capítulo 25°- "overdose"

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Liana.

Os dias tem passado e eu ele quase não nos falamos e nem nos vemos. O Terror quase não dorme mais nessa casa e sim,já me procurou para sexo outras vezes. Eu nunca mais levantei a voz para ele,toda vez que passo perto dele eu baixo a cabeça e apaguei o número do Lucas. Ele também dispensou a Dona Benê nas terças,quintas,sábados e domingos,pois segundo ele,como agora eu estava de férias,não havia mais necessidade para dona Benê trabalhar tanto. Ela só trabalha na segunda e quarta aqui agora,na verdade o que ele quer mesmo é me ter sozinha dentro dessa casa dia e noite,para poder fazer o que quiser comigo.

Falta apenas uma semana para o meu aniversário e pensar que passarei mais um ano da minha vida em uma situação pior do que à que eu imaginei que estaria esse ano, me mata por dentro e me causa uma vontade absurda de chorar. Mais um ano sem meus pais e como posso não sentir falta deles? eles sempre foram tudo para mim; sempre me deram o que puderam e agora não estão mais aqui ao meu lado. Eu sinto tanta,tanta saudades!
Acho que nem consigo sequer descrever a tempestade de sentimentos e sensações que meu coração sente. Eles estão presentes,eu sei que estão,aqui dentro do meu coração, mas é diferente. Antes tudo era mais colorido, mais feliz. Quem sabe um dia nos reencontremos! Ah, queria tanto um abraço deles dois ou um beijo ou até escutar a voz forte do papai ou sentir os dedos da mamãe no meu cabelo. Faria tudo, mas tudo mesmo, sem exceções, para tê-los ao meu lado nem que fosse por um só segundo. Mataria de vez esta saudade que tem me incomodado noite e dia.
Nos anos que passaram eu tive a sorte de ter ao meu lado pessoas como Letícia,dona Olga e tia Suzane. Sempre foram muito atenciosas comigo e me preencherem uma grande parte da falta dos meus pais e da angústia de não ser amada e de não ter a atenção de titio nem mesmo nesta data.
Porém,sempre sinto que me falta algo,parece que nunca estou feliz o suficiente. Sempre,sempre grata,mas nunca completa,me falta algo e não é somente a presença dos meus pais.

Haviam se passado algumas semanas e eu ainda estava roxa,não mais tão dolorida,mas ainda roxa. Os dias têm sido péssimos,aguentar calada tudo que ele me submete a fazer é horrível,já pensei até mesmo em me matar para conseguir ficar livre de tudo. Pelo menos ele têm me deixado ir na psicóloga,com supervisão, alguém me segue,discretamente na cabeça do cara,porque eu sempre senti alguém me seguindo.
Contando a psicóloga o possível do que eu posso,ela agora constatou que o sentimento de culpa,da minha parte é nada mais nada menos porque eu o amo e o odeio ao mesmo tempo,estou com dependência emocional segunda ela e…que droga,né?!
Depois da casa toda limpinha e cheirosinha assim como eu depois de um banho relaxante,eu resolvo estudar um pouco. Melhor prevenir do que remediar né?!até porque nada me garante que eu passarei no Enem. Então,vou logo me preparando para um vestibular,ou sei lá,mas nossa,se eu não passar eu ficarei muito triste,visto que criei muita expectativa.
Eram catorze e meia da tarde,dois dias sem que o Terror aparecesse para o almoço ou para dormir em casa. De repente escuto a campainha tocar e estranho,já que as pessoas só vem aqui para falar com ele e já deveriam saber que aqui ele não tá,ou então passariam um radinho,sei lá. Vou até o interfone e coloco no meu ouvido,olhando pela câmera percebo um rapaz com uma arma enorme,era um dos homens dele. O que eles queriam comigo?
Liana:oi?—disse.
***: iae dona,vim te falar só que o Terror mandou te dar uma notícia aí,não muito boa.—ele falava fazendo movimentos engraçados com a mão e o corpo ao mesmo tempo,será que ele não sabe que eu posso vê-lo?
Liana: pode falar.—disse já esperando algum recado paradoxal que o Terror estava mandando que eu fizesse outra vez.
***:teu tio tá malzão no hospital aqui do morro.—ele disse e eu gelo.
Liana: o que ele têm?—já estava nervosa e embora tentando disfarçar,minha voz ainda saiu em tom aflito.
***:ele deu início de overdose. —mas que merda tio.
Liana: você vai me levar lá?—perguntei e se ele dissesse que não,com certeza eu pediria.
Graças a Deus ele disse que me levaria sim,mas pelo o jeito que ele falou pareceu que o Terror não já houvesse mandado. Ele realmente piorou mesmo,antes ele pelo menos tinha essa… "preocupação”  eu diria,de me mandar buscar/trazer/levar para os lugares. Mas agora em tudo ele está diferente depois da última surra,ele falou que mudaria comigo e realmente mudou,está um mostro e eu pior que ele,por não conseguir odiá-lo.
Pego meu celular e ponho dentro de uma bolsa de lado,coloco uma rasteirinha no pé,o celular dentro da bolsa e no corpo um vestido para ficar mais fácil de acabar de me arrumar mais rápido,não tinha tempo de procurar roupa. Peço ao cara para que ele me leve primeiro até a casa de titio para buscar os documentos dele e quando eu entro na casa eu quase não acreditei na situação deplorável que se encontrava. Estava um lixão e eu não estou exagerando. Tem roupas e papéis jogados por todo o lado,a pia uma imundice junto de um mundo de louça suja,tentei não prestar atenção se não eu ia querer limpar tudo agora mesmo. Entro direto para o quarto dele é torço para os documentos importantes dele ainda estarem todos no mesmo lugar que eu guardava e graças a Deus estavam tudo aqui. Pego identidade e CPF somente e espero que não precise de nada mais além disso. Saio de casa junto do cara outra vez e chego no hospital do morro. Fica localizado numa área mais afastada das casas. As ruas para chegar aqui são amplas,abertas,não são cheias de becos e o hospital ficava em um ponto bom para o mar. Não dava pra se ver da janela,mas em determinadas áreas dava para conseguir ver,como por exemplo aqui fora,estava bem longe mas ainda sim era lindo e conseguimos sentir a brisa fresca do mar. O lugar é ótimo,o espaço também,excelente para um hospital,sem contar que era bem estruturado tanto por dentro quanto por fora,magnífico. Como aquele cara conseguiu acertar tanto assim,sendo tão ogro,tão animal e ignorante mas ao mesmo tempo tão prodígio,capaz de criar algo desta magnitude,quem não o conhece jamais diria que aquele cara teve essa ideia brilhante.
Eu agradeço o moço que me trouxe e já adentro no hospital,falando em seguinte com a recepcionista. Dou todos os dados certinho que precisava,ela me pediu para aguardar um pouco e logo mais me chamaram para ver ele. Tio Pedro estava deitado e as condições dele eram péssimas,nem parecia com ele,a barba estava enorme e o cabelo também. Ele estava com aparelhos ligados no corpo e eu não podia entrar no quarto para vê-lo, apenas o observava de loge pelo o vidro da porta. Com alguns segundos a médica que cuidou dele vem até mim,me cumprimentando.
Médica: o seu tio teve um início de overdose por opioides.—ela começou explicando o que era,o que no caso eu já havia estudado por cima,sim,sem precisar,estudava porque gostava. É basicamente o início de uma overdose causada por drogas farmacológicos,ou seja,remédios. Acredito que no desespero por não ter dinheiro para comprar e nem mais a possibilidade fácil de encontrar dentro do morro,já que o Terror proibiu ele,tio Pedro decidiu tomar remédios para se drogar.—Por pouco ele não morreu.—ela continuou.—Vai precisar ficar alguns dias internado,você não precisa se preocupar,ele está fora de risco. Mas se voltar ao mesmo hábito,pode não ter mais a mesma chance.—a maneira que ela falou me fez ficar preocupada,pelo o fato de não ter o que eu pudesse fazer,ainda mais a essa altura. — Outra coisa…Ele não poderá ficar internado aqui,você teria como arrumar um jeito de levar ele para um hospital fora do morro?—ela disse e eu estranhei de imediato,porque ele não pode ficar aqui se esse é o hospital do morro?
Liana: como?por que ele não poderá ficar aqui?—perguntei.
Médica:o Terror não liberou.—ela fez uma cara de lamento.—Desculpa,mas ele quem manda aqui,não podemos fazer nada.

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