Capítulo 40

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No caminho de volta para São Paulo, Tobias percebeu que ela estava pensativa. Mexia na aliança, olhava o lado de fora, vez ou outra deixava um sorrisinho aparecer. Mas, no geral, ela estava quieta. A cabeça de Tobias ainda girava com seu descobrimento da noite anterior, mas agora sua preocupação era deixar sua irmã de bandeja ir ficar na casa daquele homem.
— Eu vou te tirar daquela casa, você sabe, não sabe? — ele perguntou sem conseguir evitar.
Angélica olhou para ela com um sorriso e apertou o ombro de Tobias.
— Eu sei... quando Miguel me disse que vocês estavam investigando tudo por conta própria minha vontade era gritar com vocês... mas depois eu pensei que sou uma pessoa de sorte por ter uma família tão acolhedora.
Tobias segurou a mão dela e beijou delicadamente.
— A gente te esperou muito, minha irmã. Consegue imaginar nossa dor em ter que te deixar ir?
Angélica ficou quieta. Deveria ser tão dolorido para eles quanto para ela. Quando chegaram na mansão, Bernardo já estava com o carro parado na porta de entrada da casa, esperando com os braços cruzados. Ramiro estava na frente dele, na mesma posição. Fernanda saia de dentro da casa com suas malas.
— Uau, ele está me expulsando da minha própria casa. — Angélica falou, tirando o cinto enquanto Tobias desligava o carro.
— Nosso pai deve ter dito que você passou a noite em um hotel. — Tobias então deu um cartão para ela, de um hotel de luxo não muito longe da casa deles. — Fale que você estava aqui se ele quiser ligar para confirmar. Eu vou ligar lá, meu amigo é dono do lugar.
— Esse hotel é um absurdo de carro, Tobias.
— Fale que eu te dei de presente. — Tobias falou antes dos dois descerem do carro.
Bernardo a olhava sério, mas diferente das outras vezes, não sentiu medo. Aquele anel em seu dedo parecia lhe dar forças que vinham de tudo que era divino. Miguel estava com ela, mesmo não estando, isso Bernardo jamais poderia tirar dela.
— Onde estava? — ele perguntou, grosso.
— Em um hotel, descansando. — ela falou no mesmo tom.

— Então se despeça de sua família, estamos indo para casa. — Bernardo virou para Ramiro com um sorriso sarcástico e estendeu a mão. — Até logo, Ramiro.
O homem nada respondeu, voltando sua atenção para a filha e a abraçando. Bernardo revirou os olhos e entrou no carro, esperando enquanto seu motorista colocava as malas dela no porta malas.
— Você tem certeza do que vai fazer? — Ramiro perguntou, os olhos com lágrimas enquanto a segurava com força.
— Tenho, pai. — quando se afastaram, Angélica tocou o rosto dele. — Se não der certo eu posso voltar, não posso?
Ramiro riu e secou os olhos.
— Claro que pode, eu vou esperar de braços abertos você voltar.
— Então está certo.
Angélica abraçou Fernanda, a loira nada lhe disse, apenas a encarava com os olhos vermelhos de chorar. Tobias puxou Angélica para um abraço enquanto encarava o carro de Bernardo com ódio.
— Vai passar rápido. — ele sussurrou no ouvido dela e Angélica o apertou ainda mais.
A ruiva entrou no carro de Bernardo e o motorista bateu a porta. Seu destino estava feito até que se mostrasse o contrário. E ela esperava muito que se mostrasse o contrário. O motorista começou a dirigir para fora da mansão, Bernardo levou a mão asquerosa até o rosto delicado de Angélica, acariciando. A ruiva ficou tensa com o toque, e Bernardo riu.
— Não se preocupe, eu vou cumprir minha parte, não vou te tocar.
— Devo deduzir que deve ter centenas de amantes.
— Tenho, claro. — a mão se afastou e ele pegou o celular para olhar alguns e-mails. — O que eu quero você não pode me dar.
Quando eles chegaram na grande cobertura, Bernardo foi direto para o escritório. Logo um homem vestido de terno se aproximou.
— Vou levar suas malas até seu quarto, senhora.
Ela aproveitou o momento para olhar ao redor. A decoração era totalmente diferente do que ela imaginava. Era clara, com móveis elegantes, parecia até haver uma presença feminina morando ali tamanha era a organização. Ela parecia estar em cenário de novela. Subiu até o quarto que seria seu, entrou e fechou a porta atrás de si.

Deitou-se na cama, se largando naquela cama que não era tão confortável, com um lençol que parecia pinicar. Bernardo tinha escolhido bem as coisas para a incomodar. Fechou os olhos, se lembrou de sua família, de Berenice, de Miguel... fazia isso por todos porque os amava, se sacrificaria até o limite para protege-los. Ela amava, por isso cuidava.
Abriu os olhos e olhou para a aliança. Era linda, e simbolizava tanto. Angélica estava noiva... noiva de Miguel. O amor de sua vida, o homem que tinha virado tudo de ponta cabeça. Se lembrou da noite no sítio, de como se amaram de maneira tão intensa, tão diferente. Ousada até, ela se lembrou com um sorrisinho. Assim que pudessem, gostaria muito de repetir aquilo.
De repente a porta do quarto se abriu e Angélica se sentou rapidamente na cama. Bernardo a encarou suspeito.
— Eu vou passar o dia no escritório, não me perturbe. — ele disse seco.
— Não pretendia. — ela retrucou.
— O jantar aqui é servido às 19h, quero você bem bonita e contente.
Ela revirou os olhos e ele saiu do quarto.
E assim como foi combinado, no horário marcado ela descia as escadas para o encontrar na mesa de jantar. Ele estava em pé a esperando.
— É um jantar, não um lanche da tarde. — ele criticou ao vê-la de moletom velho.
— Então vamos jantar, minha roupa é do de menos.
Angélica se sentou na mesa e se cobriu com o guardanapo. Olhou para ele, irônica.
— Não vai se sentar, querido?
Bernardo respirou fundo e foi até o seu lugar do outro lado da mesa. Começaram a comer em silêncio, mas ela sabia que estava sendo observada, cada movimento seu sendo analisado como documentos importantes. Não sabia como agir, mas não se deixaria abalar pelo olhar duro daquele monstro.
— Em qual hotel ficou? — ouviu a voz dele chamou sua atenção.
Bem que Tobias estava adivinhando.
— Palácio Tangará.
O olhar dele foi surpreso, mas ela estava preparada para isso.
— Não sabia que as assistentes na Brás ganhavam tão bem. — ele comentou irônico enquanto tomava seu vinho.
— Tobias me deu de presente. — ela disse simplesmente.

Bernardo apenas a encarou e ela sentiu como se sua mente estivesse sendo invadida. Involuntariamente começou a brincar com o anel em seu deixo por baixo da mesa. Ele então a surpreendeu, pegando o celular, mexendo o dedo algumas vezes e então levando o telefone a orelha. O olhar duro nunca desviou do dela, e ela estava tão petrificada que também não foi capaz de olhar para outro lugar.
— Boa noite, eu sou noivo de uma hospede que ficou hospedada aí na última noite, ela está aqui desesperada porque acha que perdeu um colar que eu a dei, você poderia confirmar para mim?
Angélica engoliu seco.
— Nome? Angélica Viana. — ele respondeu.
Depois do que pareceu uma eternidade para ela, Bernardo voltou a conversar com o homem.
— Não ficou no quarto? Está bem, vou pedir para ela procurar melhor nas coisas dela. — Bernardo então desligou o telefone e colocou ao lado de sua taça, voltando a comer como se nada tivesse acontecido.
Ela admirava suas habilidades de atriz, porque naquele momento Angélica queria chorar de alívio.
— Seu irmão deve gostar muito de você. — ele falou enquanto levava o pedaço de carne a boca.
— Gosta. — ela respondeu simplesmente.
Na segunda-feira, Miguel apareceu no mercadão com um humor um pouco melhor que os outros dias. Berenice estranhou, ele tinha andado tão agitado nas últimas semanas, saindo do serviço em horários tão aleatórios. Ele então se aproximou dela e sorriu.
— Bom dia, Berenice.
— Bom dia, Miguel. Está com uma cara ótima! — ela falou contente.
Ele então olhou para os lados antes de se aproximar bem, como se fosse contar um segredo.
— Eu preciso te contar uma coisa, mas não pode ser aqui. Posso ir até sua casa na hora do almoço? O Hugo cuida aqui para nós.
— Claro! Agora fiquei curiosa! — ela falou sorrindo. — É coisa boa?
Miguel coçou a cabeça antes de responder.
— É e não é... é sobre a Angélica.
O sorriso de Berenice foi substituído por um ar de preocupação.
— O que aconteceu com a minha amiga, o que aquele homem fez com ela? — ela perguntou rapidamente e Miguel a segurou pelos ombros para a acalmar.

Durante o almoço, Miguel atualizou Berenice sobre o básico, o que tinha a ver com eles mesmo. Preferiu não falar sobre Ramiro, pois era algo muito mais complicado do que a carreira de um garoto no futebol. A morena não conseguiu segurar as lágrimas enquanto segurava uma foto das duas tirava no mercadão.
— Ela fez isso por nós... — Berenice sussurrou.
— Fez, por isso ela se afastou de todo mundo... o que ela fez com você não foi muito diferendo do que ela fez comigo.
— E como você sabe disso?
— Eu e Tobias andamos investigando por nossa conta o que poderia estar acontecendo, foi assim que descobrimos do contrato do Caio e dos seguranças no meu sítio.
Berenice deixou a foto de lado e segurou a mão de Miguel.
— E ela foi morar naquela casa, por que ela não voltou para nós?
— Ainda não acabou, Berenice. — ele disse triste. — O importante é você saber... eu estou fazendo de tudo para trazê-la de volta.
Berenice sorriu para o amigo.
— Sabia que não ia desistir dela.
— Nunca... — ele sorriu de volta.
Bernardo estava em sua empresa, tinha deixado os seus homens atentos sobre os movimentos de Angélica. Agora ela estava dentro de sua casa, precisava ficar de olhos bem abertos. Até agora a ruiva não tinha saído do quarto, era o que um de seus homens tinha lhe dito.
Seu telefone tocou, uma ligação que ele estava esperando a tarde toda.
— Diga. — ele falou, sem tirar os olhos dos documentos que lia.
— Confirmamos aquilo que queria, patrão.
Bernardo abriu um sorriu e se inclinou na cadeira, relaxado.
— Ótimo! Pois prossigam com aquilo que eu falei.
— Já está feito, chefe.
Bernardo desligou o telefone e sorriu para a foto que Angélica que agora ele exibia com gosto em seu escritório.
— Ah, meu amor... não tente me enganar... eu avisei...

Chão de GizWhere stories live. Discover now