PARECE UM SONHO

1K 87 16
                                    

Eliza foi acordada pela luz do sol, que fazia seus olhos arderem e iluminava cada centímetro do quarto em que estava. Quando sua visão voltou ao normal, notou três mulheres a olhando atentamente. Usavam vestidos medievais simples, de cores claras e mangas longas, embora fizesse calor. Uma delas tinha sido a responsável por abrir as cortinas e deixar a luz entrar. Era mais velha que as outras e apenas ela ousava encará-la com um olhar sério.

- Bom dia, senhorita Elizabeth - disse, pegando Eliza de surpresa com a troca de nome, mas que ela resolveu ignorar por enquanto.

O que a preocupava de verdade eram as roupas e até mesmo o quarto, decorado com um papel de parede amarelado e florido, e mobiliado com móveis de madeira maciça. Pareciam de uma época muito diferente e distante da sua.

- Isso aqui é uma pegadinha? - perguntou, abrindo bem os olhos e se levantando da cama, procurando por câmeras escondidas. Onde estão as câmeras? Cadê o Yoon?

- O que são câmeras, senhorita Elizabeth? E quem é esse Senhor Yoon? A senhorita está bem? Deixe-me ver se não está com febre - a mulher mais velha questionou apreensiva, chegando mais perto dela para sentir a temperatura de sua testa.

- Meu nome é Eliza, só Eliza. Cadê o Yoon? Eu vou matar ele por pregar essa peça em mim!

- Venha, senhorita. Vamos te ajudar a se vestir, senão vai se atrasar para a Ópera e vosso pai vai ficar furioso - a mulher afirmou, ignorando o comportamento estranho que sua senhorinha estava tendo aquele dia. Estava ali para cumprir o seu papel e nada mais.

- Eu não preciso de ajuda! - Eliza vociferou irritada com toda aquela situação. Cadê o meu marido? - perguntou por fim, quem sabe assim elas entenderiam de quem estava falando.

- Marido?! A senhorita ainda não casou-se com o Lorde Francisco. Está apenas noiva dele. O que está acontecendo, Srta. Elizabeth? - a mulher indagou, muito assustada.

- Lorde Francisco? Quem é esse? Como ele é? Você pode me contar? - Eliza a interrogou, tinha esperança que esse Lorde Francisco fosse na verdade Yoon-gi.

- Lorde Francisco é um viúvo muito bem apessoado, como a senhorita bem sabe. É um homem de muitas posses. Por que a pergunta? A senhorita não se lembra de seu noivo? Está se sentindo mal?

- Viúvo... - Eliza pensou alto. Quantos anos tem esse tal Lorde Francisco?

- Lorde Francisco tem 58 anos. Pobre homem, perdeu a esposa tão jovem... - a mulher falou, dando um suspiro alto e arrastado.

- 58 anos?! Estão tentando me casar com um velho gagá?! - Eliza explodiu.

Com certeza aquele homem não era Yoon-gi e não fazia ideia do que estava acontecendo ou do que faria se tentassem casá-la com ele.

- Srta. Elizabeth! - a mulher a repreendeu, indignada. Nunca a vi se portando dessa maneira. Vosso pai ficará muito desgostoso se souber desse seu comportamento inadequado! Por acaso perdeu o juízo?!

Eliza deu de ombros. Logo descobriu que precisava sim de ajuda para se vestir. Não seria capaz de vestir tantas camadas de roupas sozinhas. Muito menos de fechar o terrível espartilho. Se perguntou se ao menos conseguiria sair viva daquela casa, com aquele negócio a apertando e sufocando.

De repente, se viu em um porão velho. Um jovem rapaz tocava um piano requintado que não combinava com a pobreza do lugar. Quando o viu, o seu coração começou a acelerar, quase saindo pela boca. Mas, fora os cabelos longos e escuros, não se parecia em nada com Yoon-gi. Não tinha os olhos puxados ou mesmo o jeito acanhado. Ainda assim, Eliza soube que de alguma forma era ele, pois não havia outra pessoa que fizesse o seu coração disparar daquela forma. Ela o amava, ainda que não reconhecesse a sua aparência.

- Precisa de algo, senhorita? - o rapaz perguntou sem tirar os olhos do piano. Tinha percebido a presença dela sem precisar olhar para trás.

- Qual é o seu nome, senhor? - Eliza perguntou sem pensar duas vezes.

- Guilherme Moraes. Encantado. Senhorita...? - o rapaz respondeu, se virando para finalmente olhá-la nos olhos.

Eliza não soube o que responder, ao invés disso, tomou coragem para perguntar o que realmente queria.

- Senhor, me desculpe a pergunta, mas já nos conhecemos?

- Bem, embora a senhorita me pareça um tanto familiar, devo estar enganado. De certo não frequentamos os mesmos ambientes. De onde eu, um reles pianista, conheceria a senhorita? Só se for dos meus sonhos... - o rapaz respondeu confiante, fazendo Eliza corar com a última frase.

- O senhor é muito lisonjeiro - Eliza afirmou, cobrindo o sorriso com as mãos.

Acordou repentinamente, com o coração apertado. Até em seus sonhos não podia viver o seu amor plenamente. Dessa vez, ela era uma moça rica e Yoon-gi um rapaz com quem nunca poderia se casar. Mesmo em seus sonhos, nunca poderia andar de mãos dadas com ele na rua, nunca poderia dizer ao mundo que era sua esposa.

- O que foi? - Yoon-gi perguntou, a tirando do transe e a fazendo perceber que tinha voltado à realidade, onde era seu marido, deitava ao seu lado na cama e a olhava com um olhar preocupado.

- Nada, só tive um sonho muito estranho - Eliza contou, esfregando os olhos com as mãos e se certificando de que estava acordada.

- Eu também - Yoon-gi confessou, pegando Eliza de surpresa. Eu sonhei que eu amava você, mas não podíamos ficar juntos porque éramos de classes sociais diferentes. Você não parecia você e nem eu era eu mesmo, mas eu sabia que era você, porque eu te amava como amo agora...

- Eu não acredito que tivemos o mesmo sonho! - Eliza afirmou surpresa.

- Eu já tive esse tipo de sonho outras vezes. Eu sempre sentia um amor muito forte e depois acordava vazio e triste porque sabia que não sentiria aquilo de novo. Quase sempre eu tentava voltar, mas eu nunca consegui. Mas quando eu te conheci, eu senti aquele sentimento de verdade pela primeira vez e agora quando estou acordado, parece que estou sonhando.

- É incrível, não é?! Eu nunca achei que amaria ninguém dessa forma. Às vezes parece um sonho.

- É, amar você parece um sonho - Yoon-gi respondeu, fazendo Eliza corar.

O coração dela começou a disparar como na primeira que o viu. Sentia um amor que não cabia em seu peito, que chegava a doer e ainda assim era bom. Teve medo de beijá-lo e então quebrar a barreira do sonho mais lindo que já teve na vida. Acordando na melhor parte, como sempre acontecia, e o que era pior, correndo o risco de acordar sem Yoon-gi ao seu lado. Mas, tinha que arriscar, pois de outra forma sentia que poderia morrer. Então, o beijou lentamente, querendo aproveitar cada segundo daquele beijo que poderia ser o último deles e quando abriu os olhos, ele continuava ali. Sorrindo ao olhá-la, fazendo seu coração parar por um segundo e voltar a bater. Se sentiu a pessoa mais sortuda do mundo, pois nunca mais se sentiria triste por ter acordado de um sonho bom.

Nossa vida agora | SUGAWhere stories live. Discover now