vinte e nove

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Caminhei a passos largos e firmes. Eu faria o que tinha de fazer. Era uma mulher, uma adulta, e cumpria obrigações independentemente do que eu quisesse fazer, como entrar no carro da polícia e invadir um lugar que me traumatizaria pela vida toda.

Por isso eu coloquei um sorriso no rosto para parecer simpática e segui, meus passos não sendo ouvidos ao bater no chão pelo barulho dos pacientes.

— Estrabao – Katherino me cumprimentou, provavelmente terminando seu turno enquanto eu iniciava o meu.

Não importava, eles nunca me chamavam por Camila Cabello, mesmo que estivesse em meu jaleco.

— Boa tarde, Katho – o cumprimentei – turno agitado?

Ele confirmou com a cabeça.

— Muita saída na emergência – disse – e a neurologia está ganhando, precisamos melhorar o desempenho.

Soltei um risinho.

— É por isso que estou aqui.

— Boa sorte – Katherino disse e saiu.

A psiquiatria e a neurologia tinha uma competição de resolução de casos emergenciais. Nem sempre uma pessoa surtando, gritando e atirando coisas tem problemas psiquiátricos e psicológicos, às vezes é alguma alteração no cérebro como um tumor.

A competição visava diagnosticar de forma mais rápida e correta. Eu, obviamente, era do time da psiquiatria. Mesmo se eu determinasse que um caso é da área neurológica, meu time vencia por ter sido um diagnóstico correto meu.

Mas os outros do meu time eram moscas medrosas. Pareciam ter medo de dar um veredito sobre o que viam que os pacientes tinham. Se vissem que o problema era um corte no dedo ficavam pensando "mas será mesmo? Não sei se podemos bater o martelo".

E eu confiava no meu taco e talvez isso poderia me distrair.

Bati na porta de Doutor Evans e ele pediu que entrasse.

— Senhorita Estrabao – me cumprimentou.

Esse aí eu já tinha desistido. Me conheceu na faculdade por meu último nome e provavelmente morreria me chamando por ele.

— Boa tarde – o cumprimentei.

— Hoje vai para a emergência psiquiátrica. Está um pouco agitada e os neuro continuam sendo mais eficientes fazendo nosso trabalho – suspirou exaustivamente – vai estar com a Joyce e o Emmet.

Joyce e Emmet estavam fixos na psiquiatria, já caminhando na especialização. Nem sempre era na emergência, mas sempre estavam lá.

— Entendi.

O médico me olhou.

— Eu estou bem – garanti antes que dissesse algo – não vou fugir de minha cabeça para sempre, mas enquanto estou aqui eu sou a Doutora Camila Cabello.

Ele sorriu.

— Certo. Pode ir, Doutora Estrabao – autorizou.

Eu não disse?

Que ódio!

Forcei um sorriso, o alimentando pelo fato de que eu gostava de ser chamada de Doutora.

— Com licença – pedi e saí da sala procurando onde estava Emmet.

Não foi difícil achá-lo. Era um cara grande e forte. O encontrei ao pé da recepção olhando uma ficha e me aproximei.

— Boa tarde, Em – o cumprimentei, recebendo um sorriso – o que tem para mim?

Ele pegou uma pilha de cima do balcão e jogou em meus braços.

LIVRO 1 - estranhamenteWhere stories live. Discover now