazer isso também. Nossa família é assim. E até quando ela vai durar? Não tenho ideia...

Falando nela... meu telefone toca. E ora, ora...

— Oiiii. — Tatiana surge na câmera sentada no chão do meu quarto. Um monte de sacolas ao redor.

— Tudo bem por aí? — não contenho o sorriso.

— Uhum. — brinca com uma mecha do cabelo. — Tive uma emergência hoje.

Porra. Meu coração acelera.

— O que foi? — a apreensão na minha voz é nítida.

— Calma. — sorri nasalado. — Fui no shopping e seu filho precisou de roupas.

— Que susto, Tatiana. — ponho uma das mãos no coração tentando acalmar.

— Desculpa. Usei seu cartão. — ela umedece os lábios.

Isso é o que menos importa pra mim. De verdade.

— Tá tudo bem, me mostra o que comprou. — falo curioso enquanto a morena tira as coisas das sacolas.

São muitas roupinhas verdes de diferentes estilos.

— Dedê amou. Fabinho nem tanto. Tava em ligação com eles. — bate palminhas. Por isso tanta animação.

— E como foi? — instigo.

Não que eu me importe com o Gabigol, mas me importo com Desirée.

— Gabriel deu um cachorro de presente pra Dê e ela queria chamar de Deyvinho mas ele queria Zico. E aí já viu, parecem duas crianças brigando. Ri muito. — mantém um sorriso espontâneo no rosto.

— Deyvinho é mil vezes melhor. — dou ombros.

Ah, como eu amo relembrar a final da Libertadores 2021. Aquele escorregão do Andreas Pereira... O cachorrinho merece o nome do Deyverson.

— Nessa confusão eu não me meto. — ela levanta as mãos em sinal de rendição.

E por um momento ficamos em total silêncio. Olho para as roupinhas que ela está tirando das sacolas e nos entreolhamos.

— Tati. Hum. Sobre aquela madrugada... — tento começar, mas ela me corta.

— Tá tudo bem, Rapha. Nada aconteceu, certo? — continua me olhando, mas bem séria dessa vez.

Respiro fundo. Covarde ou realista? Não sei distinguir o que sou. Covarde por não sustentar meus sentimentos ou realista por saber que se eu insistir provavelmente eu me machuque e machuque ela?

Deserve You • Raphael Veiga [PAUSADA]Where stories live. Discover now