O Véu

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Autora: Gabriela Bazan Pedrão



Hector acordou assustado, que horas eram? Levantou ainda sonolento e buscou um relógio. 'Merda, dormi demais', o rapaz estava com problemas para dormir desde sua última viagem e por vezes quando deitava para um cochilo rápido, acabava perdendo uma tarde toda. Há duas semanas ele havia estado no Piauí para ver de perto uma escavação que era de seu interesse e muito tinha a ver com seus estudos.

O que viu lá o deixou curioso e desconcertado: fragmentos que indicavam ocupação humana no local do sítio e que pareciam ser utilizados em cultos e rituais. Era um conjunto de itens nunca vistos antes. A coleção encontrada era formada por artefatos feitos a mão, esculpidos em pedra e com muita riqueza de detalhes e minúcia. Eram itens bonitos de serem vistos. Todos continham inscrições incomuns que foram estudadas com afinco, mas não foram identificadas por nenhum pesquisador como nenhuma língua conhecida.

Antes de Hector saber da descoberta, a equipe sofreu com um misterioso surto: assim que as primeiras peças foram encontradas, diversos pesquisadores se indispuseram fortemente. Sofreram fortes alucinações com febres altíssimas, havendo inclusive um falecimento. Algum tempo depois o grupo descobriu através de um cheiro discreto e desagradável, que por ser constante havia sido atribuído à escavação em geral, que os itens estavam envoltos por uma espécie rara de veneno, e que todos que haviam adoecido tinham antes entrado em contato direto com eles. A partir do episódio Hector tomou conhecimento da descoberta e foi até o sítio para ver tudo de perto. Chegando lá se apaixonou pelo que viu: um mistério ao mesmo tempo bizarro e fascinante e que mudava completamente o curso de seus estudos sobre história da escrita.

Levantou da cama para arrumar suas coisas e tomar um banho. A viagem seria longa e tediosa. Juntou a roupa, os textos e atividades que levaria, e com tempo de sobra, sentou para checar seus emails. Aproveitou o momento e foi responder rapidamente uma mensagem que havia chegado pela manhã, sobre a chegada correta de um livro que o rapaz adquirira.

Assim que retornou do nordeste, Hector sentiu a necessidade de estudar e entender mais sobre as civilizações antigas da América do Sul. Em suas pesquisas viu diversas vezes um mesmo livro ser citado, chamado 'Além dos mitos que limitam nossa existência'. O livro tratava de forma misteriosa e fantasiosa a história da região e era repleto de teorias que Hector jamais ouvira falar. Era uma mistura de deuses macabros, cultos obscuros e várias suposições sobre os motivos dessas civilizações se manterem desconhecidas e sigilosas, como se guardassem algum tipo de segredo.

O livro havia sido uma aquisição difícil. O rapaz procurou por alguns dias e não encontrou nenhum rastro de um exemplar a venda. Cadastrou-se em sebos online e fóruns e já havia perdido a conta de quantos lugares preenchera com seu email quando um contato apareceu. Um livreiro enviou-lhe uma mensagem afirmando ter a obra tão procurada e se dispôs a vendê-la. O preço era acessível até demais, parecia ter algo errado. Desconfiado o rapaz pediu informações e fotos ao livreiro, que se recusou e disse ao rapaz que ele tinha o que o estudante precisava, garantiu que estava em boas condições e era o único que poderia oferecê-lo, era pegar ou largar.

Hipnotizado pela possibilidade de ter a obra nas mãos e levado pela empolgação e ansiedade, Hector ignorou a situação suspeita e fechou negócio. Fez um pagamento direcionado ao Sr. Umbral e aguardou ansiosamente a chegada do livro.

Após dias de espera finalmente a encomenda chegou a sua casa. Hector ficou aliviado e feliz por não ter sido vítima de nenhum golpe. Abriu o pacote e conferiu rapidamente a capa, o restante ele deixaria para apreciar depois, não queria abrir o livro que já lhe era tão caro com pressa. A rápida conferência foi o suficiente para identificar a obra e enviar uma resposta satisfeita ao livreiro.

Antologia: Clube de Autores de FantasiaWhere stories live. Discover now