Vinte e Nove

6.3K 695 305
                                    

Meta: 180 comentários (emojis e comentários aleatórios serão desconsiderados)

📌 13 semanas de gestação. 03 de maio de 2023. São Paulo.

T A T I A N A

2° dia sozinha em casa. Sozinha não, Irene pode achar que não percebo mas ela tá sempre de olho em mim. Certeza que Raphael mandou ela me vigiar. Então, tento só seguir minha rotina da melhor forma possível. Comecei as aulas de fisioterapia pélvica ontem e já senti todas as minhas forças indo embora, se só alongando já dói, imagina parir uma criança? Eu não quero nem sequer pensar.

Não está sendo tão diferente os dias sem Raphael aqui, já que a maior parte do dia eu já fico sozinha porque ele vai treinar, mas agora, nem sequer Dedê está aqui, então, tô sentindo falta de tudo.

O silêncio as vezes me deixa agoniada, e dormir a noite tem sido até difícil, mesmo nos dias que eu não dormia com o Rapha, só de saber que tem outra pessoa ali, eu ficava mais tranquila. Agora fico a todo instante pensando "se acontecer algo e eu gritar ninguém vai ouvir".

Raphael viajou no dia 01. Ele sequer se despediu porque saiu cedo e deixou só um bilhete escrito a mão colado na tela do meu celular. Bem do jeitinho que ele gosta de ser.

"O trabalho me chama, você tava dormindo e eu não quis acordar, deixa meu filho descansar, e você também. Qualquer coisa me liga (mas liga mesmo). Fica bem, prometo fazer um gol para o grãozinho (e pra você). Beijo, Rapha Veiga."

Não consigo nem sequer explicar tudo que essa mensagem me causou. Até porque ninguém nunca me deixou um bilhete escrito a mão. Ao mesmo tempo a minha culpa por sentir também existe. Não é esse o plano.

Mesmo eu me permitindo agora, no final, eu vou ter que ir embora e vai doer. No bilhete não tem nenhuma menção ao fato de que ele disse que somos uma família. Eu tava exausta mas esse momento não sai da minha cabeça por nada.

Somos uma família até quando? Até cumprirmos o contrato? Somos uma família até quando o neném nascer? Ele sequer vai ter meu sobrenome. O pior de tudo isso é sentir que sim, de uma forma muito estranha, lá no fundo, somos uma família.

Veiga me mandou poucas mensagens desde que viajou, é um jogo importante e na altitude, então ele deve estar evitando distrações. Logo, também não mandei muitas mensagens, tudo que eu menos quero é prejudicar ele com besteiras. Fim do dia ele tem ligado pra ter o momento com o bebê e novamente eu tento não prestar atenção para não sentir tudo aquilo que venho sentindo, mas sem sucesso.

Agora estou aqui me olhando no espelho. Minhas roupas estão deixando a barriga já marcada e poucas coisas a escondem. Visto uma camisa do Palmeiras de Rapha, elas estão virando meus uniformes, porque são confortáveis e folgadas. A calça folgada de moletom eu também não abro mão. Levanto o tecido da camisa pra dar uma olhadinha na barriga já redonda.

— Cara, você tá ficando cada vez maior! — passo a mão por toda extensão da barriga. Me incomoda o fato como Raphael me influenciou a conversar com a barriga. — Se você sente emoções você deve estar feliz de que não tem mais ninguém toda hora falando com você, ok, só eu. — sorrio nasalado. Ainda acho isso extremamente bobo.

Mais cedo fui no shopping sozinha e confesso que foi algo estranho. Estranho porque não conseguia pensar em comprar as coisas só pra mim, eu tive que entrar naquela mesma loja para bebês que fomos logo no comecinho da gravidez e agora comprar uns conjuntinhos masculinos.

Achei um mais lindo que o outro e o cartão que Raphael deixou para emergências foi usado. Depois tenho que explicar pra ele que foi sim uma emergência. Bom, já conhecendo ele esse tanto de meses sei que não vai brigar e sim babar as roupinhas.

Deserve You • Raphael Veiga [PAUSADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora