Quatorze

6.9K 746 565
                                    

Meta: 150 comentários (emojis e comentários aleatórios serão desconsiderados)

📌 12 semanas de gestação. São Paulo.

R A P H A E L

— Acorda, Rapha. Vai. Acorda. — a voz de Tatiana entra pelos meus ouvidos enquanto ela bate levemente a mão no meu peito.

Abro os olhos assustado e fito a morena iluminada que me passa tristeza no olhar.

— Teve pesadelo de novo? — vejo ela negar com a cabeça. — Então por que veio me acordar tão cedo?

Tati põe as mãos na cintura. A barriguinha está aparente, e eu não consigo não encarar, porque é como se ela combinasse completamente com essa aparência.

— Eu quero comer cambuci. — faz beiço como se fosse chorar e os olhos realmente enchem de lágrimas. Sento na cama confuso.

— Cam... o que? Que tipo de nome é esse? É uma fruta, um vegetal?

Ela limpa as lágrimas que caem e respira fundo.

— Nunca ouviu falar de cambuci? É uma fruta bem azeda que parece limão. Eu comia muito na chácara que meus avós tinham lá no interior. — parece relembrar. — Esqueci que você é menino da capital e morava em apartamento. — me zoa.

— Não poderia esperar um pouquinho só? E onde vou achar isso? — respiro fundo. Tati senta na cama perto de mim.

— Se você não percebeu você está atrasado para o treino. E não tenho ideia de onde achar isso. — fala tranquilamente.

Puta que pariu.

Olho no relógio, oito horas da manhã, eu já deveria estar saindo de casa.

— Ai, meu Deus, o Abel vai me matar! — levanto correndo em direção ao banheiro. Tati sorri baixo e anda em minha direção.

— Você pode procurar em alguma feira, mas acho difícil você encontrar. Talvez em uma árvore. — ouço a voz dela através da porta.

— Árvore? Eu virei agricultor? Meu Deus, tem certeza que precisa mesmo comer isso? — tento tomar um banho rápido.

— Sim. Seu filho vai nascer com cara de cambuci. E não é uma fruta bonita, parece um disco voador. Espero que só volte pra casa com minhas frutas! — resmunga.

Tô começando a desconfiar que meu filho me odeia tanto quanto Tati acha que ele odeia ela.

— Eu vou procurar, Tatiana. Mas não prometo nada. — respiro fundo deixando a água escorrer pelo meu corpo.

Ouço ela fungar. Porra! Malditos hormônios.

— Você tá chorando? Ai, meu Deus. Eu não sei onde achar essa fruta, entende? — tento explicar ainda dentro do box.

— Você disse que ia cuidar do seu filho, e agora não quer se esforçar pra ir atrás de algo que ELE quer comer. E não, não tô chorando. — funga novamente. Ela tá chorando, sim!

Meu coração aperta um pouco. Termino de tomar banho rapidamente, enrolo a toalha na cintura e assim que saio do banheiro dou de cara com a grávida sentada no chão, a cabeça encostada na parede, tal qual uma cena de drama de uma novela mexicana. Tenho que segurar a risada.

— Levanta, vamos. — estendo uma das mãos enquanto uso a outra pra segurar a toalha.

Tatiana me encara ainda com lágrimas nos olhos.

— Você promete que só volta pra casa com as minhas frutas? — se apoia na minha mão e faz esforço pra levantar.

Não pode negar nada pra grávida. A voz de Irene ecoa na minha cabeça.

Deserve You • Raphael Veiga [PAUSADA]Where stories live. Discover now