trinta

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Curiosíssima para saber o que vão achar desse.

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Narrador: Lauren

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Apenas segui.

Meus pais falavam e falavam, mas não prestei atenção nem em suas palavras, nem na irritação que fizera com que aumentassem o tom de voz.

Eles estavam certos. Eu quebrei o acordo.

Eu só não me arrependia.

Levantei quando me disseram para ir embora com eles. Tinha deixado um bilhete para Camila aquela manhã, já preparada para fazer aquilo todos os dias até que eles aparecessem.

Eu sabia que ia acontecer.

Não disse nada enquanto estávamos no carro, olhando o mundo que estava perdendo através da janela fechada.

Eu não estava levando nada. Na casa de meus pais já havia coisas o suficiente que não me deixaram levar, já certos de que eu voltaria.

Eu tinha de ser boazinha, apenas isso.

A casa era diferente da que morei a vida toda, mas eu já tinha estado ali no feriado de fim de ano. Eu não sabia onde era, mas, afinal, nem para sobrevivência conseguia me virar com endereços.

Era frustrante!

Fui para meu quarto quando chegamos. Só consegui ficar ali quieta, os olhos fechados para tentar sentir que aqueles lençóis não me incomodavam e não eram os mesmos da cama que ocupava com Camila todos os dias.

Saí para as refeições. Fiz isso porque tinha de fazer, não por fome.

Obedecer.

Obedecer até conseguir voltar para casa. Voltar para Camila, Dinah, Ally, Normani.

Voltar para a faculdade e a padaria na esquina.

Me alimentei disso enquanto engolia a comida posta em meu prato.

Eu só não consegui falar, ou olhar para qualquer lugar e lembrar que não queria estar ali.

Ouvia meus pais falando e falando, mas eu não tinha voz ou vontade alguma de tentar falar. Sentia como se não soubesse me comunicar com palavras, o que fazia sentido, já que muitas vezes ficava assim.

Eles batiam as mãos na mesa, me chamando a atenção, e concluíram que eu deveria estar faltando muito mais às sessões de terapia do que Peter dedurou, o que teria me feito regredir.

— Vamos dar uma volta – me chamavam.

E eu entrava no carro sem coragem de olhar através da janela e ver o que perdi.

Quando Peter me buscou pela primeira vez, pouco depois que acordei, me colocou no carro e disse:

— Eu falei para ser boazinha e continuar.

Não me importei. Não fazia diferença.

— Vamos passar o dia – avisou.

Mas não me importei.

Me concentrei em pensar em como me livrar daquilo.

Eu conseguiria bater nele?

Eu conseguiria sufocá-lo? Com as mãos que seja, em seu pescoço ou vias respiratórias. Com algum pano ou corda.

Não. E sentia que não exatamente porque não tinha coragem, mas porque eu não era tão forte para que ele não conseguisse me conter.

Caminhei para a sala que me encaminharam. Não me ofereceram nada para beber. A cor vermelha era tão forte que olhei apenas para o chão, e me desliguei depois de tirar a roupa.

LIVRO 1 - estranhamenteWhere stories live. Discover now